Animais & Natureza

Globsters: Quando monstros marinhos encalham nas praias

Em 1960, Ivan T. Sanderson encontrou uma carcaça disforme em uma praia da Tasmânia, a qual se dizia “sem olhos visíveis, sem cabeça definida e sem estrutura óssea aparente“, e sem poder identificar de qual animal era a tal massa disforme, deu lhe o nome de Globsters e desde então, esta palavra é usada pelos criptozoologistas para designar uma massa orgânica não identificada que aparece nas praias, margens de rio e lagos, e até mesmo nos estômagos de baleias mortas. Há registros de vários globsters que encalharam em diversas praias pelo mundo afora, e que os moradores locais chamam de “monstros marinhos”. Tais massas orgânicas também são chamadas de Blob.

Muitos pesquisadores acreditam que os globsters nada mais são do que a carcaça de gigantescas baleias. Seus corpos são cobertos por colágenos, uma fibra tão forte quanto aço. Nas baleias a pele é feita de colágeno e pode chegar a ter trinta centímetros de espessura e é assim para poder aguentar a enorme pressão da água sobre seus corpos. Em seus mergulhos, muitas baleias chegam a 3.000 metros abaixo do nível do mar.

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Globster que apareceu na praia nas Filipinas em 2018

Quando tais baleias morrem, o corpo fica boiando, sendo castigados pelas ondas, chocando nas pedras e recifes e sendo atacado por predadores que vão conseguir romper a parede de colágeno, para comer as entranhas do animal. Com a força da gravidade, os ossos vão com o tempo escorrendo pelo espaço rompido e saindo do corpo, deixando apenas a massa orgânica que algum dia, já foi um animal identificado. Tais globsters também podem ser polvos ou lulas gigantes. Há ainda uma hipóteses que sejam a carcaça do tubarão Megalodonte, extinto oficialmente a 1,5 milhões de anos atrás. Veja alguns casos de globsters registrados:

O monstro marinho de Santo Agostinho

Em novembro de 1896, Herbert Cols e Dunham Coretter andavam de bicicleta pela Ilha Anastasia, perto de Santo Agostinho, na costa atlântica da Flórida, Estados Unidos, quando se depararam com uma enorme carcaça parcialmente enterrada na areia, tendo afundado sob seu imenso peso. Os rapazes pensaram se tratar de uma baleia e relataram sua descoberta ao médico local, dr. DeWitt Webb, que também era o fundador da Sociedade Histórica de Santo Agostinho e do Instituto de Ciências.

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O médico visitou a carcaça no dia seguinte e constatou que não era uma baleia, mas não sabia dizer de que animal era aquela massa de carne decomposta. Não havia nenhuma característica definidora, nenhum osso, nenhum olho e nenhum apêndice que pudesse servir para identificar a criatura. A carcaça era de um rosa muito pálido, quase branco, com reflexos prateados à luz do sol.

Era composto de uma substância parecida com borracha de consistência muito dura, de tal forma que só podia ser cortada com grande dificuldade. A parte da carcaça que era visível media aproximadamente 6 metros de comprimento e dois metros e meio de largura. Webb estimou seu peso em quase cinco toneladas, e acreditava que eram os restos de um polvo gigante, pois parecia ter os cotos de quatro braços, com outro braço enterrado nas proximidades.

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Algumas semanas depois, Webb enviou fotografias da criatura a Joel Asaph Allen, zoólogo da Universidade de Harvard. As imagens e carta em anexo chegaram as mãos do prof. Addison Emery Verrill da Universidade de Yale, que na época era o maior especialista em cefalópodes do país. No começo, Verrill sugeriu que a carcaça poderia representar os restos de uma lula gigante, mas depois mudou de ideia e escreveu que a carcaça era de fato um polvo gigante. Em fevereiro do ano seguinte, quase dois meses após a descoberta inicial, a criatura tinha um nome: Octopus giganteus.

O médico de Santo Agostinho mandou arrastar a carcaça para o interior com a ajuda de seis cavalos, para que o espécime não se perdesse no mar. Lá em seu lugar de descanso final na Ilha Anastasia, a massa decomposta virou uma atração turística e foi visitada por um grande número de pessoas. O que aconteceu com a carcaça depois disso não é conhecida. Talvez o cheiro se tornou insuportável e foi enterrado na areia, ou talvez tenha sido arrastada de volta para o mar.

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O médico DeWitt Webb ao lado da carcaça encontrada na praia

Com a carcaça perdida, amostras da carne do animal foram submetidas a inúmeros testes nos próximos cem anos. Uma análise realizada na década de 1970, confirmou que o monstro marinho de Santo Agostinho era um polvo. “As implicações são fantásticas“, escreveu Joseph F. Gennaro Jr., biólogo celular da Universidade da Flórida, em março de 1971, na edição da revista Natural History. “A ideia de um polvo gigantesco com braços de 23 a 30 metros de comprimento e cerca de meio metro de diâmetro na base – uma extensão total de cerca de 61 metros – é difícil de compreender.

