Najaf, capital da província de An Najaf é uma das maiores cidades do Iraque, com uma população estimada em 2013 de cerca de 1 milhão de habitantes, se localiza a cerca de 160 quilômetros ao sul de Bagdá. Sendo o local de enterro de Imam Ali Ibn Abi Talib, a segunda figura mais importante do Islamismo, a cidade agora é um centro de peregrinação da religião muçulmana, sendo visitado por milhões de muçulmanos de várias partes do mundo.
O santuário Imam Ali, é considerada pelos xiitas como o terceiro local mais sagrado islâmico, sendo a cidade, a capital espiritual do mundo xiita e o centro do poder político xiita no Iraque. Estima-se que somente Meca e Medina recebem mais peregrinos muçulmanos. Imam Ali Ibn Abi Talib era primo e genro do Profeta Muhammad que governou o Califado Islâmico de 665 a 661, e foi o primeiro homem a aceitar e a se converter ao islamismo.
Nesta cidade sagrada, está localizado o vale de Wadi al-Salam (que significa Vale da Paz em árabe), que também é o nome do cemitério islâmico localizado em uma área de dez quilômetros quadrados, e é considerado o mais antigo e o maior cemitério do mundo, ocupando cerca de 13 por cento da área da cidade.
Estimasse que estão enterrados ali, mais de cinco milhões de corpos. Se dividirmos a área do cemitério pelo número de ocupantes, temos cerca de 1,2 metros quadrados por pessoa. Como tem estradas, cercas, construções e grandes mausoléus no cemitério, em média, cada túmulo terá menos que um metro quadrado. Wadi al-Salam é também o único cemitério do mundo, onde os enterros continuam sendo feitos, desde que foi aberto, há mais de 1.400 anos, e devido aos constantes conflitos que ocorreram no país nos últimos anos, estima-se que 500.000 novos enterros são feitos a cada ano.
O cemitério tem importância na crença xiita, pois foi dito que as almas de todos os homens e mulheres fiéis serão movidas para lá, não importa onde seus corpos foram enterrados. Muitos profetas, reis, príncipes e sultões encontram-se neste cemitério, incluindo o do Profeta Hud, o Profeta Saleh, e o Ayatullah Sayyid Muhammad Baqir al-Sadr. A tradição xiita afirma que Abraão comprou terras em Wadi al-Salam e que Imam Ali acreditava serem uma parte do céu.
Os muçulmanos de todo o mundo querem ser enterrados em Wadi al-Salam, pois os princípios fundamentais do Islamismo diz que só Deus pode perdoar os pecados. Na melhor das hipóteses, alguns acreditam que o enterro em terrenos sagrados pode aliviar a contabilidade de uma pessoa no dia do julgamento. Alguns rituais realizados antes do enterro incluem o corpo sendo lavado, embrulhado e levado para dentro do santuário de Imam Ali e feitas as orações fúnebres. Depois o falecido será levado para serem feitas três voltas ao redor do santuário, para então se dirigir ao local do sepultamento, com versos do Alcorão sendo recitados até o local.
Wadi al-Salam contém túmulos geralmente construídos com tijolos cozidos e gesso e as lápides se elevam em diferentes níveis. Entre as lápides estão também, as criptas de famílias numerosas, construídas pelos ricos, muitas vezes cobertas por cúpulas. Há também, criptas subterrâneas, onde na superfície só é construída um pórtico cobrindo a escada. Túmulos dos anos 1930 e 1940, têm seu próprio estilo, com alturas que chegam a dez metros, com topos arredondados, para que possam ser localizados de longe.
Os libaneses possuem uma parte do cemitério – uma seção dedicada às famílias e até mesmo de aldeias inteiras, como a de Jabal Amel, situada ao sul do Líbano. O primeiro enterro libanês em Wadi al-Salam foi feito em 1964, quando foi enterrado Sheikh Mohammad Taqi Sadiq. O cemitério também recebe corpos do sudeste da Ásia, Índia, Paquistão, Irã, países árabes do Golfo e muitas partes do Iraque.
Durante a invasão do Iraque em 2003 por tropas americanas, combatentes armados da milícia iraquiana frequentemente usaram o cemitério para se esconder e emboscar unidades inimigas que se aproximavam. Uma vez que o local era cheio de passagens sinuosas e mausoléus subterrâneos, o exército americano não conseguia controlar a área. Atiradores iraquianos conheciam bem os caminhos e se escondiam nos estreitos espaços entre as tumbas, ou até dentro delas. Muitos locais no cemitério sofreram ataques e até hoje se pode ver túmulos e mausoléus destruídos, com restos empilhados ao longo das estradas que cruzam o cemitério.
A violência que sobrepujou o Iraque desde 2003 e o alto número de mortos, levou à uma expansão maciça do cemitério, aumentando em 40 por cento e em três quilômetros quadrados o tamanho do cemitério. Wadi al-Salam cresceu a cada ano desde esse período, primeiro com os confrontos contra as forças dos Estados Unidos, depois durante as guerras sectárias de 2006-2007, quando xiitas e sunitas se mataram à vontade, e finalmente nas batalhas de 2008 com o exército iraquiano.
A partir de 2014, coincidindo com o conflito com o Estado Islâmico, tem sido relatado que os espaços no cemitério estão se esgotando. Os combatentes xiitas frequentemente visitam o santuário de Imam Ali antes de irem para as batalhas e pedem para serem postos para descansar em Wadi al-Salam, caso sejam mortos, como recompensa por seu sacrifício. Wadi al-Salam está desde 2011 na lista da UNESCO para o registro como um local de patrimônio do mundo.
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