Histórias

Mortes inusitadas de reis e monarcas ao longo da história

A despeito da majestosidade e poder que envolviam suas vidas, a morte dos monarcas muitas vezes revelava um lado mais humano e, por vezes, surpreendentemente prosaico. Longe da grandiosidade de seus reinados, alguns desses governantes enfrentaram destinos surpreendentes e, por vezes, até patéticos no momento derradeiro. Seja pela ironia do destino, intrigas palacianas ou acidentes inesperados, a transição de monarcas todo-poderosos para a mortalidade muitas vezes pintava um quadro inusitado e intrigante da história real.

Jaime II da Escócia, 1460 – Disparo de canhão

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Jaime II da Escócia reinou entre 1437 e 1460. Como único filho sobrevivente de Jaime I da Escócia, ele sucedeu ao trono com seis anos de idade, após o assassinato do pai. Sendo tão jovem, três famílias rivais – os Crichton, os Livington e os Douglas – lutaram para ganhar o controle sobre o jovem rei, o que gerou enormes conflitos. Já adulto, Jaime II buscou suprimir o poder dos clãs escoceses e concentrar o poder político em suas mãos, o que fez por meio de muita repressão e violência. Mas foi a morte de Jaime que o tornou famoso.

Atraído pela moderna artilharia, Jaime II importou canhões avançados da região de Flandres, na Bélgica, e os utilizou durante o cerco ao Castelo de Roxburgh em 1460, quando contava com 29 anos de idade. Esses canhões eram considerados as mais avançadas máquinas de guerra da época. No entanto, durante um disparo contra a fortaleza, o próprio Jaime foi atingido pelo projétil, que saiu pelo lado errado, resultando em uma explosão fatal entre os escoceses. O rei não sobreviveu aos ferimentos, encontrando seu fim de maneira irônica, vítima do tiro que saiu pela culatra.

Carlos VIII, França, 1448 – Batida na moldura da porta

No Castelo de Amboise, em 7 de abril de 1498, um sábado encantador que antecedia o Domingo de Ramos, o rei de 27 anos, Carlos VIII, após uma refeição, desceu ao fosso do castelo para observar uma partida de tênis que ocorria nas proximidades das muralhas. Acompanhado por sua esposa, Ana da Bretanha, o monarca caminhou pela galeria em direção à saída. No entanto, ao passar pela porta, que não era alta o suficiente, Carlos não se curvou o bastante e chocou-se com força contra a barra superior da abertura. Embora tenha caído e perdido a consciência, inicialmente parecia que tudo tinha passado.

Minutos depois, o rei recuperou a consciência, levantou-se e desceu para assistir à partida. A cabeça de Carlos VIII continuava girando, mas ele assistiu ao jogo com firmeza até o final. Ao retornar ao castelo, porém, desmaiou novamente, perdendo os sentidos e a capacidade de fala. Os servos transportaram o rei para o interior do castelo e o colocaram às pressas em um colchão. Por nove horas, Carlos lutou entre o esquecimento e a realidade, tentando articular alguma palavra. A causa oficial de sua morte foi registrada como apoplexia.

Frederico, Príncipe de Gales, 1751 – Atingido por bola de críquete

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Frederico nunca ascendeu ao trono da Grã-Bretanha; seu pai, Jorge II, sobreviveu a ele por três anos. Se não fosse pelo seu grande entusiasmo pelo críquete, o príncipe poderia ter se tornado o monarca. Nascido na Alemanha, Frederico viveu em Hanôver até 1727. Ao receber o título de príncipe herdeiro da Grã-Bretanha, mudou-se para Londres.

Demonstrando uma rápida assimilação à cultura britânica, desenvolveu um profundo interesse pelo popular jogo de críquete. Frederico patrocinou equipes, realizou apostas, assistiu a partidas e, naturalmente, participou ativamente do esporte, não perdendo nenhum evento relacionado ao jogo. Em uma dessas partidas, foi atingido por uma bola, resultando em um abscesso e, eventualmente, envenenamento sanguíneo. Em 6 de março de 1751, Frederico adoeceu, e em 20 de março, o príncipe faleceu.

