Lago George: o lago que desaparece
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Lago George: o lago que desaparece

A aproximadamente 40 quilômetros a nordeste de Canberra, na Austrália, e situado ao lado da Rodovia Federal a caminho de Goulburn e Sydney, encontra-se um vasto lago que, no entanto, nem sempre se revela aos olhos. Dependendo da estação do ano ou do momento da visita, suas características podem variar entre uma ampla extensão de água e pastagens pantanosas.

Lake George (ou Weereewa ou Ngungara na língua Ngunnawal) exibe uma natureza notavelmente volúvel. Suas águas aparecem e desaparecem como uma ilusão. Há relatos de recuos de até um quilômetro de suas margens ao longo de uma única noite. Quando pleno, o lago abrange uma área de 155 quilômetros quadrados, alcançando sua extremidade leste próxima à beira da rodovia. Contudo, frequentemente seca a ponto de permitir a utilização de seu leito como pastagem.

Crédito da foto: 
Andrew Jens/Google Maps

O Lago George ostenta uma das mais antigas formações lacustres do mundo, com estimativas que apontam para sua criação há mais de um milhão de anos. Inicialmente, não existia o lago em si, apenas pequenos riachos oriundos da Grande Cordilheira Divisória, que direcionavam suas águas para o rio Yass. Entretanto, uma série de eventos geológicos, incluindo uma elevação, propiciou o surgimento da escarpa do Lago George, criando assim uma espécie de represa natural que interrompeu o fluxo dos riachos em direção ao rio e, consequentemente, dando origem ao próprio lago.

A peculiaridade do Lago George é que, por não possuir uma saída natural, acumulou ao longo de milênios todos os sais e nutrientes provenientes de sua bacia hidrográfica. Isso resulta em um fenômeno onde, quando as águas do lago estão em sua fase líquida, elas adquirem uma salinidade comparável à das águas marinhas.

O leito quase seco do Lago George. 
Crédito da foto: 
Jerry Skinner/Flickr

No início do século XIX, o lago detinha dimensões consideravelmente maiores, o suficiente para sustentar atividades comerciais de pesca, notadamente a do bacalhau Murray. Contudo, já na década de 1840, a situação havia mudado de tal forma que o lago se encontrava tão ressecado que era possível atravessá-lo de carro. O subsequente aumento no nível da água, algumas décadas depois, fomentou visões de um resort à beira do lago, inclusive com a inclusão de barcos a vapor. No entanto, ao virar do próximo século, o lago voltou a secar, deixando ao abandono antigas casas de barcos, cais, embarcações e lanchas em estado de decomposição nas margens que um dia foram suas.

O geólogo australiano Patrick De Deckker relata que a última vez em que testemunhou o Lago George cheio foi em 1971. Uma década antes, a região abrigava uma próspera indústria pesqueira, destacando uma vasta população de redfins. No entanto, o panorama começou a mudar no final dos anos 1960, quando o lago quase secou e a população de peixes declinou. A sequência de eventos que se desenrolou nos anos seguintes é notável: secou novamente em 1986, encheu-se em 1996, voltou a secar de 2002 a 2010, e desde então, o lago tem experimentado um gradual aumento no nível da água, com um relatório de alto nível de água em setembro de 2016.

Crédito da foto: 
Nicholas Cull/Flickr

A razão subjacente às dramáticas oscilações no nível da água do Lago George permaneceu um enigma por muito tempo. Algumas teorias sugeriam que a água provinha de uma fonte subterrânea misteriosa e era escoada através de fissuras na terra para destinos tão distantes quanto China, Nova Zelândia ou até mesmo o Peru.

Porém, Patrick De Deckker desvenda esse mistério ao explicar que, na verdade, o Lago George consiste em uma depressão que se transforma em um lago quando inundada. Perpetuamente, há água presente abaixo do leito do lago, e surpreendentemente, essa água é salina. Quando ocorre uma maior precipitação, o lago se enche.

Crédito da foto: 
Ian Sanderson/Flickr

A origem da água do Lago George deriva completamente das chuvas e do escoamento local, sendo a evaporação a única forma de saída para as águas do lago. Devido à sua profundidade limitada, cada um dos processos naturais mencionados torna-se mais evidente do que em corpos d’água mais profundos. Adicionalmente, os ventos fortes frequentes que varrem o lago têm um efeito similar ao de uma tempestade, contribuindo para os episódios misteriosos de enchimento e secagem que foram observados em questão de horas.

Em períodos de abundância de água, o Lago George adquire o papel crucial de habitat e berçário para uma rica variedade de aves aquáticas, mamíferos, répteis e anfíbios. O local já testemunhou mais de duzentas espécies de animais e aves. Em 1901, o Lago George estava na disputa para se tornar a capital da Austrália, entretanto, essa aspiração encontrou seu fracasso já no ano subsequente, devido a uma severa estiagem. Nesse contexto, uma comitiva de senadores visitou o lago e deparou-se com um cenário completamente árido, visto que as águas haviam desaparecido por completo.

Uma impressão artística de Lake George como a capital da Austrália. 
(Escritório de Arquivos de NSW)
Parte do Lago George em 2020, depois de ter sido parcialmente preenchido por vários dias de chuva. Crédito da foto: wikipedia.org

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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