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As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Todos os dias às quatro horas da manhã, uma trilha de figuras vestidas de branco emergem da escuridão profunda. Silenciosamente, a multidão faz o seu caminho pelo chão batido, por baixo de um conjunto de estruturas antigas ao ritmo lento das batidas de tambores de pele.

Pode parecer estranho, mas é uma cena comum no vilarejo de Lalibela, uma pequena vila numa região remota ao norte da Etiópia, na Zona Semien Wollo da divisão étnica Amhara, ou kilil a 2.500 metros acima do nível do mar, a cerca de 645 quilômetros de Addis Abeba, na África. É famosa pelas suas onze igrejas e um mosteiro, sepulcros e outros lugares sagrados escavadas dentro e fora de uma única pedra, feitas há 900 anos atrás, declaradas pela UNESCO como Patrimônio da Humanidade. O templo de São Jorge, um monólito em forma de cruz grega, é o principal.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Tais criações tornaram esta cidade de montanha em um lugar de orgulho e peregrinação para os adoradores da Igreja Ortodoxa da Etiópia, atraindo 100.000 visitantes todos os anos. Tais igrejas monolíticas não são ruínas de um antiga civilização, assim como as pirâmides do Egito. Elas estão em uso, e todos os dias, todas as manhãs, há um serviço religioso em cada uma das igrejas.

Durante o reinado de São Gebre Mesqel Lalibela (um membro da Dinastia Zagwe, que governou a Etiópia no final do século 12 e início do século 13), a atual cidade de Lalibela era conhecida como Roha.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Lalibela significa “as abelhas o obedecem”, pois o relato conta que ao nascer um enxame de abelhas pousou sobre ele sem causar-lhe nenhum dano. Ainda jovem Lalibela alega ter visões e passar por períodos de retiro. Em 1180 fez uma peregrinação a Jerusalém. Ao retornar, Lalibela relutante assumiu o trono do seu meio irmão Harba com o apoio do clero que se opunha aos contatos de Harba com o papado. Assumiu o nome Gabra Masqal, Servo da Cruz, e começou o seu reinado com um longo jejum.

Lalibela disse ter visto Jerusalém e então tentou construir uma nova Jerusalém como sua capital em resposta à captura do antigo Jerusalém pelos muçulmanos em 1187. Como tal, muitos locais têm nomes bíblicos – até mesmo o rio da cidade é conhecido como Rio Jordão. Permaneceu como capital de Etiópia do final do século 12 até o século 13.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Os trabalhos para esculpir as igrejas começaram, obrigatoriamente, pelo teto. Retiraram toda a rocha em volta do futuro templo para deixar apenas um bloco compacto de pedra. Depois, dedicaram-se à fachada, dando forma ao monumento. Em seguida, os pedreiros entraram na igreja e esvaziaram os espaços necessários para criar salas, santuários e nichos. As portas foram emolduradas, os pilares cinzelados e arcos desenhados. Tudo foi feito ao longo de apenas 23 anos, pouco depois do ano de 1200. A lenda conta que foi necessário o esforço de 20 mil homens.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

As igrejas estão próximas umas das outras, em dois grupos de cinco templos, interligados por túneis. Não é preciso voltar à superfície para circular entre elas. Os engenheiros de Lalibela também consideraram a necessidade de água para os monges residentes e vários poços foram perfurados.

Diz a lenda que estes trabalhos foram tão árduos e difíceis que o rei teria sido auxiliado por uma centena de anjos. Outra lenda conta que um grupo de cavaleiros templários teria ajudado a completar a tarefa, outra diz que as igrejas foram construídas apenas pela civilização medieval etíope e álbuns acadêmicos acreditam que foram construídas antes do rei Lalibela e deste rei ganharam apenas o seu nome. Lalibela tornou-se um lugar sagrado para os cristãos ortodoxos etíopes. E as igrejas e os monastérios nunca deixaram de ser habitados. A religiosidade mantém-se viva em desde o início do século 13.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

O primeiro europeu a ver essas igrejas foi o explorador português Pêro da Covilhã (1460 – 1526). O padre português Francisco Álvares (1465 – 1540), que acompanhou o Embaixador de Portugal na sua visita a Lebna Dengel nos anos 1520. Sua descrição dessas estruturas conclui:

Cansado de escrever mais sobre estes edifícios, porque me parece que não serei acreditado se escrever mais … Juro por Deus, em cujo poder estou, que tudo o que escrevi é a verdade.