Rei Carlos II de Navarra, 1386 – Queimado vivo acidentalmente

No final de 1386, a saúde do rei Carlos II chamado por populares de “Carlos, o Mau”, começou a declinar rapidamente, a ponto de o monarca não conseguir movimentar completamente os membros. O médico prescreveu um tratamento peculiar: envolver o rei em pano de linho embebido em conhaque. A empregada responsável pelo procedimento começou a envolver o monarca, criando algo semelhante a um casulo. Ao chegar ao pescoço, a jovem hesitou, pois precisava retirar o fio. Como era noite e ela temia cortar acidentalmente o rei com uma tesoura, decidiu retirar o fio com uma vela acesa.

Infelizmente, o conhaque impregnado no tecido pegou fogo, levando a empregada a correr para fora da sala em pânico. O rei Carlos II de Navarra morreu queimado em 1º de janeiro de 1387, vítima de uma tragédia envolvendo vela, conhaque e linha. Pelo menos, essa é a interpretação datada de 1801, conforme conhecida através de Francis Blagdon.

Qin Shi Huang, 210 a.C. AC – Consumiu mercúrio

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O Grande Imperador foi responsável por interromper a era dos Reinos Combatentes e estabelecer um estado chinês centralizado. Seu nome está associado à construção de monumentos impressionantes, como a Grande Muralha da China, o Canal Lingqu e o Palácio Epan. Além de suas realizações, Qin Shi Huang tinha um profundo temor da morte, levando-o a empreender sérias buscas pelo elixir da imortalidade.

Durante extensas viagens pelo país, o imperador procurou orientação de bruxos, xamãs e feiticeiros, chegando ao ponto de organizar uma expedição ao vizinho Japão em busca do elixir desejado. No entanto, sua busca por uma solução milagrosa não teve sucesso até 10 de setembro de 210 a.C., quando, finalmente, o tão esperado elixir foi entregue ao palácio.

Qin Shi Huangdi consumiu o remédio acreditando que o tornaria imortal, mas, infelizmente, o elixir continha mercúrio, resultando em consequências fatais.

Martinho I, Rei de Aragão, 1410 – Asfixiado pelo riso

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Um homem cujas propriedades se estendiam por todo o Mediterrâneo demonstrou, por seu próprio exemplo, que o riso pode ser fatal. Em 31 de maio de 1410, o monarca ofereceu um banquete festivo em seu castelo, recebendo uma grande quantidade de convidados. Martinho I proporcionou-lhes entretenimento e comédia da época. As piadas eram simples e as pessoas eram abertas e espontâneas.

Em resposta a uma história do bobo da corte sobre ter visto um cervo pendurado pelo rabo na vinha, “como se estivesse sendo punido por roubar figos”, o monarca riu tanto que acabou asfixiando. Dizem que isso foi agravado por uma indigestão que ele sofreu nos dias anteriores devido à sua intemperança ao comer enguias.

Henrique II, França, 1559 – Atingido por uma lança

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As conhecidas Guerras Italianas se estenderam por 65 anos, ocorrendo de 1494 a 1559, durante as quais França, Espanha e o Sacro Império Romano disputaram o controle das terras italianas e a supremacia no Mediterrâneo. Embora as hostilidades tenham começado antes do nascimento de Henrique II, foi ele quem desempenhou um papel crucial no encerramento desse longo período de conflitos. O Tratado de Cateau-Cambresia, concluído por Henrique, foi uma conquista significativa para o rei da França.

Em julho de 1559, Henrique II orquestrou uma celebração que combinou a paz e o casamento de sua filha, Isabel de Valois. O ponto alto das festividades foi um torneio de cavaleiros de três dias, onde, no segundo dia, o próprio rei francês enfrentou um duelo contra o conde normando de Montgomery.

Vestidos em armaduras e munidos de longas lanças, os cavaleiros se aproximaram rapidamente. Montgomery atingiu Henrique no peito com sua lança, que acabou quebrando no impacto. No entanto, fragmentos da lança perfuraram o rosto do rei, penetrando no cérebro através do olho. Apesar dos esforços dos principais médicos durante vários dias, Henrique II não conseguiu sobreviver aos ferimentos.

