Histórias

Masabumi Hosono: A história do passageiro japonês no Titanic

A história de Masabumi Hosono, o único japonês a bordo do Titanic. Abordando seu destino controverso pós-naufrágio e sua redescoberta através do filme de James Cameron.

Em 1997, às vésperas do lançamento do filme de grande sucesso dirigido por James Cameron, “Titanic”, uma intrigante história originária do Japão veio à tona. Tratava-se de Masabumi Hosono, um funcionário público japonês que se encontrava a bordo do infausto navio na noite de 15 de abril de 1912, durante sua viagem inaugural de Southampton para a cidade de Nova York. Hosono conseguiu sobreviver ao desastre, porém, ao retornar ao Japão, deparou-se com o desprezo de seus compatriotas. Para muitos, Hosono deveria ter perecido com o navio, como qualquer samurai orgulhoso faria diante da adversidade.

Masabumi Hosono: A história do passageiro japonês no Titanic
Masabumi Hosono

Em 1910, Hosono desempenhava o cargo de diretor ferroviário no Ministério dos Transportes. Devido à sua proficiência na língua russa, foi designado para estudar o sistema ferroviário estatal russo. Após passar dois anos na Rússia, Hosono dirigiu-se a Londres e, posteriormente, a Southampton, onde embarcou no Titanic em 10 de abril de 1912, ocupando a posição de passageiro de segunda classe.

Na fatídica noite de 15 de abril, o Titanic colidiu com um iceberg, rompendo seu casco e iniciando a entrada de água. O pânico tomou conta dos passageiros, pois ficou evidente que o navio estava destinado a afundar.

Hosono foi despertado por um mordomo e, ao se dirigir rapidamente ao convés, deparou-se com uma cena que apertou seu coração. “Enquanto isso, sinalizadores de emergência eram lançados incansavelmente no ar, e os horríveis flashes azuis acompanhados de ruídos simplesmente aterrorizantes. De alguma forma, não consegui de forma alguma dissipar o sentimento de pavor e desolação absolutos“, registrou Hosono em suas memórias.

Inicialmente, Hosono considerou desistir da vida. “Procurei me preparar para o último momento sem agitação, decidindo não deixar nada vergonhoso como japonês.” Contudo, a ideia de não reencontrar sua amada esposa e filhos tocou profundamente seu coração. Eventualmente, viu-se “procurando e esperando por qualquer chance possível de sobrevivência”.

A oportunidade se apresentou quando um oficial que carregava botes salva-vidas gritou “Espaço para mais dois“, e um homem saltou. Percebendo a chance, Hosono seguiu-o pulando também. “Após o afundamento do navio, ecoaram novamente os gritos estridentes e assustadores dos que se afogavam na água. Nosso bote salva-vidas estava repleto de crianças e mulheres soluçantes e chorosas, preocupadas com a segurança de seus maridos e pais. Eu também compartilhava do mesmo sentimento de desânimo e infelicidade que eles, sem ter ideia do que o futuro reservava para mim a longo prazo.

Na manhã seguinte, o bote salva-vidas de Hosono e os passageiros que transportava foram resgatados por outro navio. No bolso do casaco, Hosono carregava um maço de papel timbrado do Titanic, no qual começou a redigir uma carta para sua esposa em inglês. Durante a viagem até Nova York, utilizou o mesmo papel para narrar suas experiências em japonês.

Masabumi Hosono: A história do passageiro japonês no Titanic
Naufrágio do Titanic por Willy Stöwer (1864–1931).

Inicialmente, a história de Hosono atraiu pouca atenção, visto que centenas de pessoas sobreviveram ao naufrágio do Titanic, cada uma com uma narrativa angustiante. Entretanto, um jornal de Nova York destacou sua história como a do “Garoto Japonês de Sorte“. Ao retornar a Tóquio, Hosono encontrou seu povo nativo hostil em relação a ele.

O sacrifício, a coragem e o altruísmo são valores profundamente enraizados na cultura japonesa. A história do país é permeada por relatos de samurais que optaram pelo seppuku em vez de cair nas mãos dos inimigos. Durante a Segunda Guerra Mundial, centenas de pilotos realizaram ataques kamikaze, colidindo intencionalmente com seus aviões contra alvos aliados. A sociedade japonesa, imbuída desses princípios, esperava que Hosono se comportasse de maneira exemplar.

Contudo, a imprensa japonesa condenou Hosono como covarde, e o governo, em uma reação impulsiva, o demitiu de seu cargo, apenas para recontratá-lo em uma base contratual. Apesar dos ataques de seus compatriotas, Hosono perseverou, tentando levar uma vida discreta. Ele faleceu pacificamente enquanto dormia em 1939, aos 68 anos.

A história de Hosono permaneceu como uma fonte de vergonha para sua família ao longo de décadas. Somente quando o filme de James Cameron foi lançado em 1997 é que a história de Hosono alcançou um público mais amplo. Haruomi Hosono, neto de Masabumi e líder da banda Yellow Magic Orchestra, expressou seu alívio, declarando que estava “extremamente aliviado” por ver a verdadeira história de seu avô se tornar mais conhecida. “A honra foi restaurada aos Hosonos“, afirmou ele.

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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