A Bocca della Verità, ou Boca da Verdade em português, é um dos fascinantes tesouros históricos de Roma, Itália. Localizada na Igreja de Santa Maria in Cosmedin, esta antiga máscara de mármore é um dos símbolos mais reconhecíveis da cidade e possui uma aura de mistério e lendas que perduram ao longo dos séculos.
Originalmente, a Bocca della Verità estava situada fora do pórtico da igreja de Santa Maria in Cosmedin, onde era acessível ao público. No entanto, durante as restaurações encomendadas pelo Papa Urbano VIII Barberini em 1631, a escultura foi emparedada na parede dos pronaos da igreja.
A aparência da Bocca della Verità é igualmente cativante. Esculpida em um único bloco de mármore pavonazzetto, com pouco mais de 1,75 metros de diâmetro e com peso aproximado de 1300kg, a máscara retrata um rosto masculino com uma expressão austera. Sua boca aberta, com olhos perfurados e detalhes meticulosos, é uma obra de arte impressionante, tanto pela habilidade técnica quanto pela aura enigmática que emana.
Acredita-se que a escultura tenha tido origens variadas, sendo possivelmente parte de uma fonte antiga romana ou até mesmo um tampão de bueiro. Quanto à figura representada, há sugestões de que seja um dos vários deuses romanos, provavelmente Júpiter Ammon, o deus Oceano. Entretanto, uma grande parte dos romanos associa a Bocca della Verità ao antigo deus fluvial do rio Tibre. Essas interpretações múltiplas e variadas contribuem para a aura de mistério e especulação que envolve essa icônica escultura de Roma.
A lenda mais conhecida atribuída a esta relíquia é a sua capacidade de “detectar” mentiras. De acordo com a tradição, uma pessoa colocava a mão dentro da boca aberta esculpida e proferia uma declaração verdadeira ou falsa. Supostamente, aqueles que mentiam teriam sua mão misteriosamente arrancada pela Bocca della Verità como punição divina.
Apesar de ser uma história encantadora, não há provas concretas de que a Bocca della Verità tenha sido usada para esse propósito. Ela provavelmente desempenhava um papel mais decorativo ou simbólico em estruturas antigas. Ainda assim, essa narrativa alimentou o imaginário popular e contribuiu para o fascínio que as pessoas têm por essa relíquia histórica. As lendas em torno desta estátua são diversas e intrigantes, todas centradas no mesmo princípio de detectar a mentira.
Uma dessas histórias remonta a um texto alemão do século XII traz um mito que se opõe ao imperador que tentou restaurar o paganismo. Detalhadamente, descreve como, por trás daquela boca, o diabo, representado como Mercúrio (curiosamente, o protetor do comércio e associado à trapaça), segurou a mão de Juliano. Este último havia enganado uma mulher e foi forçado a jurar sua boa fé diante daquela estátua, e é nesse momento que o diabo, na figura de Mercúrio, interveio.
O diabo fez uma promessa a Juliano, oferecendo-lhe redenção por sua tolice e grande fortuna, desde que ele trouxesse de volta as divindades pagãs à moda da época. Essa narrativa sugere um pacto intrigante entre Juliano e o diabo, envolvendo a Bocca della Verità como parte dessa interação sobrenatural, além de apresentar uma temática de tentação e barganha com forças sobrenaturais em troca de poder e riqueza.
Outra lenda intrigante envolve uma bela imperatriz romana, conhecida por seus casos de adultério, que, surpreendentemente, inseriu a mão na estátua sem sofrer qualquer punição. De acordo com relatos, ela escapou ao empregar um astuto artifício dialético, enganando até o próprio diabo.
Hoje em dia, a Bocca della Verità é uma atração turística muito popular em Roma. Os visitantes aguardam ansiosamente para tirar fotos enquanto colocam suas mãos dentro da boca da escultura, seguindo a tradição de antigamente, mesmo que agora seja mais por diversão e entretenimento do que por uma crença genuína em seu poder místico.
A inclusão da “Boca da Verdade” nos guias de viagem de Roma ganhou destaque graças ao icônico e encantador filme dirigido por William Wyler. Nesse filme, Gregory Peck, famoso por seu papel em “To Kill a Mockingbird”, pregou uma peça em Audrey Hepburn durante as filmagens. Enquanto explicava a lenda da estátua, o renomado ator inseriu a mão na boca, fingindo ser atacado, e depois retirou o braço com a mão escondida atrás da manga.
A reação genuína e surpresa de Audrey Hepburn foi tão cativante que o diretor decidiu incluir essa cena memorável no filme. Esse pequeno gesto improvisado se tornou parte da história do cinema, agregando um toque especial à narrativa e contribuindo para a popularidade duradoura da “Boca da Verdade” como destino turístico em Roma.
A preservação e a história por trás da Bocca della Verità continuam a encantar e intrigar os visitantes de Roma, oferecendo um vislumbre fascinante da rica e lendária herança da cidade.
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