Frederico I Barbarossa, 1190 – Afogado por sua armadura

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Em 1190, o renomado cruzado e conquistador dos infiéis, Frederico Barbarossa, já contava com 68 anos, mas estava embarcando em uma nova empreitada na Terceira Cruzada. À medida que avançava em direção à Terra Santa, conquistando várias fortalezas ao longo do caminho, incluindo a fortaleza de Konya, o exército de Barbarossa chegou ao rio Kalikadn (hoje conhecido como Göksu, localizado no sul da Turquia). Com a orientação de guias armênios, os cruzados encontraram um vau apropriado e começaram a atravessar, explorando cuidadosamente um caminho ao longo do leito rochoso.

Nesse ponto, a armadura pesada de Barbarossa falhou por duas vezes: primeiro, deslocando seu centro de gravidade, fazendo o rei cair na água, e depois, pressionando ele contra o fundo do rio, não conseguindo se levantar. A correnteza impetuosa completou o que havia começado: o lendário cavaleiro se afogou em um rio com uma profundidade de não mais de 1 metro.

Rei sueco Adolf Frederick, 1771 – Obstrução intestinal

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O rei sueco Adolf Frederick, que governou na segunda metade do século XVIII, era um homem gentil e dedicado à família. Além de suas responsabilidades reais, ele apreciava fazer caixas de rapé, uma ocupação incomum para um monarca, e tinha uma paixão por pratos deliciosos. No entanto, essa última paixão acabou sendo a causa de sua morte.

Em 1771, após um generoso almoço em Estocolmo, o rei exagerou. Sua refeição extravagante incluía lagosta, caviar, peixe defumado, carnes cozidas, chucrute, entre outros pratos. Era um verdadeiro banquete, destinado a satisfazer até os apetites mais exigentes. No entanto, isso não foi suficiente para o rei Frederick. Além de todos esses pratos, ele consumiu 14 semlas, um tipo de pão doce sueco semelhante a sonhos, acompanhado por creme de leite.

Infelizmente, no mesmo dia, o rei faleceu devido a obstrução intestinal ou possivelmente intoxicação alimentar, detalhes precisos que ainda permanecem incertos. O que se sabe é que a imensa refeição resultou em sérios problemas digestivos que culminaram na morte do monarca.

O conde Johan Gabriel Oxenstierna registrou em seu diário que “esta morte não era digna de um soberano, mas de um padre de aldeia”. Apesar disso, muitos súditos ficaram entristecidos, pois amavam o rei, mesmo considerando que sua ascensão ao trono não foi totalmente convencional, já que foi declarado herdeiro do rei sem filhos Frederico I sob pressão da Rússia.

Genghis Khan, 1227 – Morto por sua esposa

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O Grande Khan dos Mongóis realizou conquistas inimagináveis ​​​​em escala mesmo em nosso tempo e especialmente impressionantes no contexto do desenvolvimento dos transportes no século XIII. Em campanhas a cavalo, ele conquistou mais de seiscentas tribos e povos, atravessou a Ásia Central, o Cáucaso, superou a Grande Muralha da China e subjugou o norte da China. Os herdeiros de Genghis Khan fizeram do Império Mongol o maior estado continental da história, conquistando grande parte da Eurásia, da Coreia à Ucrânia.

Acredita-se que Genghis Khan teve cerca de 500 concubinas. Ele adorava levar as esposas e filhas dos líderes derrotados para seu harém. As últimas crônicas mongóis relacionam a morte do cã com uma dessas mulheres. Há uma versão de que Genghis Khan foi morto a facadas à noite por sua jovem esposa, que ele tirou à força do marido. Temendo pelo que havia feito, ela se afogou no rio naquela noite.

Rei francês Carlos IX, 1574 – Envenenado por um livro

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Carlos IX, longe de ser considerado o melhor rei francês, teve um reinado marcado por inúmeras guerras religiosas e pelo infame episódio da Noite de São Bartolomeu, um dos eventos mais sangrentos e vergonhosos da história francesa. Embora haja relatos de que o rei tenha participado ativamente na matança dos protestantes sob as janelas do palácio, a veracidade dessas alegações permanece incerta.

