Histórias

O tesouro perdido de Olivier Levasseur

O tesouro de Olivier Levasseur, o pirata La Buse, é envolto em mistério, composto por inestimáveis riquezas, incluindo ouro, prata, joias e arte, escondido em local desconhecido.

No dia 7 de julho de 1730, Olivier Levasseur, renomado pirata francês, encarou seu destino no cadafalso, culminando uma carreira de mais de quinze anos disseminando o terror nos mares. Seu destino foi selado pelo ousado saque ao galeão português Nossa Senhora do Cabo, que transportava o Bispo de Goa e o Vice-Rei de Portugal, além de uma carga valiosa que Levasseur se recusou a abandonar.

Ao invés disso, ele se vangloriou de ter ocultado o tesouro, desafiando tanto autoridades quanto espectadores. Minutos antes da execução, Levasseur dramaticamente revelou um colar contendo um pergaminho com um criptograma, oferecendo pistas sobre a localização do tesouro. Com um grito desafiador, arremessou o colar na multidão, proclamando: “Encontre meu tesouro, aquele que puder desvendá-lo!“. Assim, iniciou-se uma lenda que ecoaria através do tempo, transmitida de geração em geração nas ilhas das Seychelles e A Reunião.

Olivier Levasseu, (La Buse)

Olivier Levasseur, nascido em 1688 em Calais, provinha de uma família burguesa privilegiada. Apesar de sua educação refinada, que o teria destinado a uma vida respeitável como arquiteto, Levasseur optou pela vida no mar, impulsionado pela busca da aventura. Abandonando perspectivas convencionais, alistou-se como corsário da coroa francesa durante a Guerra da Sucessão Espanhola (1701-1714). Nessa função, atacou navios britânicos, do Sacro Império Romano e holandeses, construindo uma reputação marcada pela audácia e habilidade.

Após o término da guerra, Levasseur encontrou-se sob a orientação do experiente pirata inglês Benjamin Hornigold, cujos ensinamentos refinaram suas habilidades em liderança e marinharia. Apesar da parceria frutífera, a ambição de Levasseur o impeliu a se separar de Hornigold em busca de fortunas ainda maiores. Navegando pela costa brasileira e pelo Caribe, ele e seus companheiros saquearam inúmeros navios, acumulando riquezas imponentes a cada ataque bem-sucedido.

O criptograma de Olivier Levasseur.

‘La Buse’ (O Urubu), apelido de Levasseur, destacou-se por seus ataques rápidos e implacáveis, tornando-se uma figura temida entre os piratas. Estabeleceu alianças com notórios bucaneiros, como Samuel Bellamy, Henry Jennings, Howell Davis, Thomas Cocklyn e Edward England, solidificando sua reputação como adversário corajoso em alto mar.

Em 1721, Levasseur e sua tripulação se depararam com uma presa fatídica: o galeão português Nossa Senhora do Cabo, também conhecido como Virgem Do Cabo, ancorado perto da Ilha da Reunião. Resistindo a uma tempestade que forçou a tripulação a jogar todos os 72 canhões ao mar para evitar o naufrágio, o navio ficou vulnerável. Aproveitando a oportunidade, a tripulação de Levasseur embarcou sem disparar uma única arma, conquistando um saque valioso.

Os saques revelaram um tesouro insondável, incluindo os pertences do Bispo de Goa e do Vice-Rei de Portugal, destinados à Sé Catedral. O galeão era uma “casa do tesouro flutuante”, transbordando com ouro, prata, Guinés douradas, diamantes, pérolas, sedas, arte e a lendária Cruz de Fogo de Goa – uma majestosa maravilha de ouro, adornada com rubis, safiras, esmeraldas e diamantes, irradiando uma chama perpétua.

Itinerários do Pirata Olivier Levasseur a bordo do Nossa Senhora do Cabo até ao seu encalhe,
segundo “A relação de De Bucquoy” na transcrição de 1884

Os piratas, diante dessa fortuna, nem se deram ao trabalho de pilhar os pertences pessoais dos passageiros, uma divergência de seu usual modus operandi. Ao dividir o tesouro, cada pirata ficou incrivelmente rico, com uma parte avaliada em pelo menos £50.000 em Guinés de ouro e 42 diamantes. Levasseur e John Taylor reivindicaram a maior parte, incluindo a cobiçada Cruz de Ouro. Uma recompensa além da imaginação, transformando-os em magnatas dos mares. A parte de Levasseur é avaliada em 4,5 bilhões de reais.

