Araras e papagaios da floresta amazônica desenvolveram um gosto peculiar pelo barro. Eles se reúnem em grande número de até 18 espécies nas encostas íngremes próximos aos rios, para bicar a sujeira, criando um espetáculo deslumbrante que entretém milhares de espectadores.
O termo científico para o comportamento de animais que comem argila ou giz é a geofagia, que os pesquisadores começaram a estudar mais profundamente. Embora nenhuma resposta concreta sobre por que os animais comem argila tenha sido aceita, existem várias hipóteses que são altamente plausíveis.
Uma das teorias mais aceitas é a falta de certas vitaminas e minerais em suas dietas. Isso pode incluir sal e magnésio. O sódio é necessário para uma multiplicidade de funções corporais, como a geração de impulsos nervosos, a manutenção do equilíbrio eletrolítico, a atividade cardíaca e certas funções metabólicas.
Muitos herbívoros cuja dieta é completamente baseada em vegetais requerem sal extra, já que as plantas não contêm sal suficiente. Assim os animais geralmente obtêm sódio a partir do barro. A argila e o solo são uma boa fonte de sódio, assim como muitos outros nutrientes, como potássio e magnésio.
Outra teoria é que os pássaros comem barro para se livrar de toxinas, que ingerem de plantas, frutas ou sementes. Quando comem argila, as partículas de argila se ligam as toxinas que ocorrem naturalmente, como a quinina e o ácido tânico, impedindo-os de serem absorvidos pelo trato gastrointestinal.
Ou também, de que as aves comem argila pelo seu alto índice de pH no equilíbrio dos efeitos da acidez na floresta tropical. Os fungos ácidos causam grande impacto na fruta encontrada na floresta amazônica, afetando os animais que a comem. Os efeitos? Diminuição da produção de leite e ovos, danos ao fígado e enfraquecimento do sistema imunológico. Ao comer a argila, os animais são capazes de equilibrar essa acidez perigosa e proteger-se desses problemas de saúde.
No entanto, pesquisas parecem sugerir que a teoria do sódio é a mais correta. O Centro de Pesquisa Tambopata (TRC), no Peru, estudou o comportamento de papagaios nas clay lick ou lâminas de barro, como são conhecidos as falésias ou encostas de barro ao longo do rio Tambopata, no Peru e descobriu-se que os solos que as aves escolhem consumir não têm níveis mais altos de capacidade de troca de cátions, ou seja, a capacidade de absorver toxinas, do que o de áreas não utilizadas pelos pássaros.
Pelo contrário, as aves preferem solo com níveis mais altos de sódio. Em um local de as aves gostam de ir comer barro, em uma curva acentuada do rio Manu, os pesquisadores observaram papagaios comendo uma cama específica de solo que corre centenas de metros na horizontal ao longo daquela curva. Os papagaios evitaram comer as camadas acima e abaixo da camada preferida. Esta camada foi encontrada para ter níveis muito mais elevados de sódio do que aquelas acima e abaixo.
Donald Brightsmith, que liderou o Projeto Arara Tambopata, destacou que os papagaios de fora da região amazônica ocidental também consomem alimentos que contém toxinas, como as sementes de açacu (Hura crepitans), mas são apenas aqueles na bacia amazônica ocidental que visitam as encostas de barro, indicando que os papagaios podem passar com uma pequena toxina no estômago, sem a necessidade de consumir argila para se desintoxicar.
Em vez disso, Brightsmith argumenta que há uma conexão entre esse hábito de comer argila e o fato de que a bacia amazônica ocidental é excepcionalmente carente de sal. Pesquisa de Alan TK Lee apoiam essa descoberta. Lee comprovou que o hábito de comer argila dos papagaios está positivamente correlacionado a um grau significativo com a distância do oceano, sugerindo que a falta de nutrientes e não a toxicidade alimentar é a força motriz por trás desse curioso comportamento.
Existem muitas dezenas de locais no Paraguai, Peru, Bolívia Brasil e Equador onde se pode observar tal comportamento, mas os locais mais populares e acessíveis estão localizados na Reserva Naciona de Tambopata, no sudeste do Peru. Outro local popular para testemunhar a colorida congregação de papagaios é o Blanquillo Clay Lick no Manu National Park, também no Peru. Os barrancos de barro do Parque Nacional Yasuni, no Equador, são outro ponto excelente oferecido aos turistas.
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