Essa observação foi endossada quinze anos depois em um outra análise. Roy Mackal, um bioquímico da Universidade de Chicago acreditava que a carcaça pertencia a um gigantesco cefalópode, provavelmente um polvo.

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Ilustração de como deve ter sido a luta da suposta criatura com duas baleias orcas

Em 1995, com o avanço da microscopia eletrônica e análise bioquímica permitiu que as amostras fossem estudadas em maior detalhes. Desta vez, descobriu-se que a massa encontrada no animal era colágeno puro, a proteína estrutural encontrada na pele. Os pesquisadores concluíram que o globster eram os restos da pele de baleia “nada mais ou menos”. Análises subsequentes confirmaram que a massa era de fato, carne de baleia. O monstro de Santo Agostinho foi a primeira evidência documentada de um gigante que foi fotografado, retirado amostras e pesquisado por quase um século.

Trunko

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Trunko é o nome dado para um globter que apareceu em uma praia de Margate, ao sul de KwaZulu-Natal, na África do Sul em outubro de 1924, de acordo com um artigo no jornal Daily Mail de Londres intitulado “Fish Like A Polar Bear” (Urso polar gosta de peixes). Esta criatura detém o título como único gobster descoberto vivo. Segundo relatos, a besta se esforçou para escapar de duas orcas, e lutou durante três horas antes de finalmente encalhar e morrer.

Testemunhas oculares relataram ter visto a criatura, que se assemelhava a um “urso polar gigante”, atacando as orcas com sua cauda. Mais tarde, sua carcaça apareceu em Margate, onde permaneceu por dez dias, mas infelizmente, nenhum pesquisador teve a oportunidade de estudar o animal. Algumas pessoas descreveram o animal como possuindo pelo branco como a neve, um tronco de elefante, uma causa parecida com uma lagosta e de sua carcaça não saiu sangue.

Enquanto permaneceu na praia, o animal foi medido por populares, e tinha 14 metros de comprimento e três metros de largura por 1,5 metros de altura. Dizia-se que o tronco estava preso diretamente ao tronco do animal, já que nenhuma cabeça era visível na carcaça. Por estas características, a criatura foi apelidada de “Trunko” pelo criptozoologista britânico Karl Shuker em seu livro “The Unexplained” de 1996. Décadas mais tarde, paleontologistas que estudaram as poucas fotografias do monstro, chegaram à conclusão de que Trunko era a carcaça de uma baleia.

Globster da Tasmânia

Globsters, quando monstros marinhos encalham nas praias
Manchete relatando sobre o monstro marinho que apareceu na praia

O Globster da Tasmânia ou Tasmanian Blob era uma grande carcaça não identificada que foi arrastada para a costa a 3,2 quilômetros ao norte do rio Interview, no oeste da Tasmânia, em agosto de 1960. Media cerca de sete metros por 5,5 metros de largura e foi estimado que pesasse entre 5 a 10 toneladas.

A massa carecia de olhos e, no lugar de uma boca, tinha “protuberâncias suaves e semelhantes a presas”. Tinha uma espinha, seis braços macios e carnudos e cerdas duras e brancas cobrindo o corpo. A carcaça foi identificada como uma baleia, duas décadas mais tarde, por L.E Wall, da revista Tasmanian Naturalist em 1981, usando microscopia eletrônica para analisar a fibra de colágeno. O termo “globster” foi inventado para descrever essa carcaça.

A Besta de Stronsay

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Após uma tempestade na ilha de Stronsay, em 1808, localizado nas Ilhas Orkney, na Escócia, uma criatura gigantesca, em forma de serpente foi encontrada em terra. Nos dias atuais, mais de duzentos anos após a descoberta, a criatura permanece totalmente sem explicação. Em termos de aparência, ela compartilhava características muito semelhante ao do chamado monstro do Lago Ness –  pescoço e  cauda  extremamente longos e finos, com um torso mais amplo, com três pares de patas curtas unidas. A criatura tinha uma juba de cerdas que descia do pescoço até a parte inferior das costas.

Relatos dizem que a criatura tinha dezessete metros de comprimento. Talvez tivesse sido ainda maior, devido a grande parte da cauda estar decomposta. Na época, Sociedade de História Natural de Edimburgo tentou classificar a criatura, mas não conseguiu. No presente, muitas estudiosos têm tentado explicar o enigma da Besta de Stronsay, mas dada a ausência de fotografias, é provável que o mistério jamais seja resolvido.