As circunstâncias da morte de Carlos IX também permanecem obscuras. Oficialmente, ele é registrado como tendo morrido de pleurisia secundária, agravada por uma infecção tuberculosa, aos 23 anos. No entanto, alguns historiadores especulam que sua morte incomum pode ter sido resultado de envenenamento, possivelmente através das páginas de um livro sobre falcoaria. Acredita-se que seu irmão mais novo, Henrique, que o sucedeu no trono, poderia ter organizado essa morte peculiar. A saga infeliz da família real envolve tragédias que se estendem desde o pai deles, Henrique II, que foi morto por uma lança estilhaçada durante um torneio.

Alexandre, o Grande, 323 a.C – Febre misteriosa

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O famoso conquistador grego Alexandre, O Grande, é celebrado como uma mente militar brilhante, mas sua morte precoce aos 32 anos permanece envolta em mistério até os dias de hoje.

Em 323 a.C., enquanto estava na Babilônia, que agora faz parte do Iraque, Alexandre, O Grande, foi abruptamente atingido por uma febre misteriosa. Nos 12 dias seguintes, sua saúde deteriorou-se rapidamente. Ele experimentou uma dor aguda nas costas, uma sede insaciável e uma paralisia que o deixou incapaz de erguer a cabeça.

Em junho de 323 a.C., Alexandre faleceu, deixando a causa exata de sua morte ainda desconhecida. Para aumentar o mistério, seu corpo demorou a se decompor, alimentando especulações de que ele era mais do que um homem e possivelmente um deus.

A incerteza persiste sobre a causa da morte de Alexandre, O Grande. Algumas teorias sugerem malária, enquanto outras apontam para envenenamento. Há até a suspeita de que ele sofria do distúrbio neurológico conhecido como Síndrome de Guillain-Barré, o que poderia explicar sua paralisia.

Rei Alexandre da Grécia, 1920 – Mordida de macaco

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Sem dúvida, uma das mortes mais bizarras entre os aristocratas é a do rei Alexandre da Grécia, que ocorreu em 1920 após ele ser mordido por um macaco. Com apenas 27 anos, Alexander estava no trono há apenas três anos.

A tragédia se desenrolou enquanto o rei passeava em Atenas com seu cachorro Fritz. Repentinamente, deparou-se com um macaco que pertencia a um servo. Uma briga entre o macaco e o cachorro começou, levando Alexander a interferir para separar a luta.

No entanto, o rei acabou sofrendo várias mordidas do macaco. Apesar dos ferimentos aparentemente pequenos, as infecções resultantes desencadearam uma septicemia, levando à sua trágica morte.

Sigurd Eysteinsson, líder viking, 892 d.C – Dente do inimigo

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Sigurd Eysteinsson destacou-se como jarl (chefe) de Orkney, situada no norte da atual Escócia, consolidando a presença viking na região. Sua conquista estendeu-se às ilhas circundantes, transformando-as em sólidas bases vikings. Além disso, expandiu seu domínio para incluir os condados de Caithness e Sutherland.

Segundo relatos da Saga de Orkneyinga, em 892 d.C, Sigurd desafiou Máel Brigte, o Dentuço, líder nativo, para uma batalha com 40 homens de cada lado. Contudo, o viking quebrou o acordo ao liderar o dobro de homens em sua tropa, enquanto a tropa inimiga permaneceu com os 40 originalmente combinados. Novamente, saiu vitorioso na batalha, conquistando território adicional e, como era costume, levando a cabeça de seu oponente como troféu.

Conforme a tradição viking, a cabeça de Máel foi presa à sela do cavalo de Sigurd, uma exibição de garbosidade e um aviso sutil aos oponentes. No entanto, a ironia da história surgiu quando os dentes famosos de Máel, mesmo após sua morte, arranharam a perna de Sigurd à medida que o cavalo avançava. Poucos dias depois, o líder viking sucumbiu a uma infecção, encerrando sua notável saga.

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