Histórias

Shitwreck: O naufrágio de cocô de um submarino nazista

O U-1206, um submarino alemão Tipo VIIC, sofreu um incidente durante a Segunda Guerra Mundial em abril de 1945. Enquanto o Capitão Karl-Adolf Schlitt tentava utilizar o banheiro do submarino, houve um problema com o sistema de descarga, levando ao afundamento do submarino.

O mau funcionamento dos banheiros é sempre desagradável, acarretando prejuízos de tempo e dinheiro, além de adicionar a indesejável tarefa de lidar com resíduos humanos. No entanto, é difícil encontrar um incidente mais catastrófico do que o ocorrido quando o capitão alemão de 27 anos, Karl-Adolf Schlitt, durante a Segunda Guerra Mundial, baixou as calças para evacuar em um submarino. A evacuação resultou no alagamento de todo o submarino, tornando-se um episódio singularmente desastroso.

A calamidade gastrointestinal ocorreu em 14 de abril de 1945, enquanto o submarino alemão U-1206 (submarino Tipo VIIC da Kriegsmarine) operava nas proximidades de Aberdeenshire, na Escócia. Os submarinos, derivados do termo alemão “unterseeboot” (barco submarino), representavam uma forma avançada de predadores aquáticos capazes de se movimentar furtivamente e infligir ataques devastadores contra embarcações inimigas.

Karl-Adolf Schlitt

Originalmente desenvolvidos durante a Primeira Guerra Mundial, essas embarcações desempenharam um papel crucial na destruição das rotas marítimas transatlânticas, sendo capazes de enfrentar embarcações até 20 vezes maiores. A Alemanha, notoriamente, mirou tanto em navios militares quanto civis, destacando-se pelo ataque ao navio de passageiros Lusitânia em 1915, resultando na perda de quase 1.200 vidas.

Os submarinos mais recentes, conhecidos como Tipo VIIC, ostentavam um perfil impressionante, equipados com dois canhões antiaéreos, cinco tubos de torpedo e muito mais. O U-1206, praticamente recém-saído da linha de montagem, tinha zarpado da Noruega e operava a uma profundidade de 60 metros quando a tragédia se desenrolou.

Devido à tecnologia avançada do U-1206, o Capitão Schlitt tinha poucos motivos para duvidar que conseguiria completar com sucesso uma ida ao banheiro. O submarino contava com o que havia de mais moderno em manejo séptico, lançando resíduos diretamente no mar, em vez de armazená-los a bordo da embarcação. Isso não apenas economizava espaço, mas também tonelagem, eliminando a necessidade de um grande tanque de resíduos pesando sobre o navio.

O que passou pela cabeça de Schlitt enquanto se posicionava no vaso sanitário permanece um mistério. Talvez tenha sido um gesto de orgulho pela tecnologia avançada de eliminação das forças alemãs, ou quem sabe ele estivesse concentrado na leitura de literatura alemã.

Shitwreck: O naufrágio de cocô de um submarino nazista

De qualquer forma, foi somente após Schlitt terminar suas necessidades que ele percebeu que não sabia como operar o mecanismo de descarga. Isso não era incomum, uma vez que o sistema de encanamento era novo, e a tripulação precisava ser treinada especificamente sobre como operá-lo. Schlitt, por algum motivo, não compareceu ao treinamento ou ficou confuso quanto ao procedimento.

Ao pedir ajuda e chamar um engenheiro, os dois homens se viram tentando desvendar a logística da eliminação dos excrementos de Schlitt. Lidar com águas residuais nunca é uma situação ideal para ouvir a frase “girar a válvula errada”. No entanto, foi exatamente isso que o engenheiro fez. Imediatamente, o banheiro começou a se encher de água do mar e fezes.

Outro relato desta história, que, como era de se esperar, apresenta variações nas quais Schlitt não assume qualquer responsabilidade pela situação do submarino naufragado, afirma que ele tentou dar descarga sozinho, sem ajuda de um engenheiro. Outras teorias sugerem que o sistema de descarga não conseguia operar em profundidades mais baixas.

Shitwreck: O naufrágio de cocô de um submarino nazista

Independentemente das circunstâncias, o sistema falhou. Já desagradável nas melhores circunstâncias – os submarinos eram propensos a ter odores de suor, odor corporal e fumaça de diesel – a tripulação agora se via lidando com resíduos humanos. Apesar da repugnância causada pelo problema no encanamento, o verdadeiro perigo estava na configuração do navio.

O banheiro estava localizado logo acima do compartimento da bateria do submarino. Quando a mistura transbordou, liberou gás cloro. Entre os vapores tóxicos e as inundações, Schlitt não teve escolha senão emergir à superfície. Para fazer isso, a tripulação explodiu os tanques de lastro e disparou seus torpedos em um esforço para melhorar a flutuabilidade da embarcação inundada.

De alguma forma, a situação se agravou quando o submarino emergiu à superfície. “Neste momento, aviões e patrulhas britânicas nos descobriram“, descreveu Schlitt em seu relato oficial. Após sofrer danos de um ataque aéreo, a única opção restante foi submergir o submarino e evacuar os cinquenta marinheiros para o mar. “A tripulação chegou à costa escocesa em botes de borracha“, acrescentou Schlitt. “Na tentativa de alcançar a costa íngreme em meio ao mar agitado, três tripulantes perderam tragicamente a vida. Vários homens foram resgatados a bordo de uma chalupa britânica. Os falecidos foram Hans Berkhauer, Karl Koren e Emil Kupper.” Schlitt sobreviveu à guerra, vindo a falecer em 2009. Quando a notícia do incidente chegou aos britânicos, eles o apelidaram de “shitwreck” (naufrágio de cocô).

Shitwreck: O naufrágio de cocô de um submarino nazista
Submarino tipo VIIC – U-995

Até meados da década de 1970, os destroços do U-1206 permaneceram intactos a uma profundidade de 70 metros, até serem descobertos por trabalhadores que estavam construindo um oleoduto submarino. Vale ressaltar que o Tipo VIIC era a espinha dorsal da frota submarina alemã.

O primeiro VIIC entrou em serviço em 1940, e um total de 568 foram construídos em diversos estaleiros durante a guerra, tornando-o o submarino mais produzido na história. Atualmente, apenas uma embarcação do Tipo VIIC ainda existe, o U-995, que está exposto no Museu Marítimo Laboe, nos arredores de Kiel, na Alemanha.

Shitwreck: O naufrágio de cocô de um submarino nazista

Fontes: 1 2

Avalie este artigo!
[Total: 0 Média: 0]
Atenção! Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do usuário e não expressa a opinião do site.

Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

Adicionar comentário

Clique para deixar um comentário