Blob Chileno

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Uma gigantesca massa de treze toneladas e tecido avermelhado foi encontrada na praia de Pinuno, em Los Muermos, no Chile em julho de 2003. A carcaça tinha 12,5 metros de comprimento e 5,8 metros de largura. Este globster se diferencia por uma série de peculariedades significativas.Talvez o mais óbvio seja seu tamanho descomunal. A textura da carcaça era parcialmente translúcida, levando muitos biólogos identificar erroneamente a criatura, dizendo ser uma espécie desconhecida de polvo gigante. Por esta razão, a carcaça virou manchete em jornais em todo o mundo, após a sua descoberta inicial.

Alguns crentes mais entusiastas apresentaram alegações de que a criatura era os restos parciais de um leviatã (criatura mitológica de grandes proporções considerada pela Igreja Católica durante a Idade Média, como o demônio representante do quinto pecado, a inveja). A criatura tem sido considerada como sendo uma carcaça de baleia cachalote, embora muitos biólogos contestam essa versão, devido a ausência total de ossos no espécime. A carcaça foi levado para ser preservado por cientistas chilenos, no entanto, por terem usado uma solução de formaldeído, acabaram destruindo a capacidade do laboratório de identificar certas sequências de DNA.

Carcaça de Zuiyo Maru

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Em abril de 1977, uma embarcação japonesa navegava ao leste de Christchurch, na Nova Zelândia, quando os tripulantes avistaram uma criatura estranha presa à rede de arrasto do navio, a uma profundidade de 300 metros. Eles então puxaram a maciça criatura para a superfície, de 1.800 kg, para descobrir que a carcaça possuí um cheiro forte de decomposição. Com dez metros de comprimento, um pescoço de até 1,5 metros, quatro grandes barbatanas avermelhadas e uma cauda de 2,1 metros de comprimento, ninguém soube identificar qual sua origem.

O capitão do navio, Akira Tanaka, decidiu despejar a carcaça novamente ao mar, mas antes uma coleção de fotografias foi registrada. Uma amostra da pele da criatura também foi retirada para análise. Logo, vários jornais no Japão publicaram artigos sobre o caso, e cidadãos de todo o país ficaram intrigados com a criatura. De acordo com um professor da Universidade de Yokohama, Tokio Shikama, tratava-se dos restos mortais de um plesiossauro pré-histórico extinto.

Em julho do mesmo ano, a Taiyo Fish Company publicou um relatório preliminar sobre as amostras de tecido, indicando uma semelhança em grupos de animais ainda vivos, incluindo o tubarão-frade, considerado segundo maior peixe do mar, que pode crescer até nove metros de comprimento. No entanto, o espécime em questão parecia ter cerca de doze metros.

Monstro peludo de Kamchatka

Em agosto de 2018, uma tormenta forte jogou para a costa de Kamchatka uma estranha carcaça com tamanho igual à altura de dois homens, ainda coberta de pelos. Uma residente local postou as fotos da criatura nas redes sociais, gravou um vídeo para o YouTube e pediu aos seus seguidores para descobrirem de quem é que se tratava. Aí, logo surgiram teorias de que os restos pertenciam a um mamute peludo ou a uma lula gigante.

Entretanto, os especialistas do Instituto de Pesquisa Científica em Pesca e Oceanografia de Kamchatka logo refutaram essas ideias e asseguraram que na foto estava o corpo de uma baleia ou de um tubarão grande que tinha perdido a gordura por causa da decomposição, além de ter ficado coberto por organismos marinhos.

Globsters das Filipinas

Uma massa disforme de uma criatura gigante e peluda apareceu na praia em Oriental Mindoro, província de Mimaropa, nas Filipinas, em maio de 2018. O animal tinha aproximadamente seis metros de comprimento e cheirava tão mal que as pessoas tinham que manter distância para, assustadas observar os restos do animal. Pesquisadores coletaram amostras para tentar identificar o animal através do DNA.

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Quanto à possibilidade de ser uma baleia, não seria o primeiro caso. A verdade é que uma das razões pelas quais os pesquisadores locais acreditam nesta hipótese é por já terem que lidar com essas massas volumosas e ambíguas, incluindo algumas criaturas estranhas que vieram em terra em outros lugares do país. As Filipinas é uma área muito afetada por tsunami, como foi há uns anos atrás e quando algo assim aparece pela região, os moradores locais dizem ser um presságio, anunciando que algo de ruim está por acontecer.

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Monstro marinho do Maine

Em julho de 2018, quando uma criatura marinha colossal de 4,5 metros encalhou nas costas de Maine nos Estados Unidos, sua decomposição era tão avançada que tornou-se quase irreconhecível. Um banhista a descreveu como uma massa disforme e a qualificou como “profundamente perturbadora”.

Devido às dimensões imponentes, muitos que testemunharam a cena presumiram que se tratava dos restos de uma baleia. No entanto, os especialistas foram enfáticos ao afirmar que não se tratava de um mamífero marinho, mas sim de um tubarão-frade, a segunda maior espécie de tubarão em nosso planeta. O corpo era tão colossal que foi necessária a intervenção de uma escavadeira para removê-lo da praia.

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Fontes: 1 2 3

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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