A rotatória, também conhecida como rótula ou rotunda (no português europeu), é uma praça ou largo circular onde diversas ruas convergem, permitindo o fluxo de tráfego em sentido giratório. Para muitos, é uma presença comum no dia a dia, muitas vezes sem compreender completamente sua função, apenas fazendo parte da via. Contudo, para uma associação no Reino Unido, a rotatória representa muito mais do que isso.
Kevin Beresford é um dos fundadores da Sociedade de Apreciadores de Rotatórias do Reino Unido (UK Roundabout Appreciation Society), um grupo singular que se reúne em Redditch, uma cidade no nordeste de Worcestershire, para explorar todos os aspectos relacionados a essas estruturas – desde a engenharia de tráfego, design, estilo, localização até questões de segurança.
Para os membros dessa sociedade, as rotatórias não são apenas um sistema de gerenciamento de tráfego, mas também um espaço para expressão através da jardinagem, publicidade, história e cultura. No Reino Unido, as rotatórias podem variar imensamente, desde simples círculos pintados no asfalto até extensões de terra transformadas em belos jardins.
Elas apresentam uma ampla gama de estilos, desde as mais modestas até as polêmicas e até mesmo aquelas que desempenham um papel importante na história local. Aproximadamente 10.000 rotatórias estão espalhadas pelo Reino Unido, com a cidade-sede da Sociedade, Redditch, contando sozinha com mais de quarenta dessas estruturas.
Em 2003, a indústria gráfica de Beresford buscava algo único para incluir em um calendário planejado como presente de Natal para seus fornecedores. Foi então que Beresford decidiu destacar as rotatórias, enviando uma estudante de design gráfico munida de uma câmera para capturar as melhores dessas estruturas na cidade. Inicialmente, a empresa imprimiu apenas dez calendários, mas o projeto superou as expectativas, resultando na venda de 100 mil unidades para diversos locais do mundo, e assim, a Sociedade dos Apreciadores de Rotatórias teve seu início.
Nunca antes esses espaços no meio do asfalto haviam recebido tal atenção. A empresa de Beresford comentou em seu site: “As estradas frequentemente são vistas como marcas na paisagem, mas as rotatórias quebram essa monotonia. Com infinita variedade, cor e criatividade, esses espaços elevam nosso ânimo em longas viagens cansativas. Uma rotatória se torna um verdadeiro oásis em meio a um mar de asfalto.“
As rotatórias britânicas realmente transbordam expressividade. De estátuas a fontes, monumentos de guerra, jardins exuberantes, topiarias meticulosamente esculpidas, esculturas intrigantes, cinemas, santuários, moinhos de vento, lagoas com patos e até pubs – encontramos de tudo nelas. A cada dois meses, os membros dessa sociedade peculiar se reúnem em um pub em Redditch, compartilhando as descobertas feitas em suas jornadas e viagens. Trocam fotografias de rotatórias e mergulham em discussões profundas sobre os diferentes aspectos dessas “ilhas no meio do tráfego”.
Mais tarde, a empresa de Beresford cria um novo calendário apresentando as doze melhores rotatórias escolhidas naquele ano. Esses calendários são distribuídos e vendidos no final do ano, celebrando a beleza e a singularidade dessas estruturas encontradas nas estradas britânicas.
A primeira rotatória registrada foi o Columbus Circle, em Nova York, por volta de 1904, honrando o navegador Cristóvão Colombo. No Reino Unido, a primeira surgiu em Garden City de Letchworth em 1909. Inicialmente, não visavam melhorar o tráfego, mas sim auxiliar os pedestres na travessia das ruas.
A popularidade cresceu tanto que, em 1960, o Reino Unido desenvolveu uma versão compacta para espaços reduzidos. O ápice do desenvolvimento das rotatórias foi alcançado na polêmica “Magic Roundabout” em Swindon, composta por uma grande rotatória cercada por cinco outras menores. Conhecida como a rotatória mais confusa do Reino Unido, desafiou as convenções tradicionais.
Enquanto nossas cidades costumam empregar semáforos em interseções de múltiplas vias, na Europa, as rotatórias são muito comuns e preferidas em vez dos semáforos, especialmente na França, onde há mais de 30.000 delas. Nos Estados Unidos, elas não se popularizaram tanto.
Embora tenham sido originadas lá, as primeiras rotatórias modernas surgiram apenas nos anos 90. Contudo, o número delas cresceu significativamente, passando de algumas centenas para mais de 3.000 na última década.
Artigo publicado originalmente em julho de 2015
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