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Kudzu, a praga verde que cobre tudo

Originário do Leste Asiático, o kudzu foi trazido para a Filadélfia em 1876 como uma planta ornamental do Japão para a celebração do Centenário dos Estados Unidos. Mais tarde, foi utilizado para controlar a erosão e como forragem.

A Pueraria, em sua singularidade, representa a vitória do caos. Originária do Japão e parente da ervilha, essa videira foi introduzida nos Estados Unidos em 1876 como medida para conter a erosão do solo. Contudo, sua natureza despretensiosa e crescimento vertiginoso, alcançando até 30 centímetros por dia, a leva a envolver árvores, postes de iluminação e até edifícios, formando um tapete denso. Em cerca de 20 estados, centenas de milhares de hectares foram encobertos por essa expansão desenfreada.

No entanto, os impactos da Pueraria podem ser ainda mais devastadores. De acordo com cientistas da Universidade Clemson, na Carolina do Sul, a planta libera carbono dos solos dos ecossistemas invadidos. O ecologista Nishanth Farayil alerta: “Se persistir ao longo das décadas, esse processo pode acelerar as mudanças climáticas”.

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Conhecida nos Estados Unidos e no Japão como kudzu, a Pueraria lobata, originária do Leste Asiático, é rotulada como “câncer vegetal” ou “praga verde”. Em termos de conservação da natureza, as plantas invasoras são consideradas aquelas variedades exóticas que causam impacto negativo na flora, fauna e até mesmo nos seres humanos, devido às substâncias prejudiciais que carregam, além de deslocarem outras espécies nativas.

Na primavera, seu crescimento acelerado sombreia os brotos das plantas nativas, privando-as de luz, e essa voracidade já devastou vastas áreas no sudeste dos Estados Unidos. Agora, sua presença se estendeu ao Canadá. A Pueraria do Sul da Ásia foi identificada em julho numa encosta virada para o sul com vista para o Lago Erie, próxima a Leamington, Ontário, numa fazenda a cerca de 35 milhas a sudeste de Detroit, Michigan.

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Apesar de a área ocupada pela planta ter aproximadamente 110 metros de comprimento por 30 metros de largura, o OIPC – Comitê de Controle de Plantas Invasoras de Ontário – enfatizou a urgência de “ações imediatas para conter a propagação dessa planta invasora em Ontário”.

Com um crescimento diário de até 30 centímetros, essa leguminosa domina tudo em seu caminho: vedações, árvores, campos agrícolas e até mesmo estruturas edificadas. Sua densa e exuberante folhagem se agiganta sobre torres e linhas de energia elétrica, que cedem sob seu peso. As árvores sucumbem ou perecem por falta de luz sob sua cobertura.

O kudzu pode transformar uma paisagem inteira, convertendo-a em uma espécie de deserto. Ele está dizimando a diversidade das espécies“, explicou Rowan Sage, professor de ecologia da Universidade de Toronto, que estuda a planta há duas décadas. “Seu crescimento é exuberante. Produz brotos que se enrolam e se agarram, cobrindo e eliminando outras vegetações do ecossistema.

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Originário do Leste Asiático, o kudzu foi trazido para a Filadélfia em 1876 como uma planta ornamental do Japão para a celebração do Centenário dos Estados Unidos. Mais tarde, foi utilizado para controlar a erosão e como forragem. No entanto, acabou por invadir vastas áreas do sul dos Estados Unidos e, apesar dos esforços para contê-lo, expandiu-se para o norte. Os agricultores americanos gastam cerca de US$ 500 milhões anualmente na tentativa de controlar essa “trepadeira que devora o sul“.

Sage observa que a planta se espalhou por diversas regiões na América do Norte, além de ter sido identificada numa área desmatada da planície amazônica no Brasil. Ainda não se sabe quando a planta se estabeleceu no Canadá. Essa videira geralmente se propaga através do sistema radicular, mas também produz sementes (leguminosas). Podem surgir até 30 brotos a partir de uma única raiz. “Se uma raiz de kudzu for plantada, a planta crescerá, a menos que enfrente um inverno extremamente frio ou escassez de água“, ressalta Sage, explicando que as fibras da raiz do kudzu morrem a -20 graus Celsius.

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Os métodos eficazes para conter seu crescimento desenfreado incluem corte, poda, fogo controlado e uso de herbicidas. De acordo com o IOPC, animais como cabras e porcos têm sido bem-sucedidos na pastagem para controlar essa planta invasora.

Se você se deparar com uma, é crucial neutralizá-la imediatamente“, alerta Sage. “Quando se fortalece, medidas radicais se tornam necessárias. Removê-la é simples, mas sua capacidade de reprodução e regeneração torna sua erradicação uma tarefa custosa.” Altamente valorizada em seu país de origem por suas propriedades medicinais e seu crescimento robusto em pleno sol, essa planta pode transmitir o fungo da ferrugem da soja, o que reduz a produtividade das plantações de soja, a principal cultura ao sul de Ontário.

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Outras plantas invasoras, como o bambu japonês e o mil-folhas (Myriophyllum spicatum), migraram da Ásia para o Canadá. Na Europa, espécies invasoras também foram introduzidas ao longo do tempo, como é o caso do loosestrife, uma planta ornamental de jardim que invadiu áreas úmidas na América do Norte, deslocando as espécies nativas que ali habitavam.

A presença dessa planta semelhante a uma videira em Ontário está sendo monitorada e estudada, afirma Sage, e seu controle será realizado no outono com financiamento do governo federal e do governo de Ontário.

Kudzu, a praga verde que cobre tudo
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Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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