Três eventos religiosos são celebrados atualmente no local: a visita dos três Reis Magos ao Menino Jesus, o batismo de Jesus Cristo no rio Jordão e seu primeiro milagre nas núpcias de Canaã.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Visitar estas Igrejas Coptas cavadas na rocha é uma experiência única. Pode-se assistir ao culto nelas. Em uma delas pode-se admirar a Coluna da Luz na qual Jesus Cristo teria se apoiado durante seu aparecimento ao monarca Lalibela. Seus muros estão enfeitados com magníficas pinturas do estilo bizantino, geométrico ou com cenas da Bíblia. Também se podem contemplar arcos, colunas e arcas com relevos. Algumas das igrejas e pontos relevantes:

Igreja de Yimrehane Kristos – Possivelmente do século 11, construída à moda aksumita. É uma igreja monolítica numa caverna natural e é internamente e externamente decorada com esculturas de madeira e pinturas no seu teto. Existe um edifício separado situado em frente do edifício principal da igreja, que se acredita ser o palácio do rei Yimrehane Kristos.

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Bete Medhane Alem – Considerada a maior igreja monolítica do mundo, aqui se guarda a Cruz de Lalibela e é provavelmente uma cópia de Santa Maria de Sião em Aksum.

Bete Maryam – Possivelmente a mais antiga de todas, de planta quadrangular. Dentro pode-se encontrar um pilar de pedra no qual o Rei Lalibela escreveu os segredos da construção dos edifícios. Está coberta com panos e só sacerdotes podem olhá-lo.

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Bete Golgotha – conhecida pela arte, que inclui gravuras de santos em tamanho real nas paredes. Contém também o túmulo do Rei Lalibela, em cima do qual está uma arca.

Capela de Selassie – A mais sagrada de Lalibela. Uma cortina que cobre dois terços da parede permite que se vislumbre do interior da capela. As nervuras que decoram o teto, em forma de uma cruz podem ser visíveis. Este local santo raramente está aberto; mesmo os sacerdotes raramente entram e só é permitida a entrada a pouquíssimos visitantes.

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Bete Debre Sina (Mika’el) – encontra-se na orientação este/oeste e tem um presbitério elevado. O Santo dos Santos fica a este. Por isso, pode-se dizer que se trata de uma igreja independente, apesar de estar ligada a Bet Golgotha.

Bete Meskel – é uma igreja semi-monolítica decorada com dez arcos na fachada da frente, e com a cruz processional².

Bete Danaghel – é uma minúscula capela de 8,6 m de comprimento e 3,6 m de altura e ligada a uma das lendas de Lalibela. Os sacerdotes dizem que a capela foi construída em honra dos martirizados por Juliano. O dia memorial dos mártires é o 10º de Hedar (Novembro) no calendário etíope.

Bete Giyorgis – Dedicada ao santo nacional da Etiópia, está isolada do resto das igrejas. Situada num profundo fosso, só pode ser acedida através de um túnel. A igreja é descrita como “a mais elegante” e “refinada”, na sua arquitetura e construção. A forma da sua planta é a de uma cruz.

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Bete Emanuel – Os historiadores de arte a a mais bonita e impressionante igreja, esculpida de um bloco 18 x 12 x 12 m. A igreja é um exemplo quase clássico do estilo aksumita apesar da planta seguir o padrão de uma basílica.

Bete Mercurios – Possivelmente uma antiga prisão, não seguindo nem a planta nem a orientação convencional. O interior parece não tem decoração apesar de ter um belo mural representando seis reis ou santos em vestuário real, com magníficas cruzes nas mãos. Belas pinturas adornavam o lugar, mas para fins de preservação foram removidas para o Museu Nacional de Adis Abeba.

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Bete Abba Libanos – Diz-se que a mulher de Lalibela — Maskal Kebra, com a ajuda dos anjos, criou esta igreja numa noite. É dedicada a um dos mais famosos santos monásticos da Igreja Ortodoxa Etíope, Abba Libanos.

Bete Gabriel-Rufa’el, possivelmente um antigo palácio real. A parte mais impressionante desta igreja é a sua fachada monumental. Dentro da igreja há uma cisterna subterrânea e um corredor cheio de pilares, onde a água desce ou sobe, conforme as estações de seca ou chuva.

Túmulo de Adão – Simples, trata-se de um enorme bloco retangular de pedra que se ergue num profundo fosso em frente a face oeste de Bete Golgotha. O bloco é oco, servindo o rés de chão como entrada oeste para o grupo norte das igrejas. A única decoração deste “túmulo” é uma cruz.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

Mosteiro de Asheton Maryam – fica no alto de uma montanha. A igreja foi escavada na falésia. Dentro da capela do mosteiro pode se ver algumas cruzes e manuscritos.

Arogi Bethlehem – se encontra um túnel e trata-se de uma padaria construída para fazer o pão sagrado. A padaria não está mais em uso, mas o edifício está razoavelmente bem conservado.

As igrejas de pedra de Lalibela, na África

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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