Você já ouviu falar da “duplitetura”? Esse termo é utilizado para descrever uma tendência arquitetônica que tem surgido, especialmente na China, desde a década de 1990. Trata-se da replicação de monumentos icônicos e até mesmo de cidades inteiras, utilizando frequentemente materiais de baixa qualidade. Essa prática peculiar acaba por clonar, de forma inusitada, séculos de história europeia.
A tendência da duplitetura também se espalhou para a Turquia, um país que se situa entre a Europa e a Ásia, mas que tem uma forte influência oriental. Na vila de Burj Al Babas, localizada em Mudurnu, a cerca de 290 quilômetros a sudeste de Istambul, 732 mini castelos quase idênticos se destacam entre as montanhas da região.
Essas construções foram projetadas para trazer toda a magia e encanto dos castelos romenos, alemães e de outros países europeus que existem há séculos. As torres cilíndricas com lucarnas e as torres quadradas com balaustradas foram inspiradas em particular na Torre de Gálata em Istambul, construída no fim da Idade Média pelos genoveses, e na chamada Torre da Donzela, localizada em uma ilha no estreito do Bósforo, a poucas centenas de metros da cidade.
A deslumbrante vila de Burj Al Babas parecia um sonho, com centenas de casas que evocavam pequenas mansões francesas e castelos góticos diretamente saídos de contos de fadas e filmes da Disney, prontas para serem habitadas. O empreendimento, que começou em 2014 com uma equipe de 2.500 trabalhadores, tinha a intenção de ser concluído em quatro anos. Localizado na província de Bolu, entre Ancara e Istambul, o que era para ser um lugar encantador se transformou em uma pequena cidade-fantasma. Infelizmente, o destino reservou para o projeto um cenário digno de um filme de terror.
O projeto do Grupo Sarot, responsável pela obra, tinha uma ambição além das mais de setecentas casas em forma de castelos. Eles planejavam construir um centro de convivência, lojas, cinemas, restaurantes, salas de conferências, salas de reuniões, uma creche e até mesmo uma mesquita. Além disso, o condomínio contaria com um ginásio, banhos turcos, saunas, salas de vapor, campos de tênis, campos de futebol e um parque aquático.
O investimento total no projeto foi de mais de 200 milhões de euros, com o objetivo de transformar o turismo nessa parte da Turquia. A intenção era criar uma comunidade de luxo voltada para compradores estrangeiros interessados em investir no mercado imobiliário turco, com um preço de venda de 500 mil euros por casa.
No entanto, o Grupo Sarot enfrentou dificuldades para obter o financiamento necessário para concluir o projeto e foi impactado pela crise financeira e política dos últimos anos. Infelizmente, eles não conseguiram alcançar a adesão esperada. Embora aproximadamente metade das residências tenham sido vendidas, principalmente para clientes do Oriente Médio, a empresa acabou entrando com um pedido de concordata, resultando no abandono do projeto.
Após as eleições na Turquia em 2018, vários compradores de países como Dubai e Kuwait deixaram de cumprir com os pagamentos das prestações das moradias. A situação foi agravada pela crise econômica e política que a Turquia enfrentou, além da queda dos preços do petróleo, o que levou os investidores árabes a adotarem uma postura mais cautelosa. Esses fatores resultaram em consequências catastróficas para o empreendimento em Burj Al Babas.
De acordo com o vice-presidente do Grupo Sarot, há ainda uma esperança de concluir o projeto, apesar da dívida de 27 milhões de dólares enfrentada pela empresa. Ele expressou confiança de que, ao vender mais 100 casas, eles conseguirão liquidar sua dívida.
O vice-presidente acredita que é possível superar essa crise em um período de quatro a cinco meses e inaugurar parcialmente o projeto em 2019, conforme mencionado em uma entrevista ao canal de notícias Bloomberg. No entanto, atualmente todas as construções estão paradas por ordem judicial, até que a empresa pague sua dívida.
Nas redes sociais, as opiniões sobre o empreendimento não são favoráveis. Comentários como “Um pesadelo em uma bela paisagem”, “Não há espaço entre as casas da Barbie. Pode ser tudo, menos luxuoso”, “Parece uma Disneylândia distópica” e “Parece um rio branco de arrependimento” foram feitos por pessoas de diferentes países em relação ao local que pretendia ser um conto de fadas. Essas opiniões demonstram a decepção e a sensação de que o projeto não conseguiu cumprir as expectativas estabelecidas, resultando em críticas negativas nas redes sociais.
Para saber mais: www.burjalbabas.com
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