A Catarata Gocta permaneceu oculta no coração da selva amazônica peruana, supostamente protegida pela lenda de uma sereia de extraordinária beleza. Sua descoberta ocorreu apenas alguns anos atrás, revelando suas águas que despencam em duas quedas distintas no rio Chachapoyas. Gocta está situada nas proximidades das aldeias de Cocachimba e San Pablo, no distrito de Valera, província de Bongará, no departamento de Amazonas, a aproximadamente 700 quilômetros a nordeste da capital do país, Lima.
A Catarata del Gocta possui duas quedas d’água distintas: uma menor com 231 metros e outra maior com 540 metros, totalizando 771 metros de espetáculo natural. Apesar de ser conhecida pelos habitantes locais por séculos, sua existência só veio a público após uma expedição em 2002 liderada pelo engenheiro alemão Stefan Ziemendorff, acompanhado por um grupo de exploradores peruanos. Eles descobriram a catarata enquanto investigavam sarcófagos na margem oposta do Vale Utcubamba, na província de Luya-Lamud.
A queda d’água é visível a vários quilômetros de distância e recebeu o nome de Gocta devido ao som semelhante ao “goc goc” produzido por alguns desvios de água ao cair, que se assemelha ao som feito por um grupo de macacos que habitam a região quando percebem a presença de estranhos. Essa peculiaridade sonora contribuiu para o batismo da catarata.
Na época da descoberta, Ziemendorff conseguiu persuadir o governo peruano a realizar o mapeamento e medição da altura das quedas. Em 11 de março de 2006, após sua terceira expedição à região, ele convocou uma coletiva de imprensa. O conteúdo dessa conferência foi amplamente divulgado por vários veículos de notícias ao redor do mundo. Ziemendorff afirmou que a altura total da Catarata del Gocta era de 771 metros, classificando-a como a terceira catarata mais alta do mundo.
Segundo sua medição, Gocta ficava atrás apenas de duas outras cataratas em altura: o Kerepakupai Merú, mais conhecido como Salto Ángel, na Venezuela, com 972 metros, e as Quedas de Tugela, na África do Sul, com 948 metros de altura. Essa revelação despertou grande interesse e colocou Gocta em destaque como uma das quedas d’água mais imponentes do mundo.
É interessante notar como a classificação das cataratas pode variar ao longo do tempo com base em diferentes fontes e dados coletados. Parece que a afirmação inicial de Ziemendorff sobre a Catarata de Gocta como a terceira mais alta do mundo foi contestada devido a informações ultrapassadas e incompletas da National Geographic Society.
Na época, várias fontes, incluindo enciclopédias, livros de referência e páginas da web, posicionaram Gocta como a quinta catarata mais alta, logo atrás de outras como Ramnefjellsfossen e Mongefossen, ambas localizadas na Noruega. No entanto, ao longo dos anos, houve um esforço para organizar e classificar todas as cataratas com base em dados mais precisos sobre suas alturas.
Atualmente, o World Waterfall Database, uma fonte que cataloga cataratas em todo o mundo, classifica a Catarata de Gocta como a 17ª mais alta do mundo. Essas variações nas classificações ressaltam a importância de atualizar e revisar constantemente as informações sobre esses fenômenos naturais para uma compreensão mais precisa e atualizada de suas alturas e posicionamentos em rankings globais.
Essa lenda envolvendo a Catarata del Gocta é verdadeiramente fascinante e demonstra como as histórias locais podem influenciar a percepção e o conhecimento de um lugar por muitos anos. A narrativa de uma sereia de cabelos brancos e uma embarcação dourada, amaldiçoando aqueles que revelam a existência da catarata, contribuiu para manter o local escondido na selva por um longo período.
De acordo com a lenda, essa suposta sereia reside nas águas de Gocta, como um espírito cujos cabelos fluem pelas enormes paredes em forma de U no fundo da catarata. Além disso, há o relato de uma cobra gigante, conhecida como La Chorrera pelos habitantes locais, que atua como guarda-costas da sereia na catarata.
Um evento perturbador ligado a essa lenda é o desaparecimento de Juan Mendoza, um habitante local que supostamente foi vítima de um feitiço em uma das rochas gigantes situadas atrás da catarata. Essas histórias folclóricas e eventos inexplicáveis reforçam a crença na maldição associada à revelação da existência da catarata, mantendo-a envolta em mistério e receio por muitos anos na região de Chachapoyas.
É incrível ver como a região ao redor da Catarata del Gocta está se desenvolvendo para o turismo. Com a construção de um pequeno hotel a uma distância de 10 quilômetros da base da cachoeira, os visitantes têm a oportunidade de desfrutar de quartos com vista para esse espetáculo natural incrível. As trilhas a pé ou a cavalo até a base da cachoeira proporcionam uma experiência ainda mais próxima dessa maravilha da natureza.
A cidade próxima, situada a uma altitude de 2.235 metros, oferece um ponto de partida para os turistas que desejam explorar essa área. A queda d’água está localizada em uma altitude ligeiramente mais elevada, o que ocasionalmente permite que nuvens passem, criando uma atmosfera misteriosa e encantadora.
Com cerca de 1.300 habitantes na área da floresta amazônica, os moradores de Chachapoyas estão buscando o apoio do governo peruano para transformar o local em uma atração turística oficial, protegendo-o por meio da designação de reserva natural. Essa medida não apenas preservaria o ambiente natural, mas também ajudaria a promover o turismo de forma sustentável. Tudo isso ocorre enquanto a lenda da sereia e sua cobra continua a adicionar um toque de mistério e fascínio à região, algo que certamente atrai a curiosidade dos visitantes.
Adicionar comentário