A cerca de vinte quilômetros ao norte das espetaculares Cataratas do Iguaçu, ao longo da fronteira entre o Brasil e o Paraguaí, havia outra maravilha natural ainda mais espetacular que a do Iguaçu. As chamadas Cataratas de Guaíra ou Salto de Sete Quedas, que foram uma série de imensas cachoeiras no Rio Paraná, localizadas em um ponto onde o rio era forçado através de um desfiladeiro, estreitando abruptamente de cerca de 380 metros para 60 metros.
Foram as maiores cachoeiras do mundo em volume de água, sendo o dobro de volume d’água das Cataratas do Niágara na divisa dos Estados Unidos e Canadá e treze vezes mais caudalosas que as Cataratas de Vitória na Zâmbia. Apesar do nome de Sete Quedas, elas na realidade eram constituídas por dezenove cachoeiras principais, sendo agrupadas em sete grupos de quedas.
Números básicos revelam o volume das águas que rompiam pelas Sete Quedas: na altura de Guaíra, o Rio Paraná guardava proporções de rios amazônicos, com um leito de quatro quilômetros de largura. De repente, bem na frente da cidade, todo esse mar de água doce convergia para um degrau estreito e profundo, que reduzia a largura do leito para míseros 200 metros.
Numa soma de todos os desníveis desse imenso degrau – como o ponto mais acidentado e alto, onde despontavam as quedas -, o Rio Paraná perdia 100 metros da altitude. Os geólogos calculam que, para desgastar 1 metro da rocha basáltica da qual se compõe o fundo do rio, são necessários 500 anos de ação de águas correntes.
A natureza, portanto, havia levado 50.000 anos para esculpir cada detalhe da região das Sete Quedas. As Sete Quedas eram as únicas cachoeiras do mundo com visitação sobre a parte superior, através das pontes penseis, uma experiência única e inexistente até hoje.
A água agitada produzia um som ensurdecedor que podia ser ouvido a trinta quilômetros de distância, seu canal principal possuía quatro quilômetros e profundidades entre 140 e 170 metros. Guaíra chegou a ser a cidade turística mais visitada do Brasil até que em 1966 foi decretada a submersão do Salto das Sete Quedas através da Ata do Iguaçu, onde ocorreria o seu desaparecimento com a formação do lago da Usina hidrelétrica de Itaipu.
O governo havia decretado que a construção da Usina de Itaipu iria alagar as Setes Quedas, uma área em litígio entre Brasil e Paraguai devido a uma demarcação territorial sob a Serra de Maracaju. No entanto resquícios delas aparecem quando o nível de água do Lago de Itaipu está baixo, normalmente quando várias tomadas de água na usina de Itaipu são utilizadas simultaneamente. Guaíra significa em tupi-guarani “o intransitável, além do que não se pode passar“.
A Usina de Itaipu é a maior usina hidrelétrica em operação em termos de geração anual de energia, gerando cerca de 100 TWh de energia por ano, o que representa 75% da eletricidade consumida pelo Paraguai e 17% da energia consumida pelo Brasil. Para construir uma represa tão massiva, alguns sacrifícios tiveram que ser feitos, e um deles foi inundar as Cataratas do Guaíra.
As barragens da hidrelétrica represaram o rio. Entre Foz do Iguaçu e Guaíra, ás águas correntes e férteis do Rio Paraná deram vez a um lago artificial de 1350 quilômetros quadrados. O Rio Paraná, 120 metros mais alto, afogou fazendas, pontes e até uma cidadezinha, Itacorá.
Quando da construção da Usina Hidrelétrica de Itaipu (Que no início das sondagens sobre o potencial hidrelétrico do Rio Paraná, se chamaria Usina de Sete Quedas), ocorreu uma super visitação ao Parque Nacional das Sete Quedas. Milhares de pessoas, de todas as partes do Brasil e do mundo, iam a Guaíra para presenciar os últimos dias das Sete Quedas.
Devido à superlotação, em 17 de Janeiro de 1982 ocorreu a queda da ponte Presidente Roosevelt, que dava acesso ao Salto dezenove, tendo como consequência a morte de 32 pessoas. No entanto, seis pessoas sobreviveram, salvas por pescadores de Guaíra. A investigação apontou para uma dupla causa: primeiro, a falta de cuidado com a manutenção das pontes sob a presunção de que em breve as Sete Quedas seriam inundadas; e depois, o aumento descontrolado da visitação, pois todos queriam ver as quedas antes de seu desaparecimento para a formação do lago de Itaipu.
Às vésperas da inundação, uma grande manifestação ocorreu no parque nacional das Sete Quedas. Centenas de pessoas se reuniram e realizaram o ritual indígena Quarup, em memória das Sete Quedas. Em 13 de outubro de 1982, o fechamento das comportas do Canal de Desvio de Itaipu começou a sepultar, com as águas barrentas do lago artificial, um dos maiores espetáculos da face da Terra: as Sete Quedas do Rio Paraná ou “Saltos del Guaíra”.
A inundação das Sete Quedas durou apenas 14 dias, pois ocorreu em uma época de cheia do Rio Paraná, e todas as usinas hidrelétricas acima de Itaipu abriram suas comportas, contribuindo com o rápido enchimento do lago. O alagamento das Sete Quedas ocorreu somente nos dois últimos dias do alagamento total, ou seja, no décimo segundo dia de alagamento.
Portanto, em 27 de outubro de 1982, 14 dias após o início do enchimento do Lago de Itaipu, o lago estava formado e as quedas, submersas. Nos dias seguintes ao alagamento, apenas as copas das árvores ficavam acima do nível do rio. O governo brasileiro dinamitou posteriormente a face da rocha submersa das quedas, para promover uma navegação mais segura no rio. O diretor da empresa que construiu a barragem, emitiu um comunicado dizendo: “Não estamos destruindo as sete cataratas. Só vamos transferi-la para a represa de Itaipu, cujo vertedouro será um substituto para a beleza das cataratas“.
O sumiço das Sete Quedas foi apenas mais um capítulo da decadência de Guaíra. Fundada por espanhóis em 1556, era uma missão importante de jesuítas, que chegaram para catequizar os guaranis – famílias antigas ainda preservam diálogos em castelhanos e guarani.
Em posição estratégica na fronteira com o Paraguai, Guaíra acabou subjugada por bandeirantes e viveu dias de bonança no começo do século 19, quando era controlada por uma companhia produtora de mate. A partir dos anos 60, com os lucros do turismo nas Sete Quedas, chegou a ter 65.000 moradores. Atualmente conta com 33.000 habitantes.
Após o local ser inundado
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