Estrutura de Richat, o Olho do Saara

A Estrutura Richat, também conhecida como Olho do Saara ou Olho da África, é uma marcante formação circular localizada no deserto do Saara, no centro-oeste da Mauritânia, próxima a Ouadane. Situada em meio a milhares de quilômetros quadrados de deserto praticamente inexplorado, esta notável série de círculos concêntricos, abrangendo de 40 a 50 km de diâmetro, é facilmente discernível quando observada do espaço. Essa característica proeminente no deserto do Saara tem despertado a curiosidade desde os primeiros voos espaciais, devido à sua semelhança com um alvo gigantesco.

A estrutura foi primeiramente descrita nas décadas de 1930 e 1940, sendo referida como Cratera Richât ou Boutonnière du Richât, o “botão do Richât”. Richard-Molard (1948) propôs que essa formação resultava de uma elevação lacolítica. Uma expedição geológica à Mauritânia liderada por Théodore Monod em 1952 documentou quatro “irregularidades crateriformes ou circulares” na região, nomeadamente Er Richât, Aouelloul (ao sul de Chinguetti), Temimichat-Ghallaman e Tenoumer.

No entanto, diferentemente das primeiras suposições que a associavam a uma cratera antiga causada por um meteorito, a Estrutura Richat revelou-se como algo distinto. Seus círculos concêntricos não são resultado de um impacto de meteorito, mas sim da intercalação de camadas de rochas sedimentares, metamórficas e ígneas, que foram impulsionadas para cima formando uma cúpula geológica simétrica, conhecida como anticlinal, devido à intrusão de uma pequena quantidade de magma. Com o passar do tempo, a erosão desgastou significativamente essa estrutura, expondo as diversas camadas de rocha.

As rochas sedimentares expostas nessa cúpula variam em idade, abrangendo desde o final do Proterozoico, cerca de 2,5 bilhões de anos atrás, no núcleo da cúpula, até rochas de arenito do Ordoviciano, datadas de cerca de 480 milhões de anos atrás, nas bordas circundantes da formação. Esse registro geológico multifacetado oferece insights valiosos sobre as mudanças que ocorreram na região ao longo de bilhões de anos.

Inicialmente interpretada como uma estrutura resultante do impacto de um asteroide devido à sua notável circularidade, a Estrutura Richat agora é reconhecida como uma cúpula geológica profundamente erodida e altamente simétrica. Apesar de extensas pesquisas de campo e análises laboratoriais, os geólogos não encontraram evidências substanciais de metamorfismo de choque ou quaisquer sinais de deformação característicos de um impacto vindo do espaço.

Adicionalmente, a Estrutura Richat destaca-se pela ausência da depressão anular que caracteriza grandes estruturas de impacto extraterrestres de tamanho semelhante. Essa peculiaridade a distingue significativamente das formações resultantes de impactos cósmicos. Além disso, o contraste com essas grandes estruturas extraterrestres é acentuado pela notável integridade dos estratos sedimentares que constituem a Estrutura Richat. Estes estratos mantêm uma organização distintamente “ordenada” e carecem das inclinações abruptas e blocos desordenados associados a impactos.

Uma investigação mais aprofundada, conduzida por meio de análises multianalíticas recentes das megabrechas na área da Estrutura Richat, revelou que os carbonatos presentes nas megabrechas, ricas em sílica, provavelmente se originaram de águas hidrotermais de baixa temperatura. Essa descoberta enfatiza a necessidade de um exame minucioso da origem da estrutura e sua proteção especial, o que pode abrir portas para investigações futuras.

Fontes: 1 2

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