Levasseur tentou retirar-se silenciosamente nas Seychelles, aspirando a desfrutar de suas riquezas, mas seu passado o alcançou. Capturado em 1734, em Madagascar, foi condenado à morte. Foi condenado à forca na ilha de Saint-Paul, com seu corpo pendurado por vários dias como advertência aos bandidos em frente à capela de São Paulo.

Ao ser conduzido para Saint-Paul, atravessou colinas e a ravina de Malheur, proferindo uma frase icônica ao passar pela ponte precária: “Com o que escondi não muito longe daqui, poderia comprar a ilha inteira”. Diante da forca, protagonizou um gesto dramático: lançou um colar à multidão, contendo um pergaminho que supostamente revelava a localização de seu tesouro. As instruções, no entanto, eram cifradas.

A ilha Mahe, Seychelles, onde se acredita que o tesouro de Olivier Levasseur esteja escondido. Crédito da foto: Olivier Levasseur/Flickr

A narrativa do tesouro de Levasseur e suas pistas misteriosas foi inicialmente apresentada no livro de Charles de La Roncière de 1934, “Le Flibustier mysterieux: Histoire d’un trésor caché“. Contudo, fontes contemporâneas não mencionam o alegado criptograma, o colar ou sua desafiadora proclamação no cadafalso, levando historiadores modernos a rejeitar a lenda como ficção do século XX.

Entretanto, um homem persiste na crença da veracidade da lenda. John Cruise-Wilkins, localmente conhecido como o ‘Homem do Tesouro‘ em Mahé, Seychelles, empreende há mais de quatro décadas a decifração do enigma. Seu pai, Reginald Herbert Cruise-Wilkins, dedicou-se à mesma busca por 27 anos até falecer em 1977.

Cruise-Wilkins tem investido grande parte de sua vida na decifração do criptograma, explorando grego, hebraico, astrologia, astronomia, mitologia e ocultismo para desvendar as intricadas pistas. Após meticuloso esforço, ele acredita que a localização do tesouro está ligada a um complexo enigma inspirado nos lendários 12 Trabalhos de Hércules. Após muitos anos de pesquisa, identificou o esconderijo nas pitorescas terras de Bel Ombre, na costa norte de Mahé.

John vasculhou mais de 40 acres ao redor da área de Bel Ombre, explorando fendas e cavernas, encontrando marcas que ele acredita serem deixadas por piratas nas rochas, além de ossos, pistolas, balas de mosquete e estatuetas. Sua busca incansável continua, alimentada pela convicção de que o tesouro perdido de Levasseur está próximo.

Túmulo de Olivier Levasseur em Saint-Paul, Reunião. Crédito da foto: Jöran Kortmann/Wikimedia Commons

Utilizei todo tipo de equipamento, desde bombas d’água, perfuratrizes, britadeiras até ferramentas manuais, escavadeiras e detonações, incluindo os mais recentes detectores de tesouros da Alemanha“, revelou à BBC. John acredita que está a poucos centímetros do tesouro, identificando uma caverna como seu local provável. Contudo, a entrada está bloqueada por pedras, sendo acessível apenas por um túnel subaquático. Ele suspeita que o astuto pirata armou ciladas ao redor do tesouro.

O terreno pertence ao governo, e John precisa de uma licença para continuar a busca, mas o alto custo de 250.000 rúpias representa um desafio financeiro significativo. Apesar de já ter investido tempo e esforço consideráveis na preparação do local, incluindo reparos em paredes rochosas e construção de acessos para equipamentos, sem a licença, seu trabalho está paralisado. Agora, suas esperanças repousam na generosidade de um benfeitor, alguém que compartilhe sua crença na legitimidade da lenda. Com apoio financeiro, John mantém o otimismo de obter os meios necessários para a tão aguardada licença, dando início à escavação que pode finalmente desvendar o tesouro há muito perdido de Olivier Levasseur.

Ao longo de mais de dois séculos, arqueólogos e saqueadores empreenderam incessantes pesquisas no Oceano Índico, desde a Baía de Antongil na costa leste de Madagascar até a Ilha da Reunião (Ilha de Bourbon), passando pela Ilha de Sainte-Marie (antiga Nosy Bohara), sem esquecer a Ilha Maurícia (antiga Ilha de França) e as Seychelles (antiga Ilha des Sept Sœurs, também conhecida como Siete Irmanas). Contudo, todos os esforços foram infrutíferos!

Fontes: 1 2 3

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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