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Michelangelo e a Capela Sistina

O teto da Capela Sistina localizada na residência oficial do Papa, no Palácio Apostólico no Vaticano, Itália é constituído por um extenso afresco, pintado por Michelangelo Buonarotti. O afresco é uma técnica antiga, que resiste bem ao tempo. Antes de receber a tinta, a superfície é preparada com uma argamassa de cal queimada e areia umedecida (daí a origem do nome).

Ela seca rápido, o que exige pinceladas precisas e bem planejadas. A Capela Sistina, foi construída entre 1477 e 1480, a mando do papa Sisto IV, em homenagem ao qual foi nomeada, e a sua construção foi inspirada no Templo de Salomão. No local, acontecem o conclave (o processo pelo qual um novo Papa é escolhido) e outros importantes eventos da Igreja Católica.

Michelangelo e a Capela Sistina

As paredes da capela já haviam sido decoradas vinte anos antes, com o mais baixo dos três níveis pintado para lembrar cortinas drapeadas, até hoje cobertas com as tapeçarias de Rafael. A decoração do espaço como um todo foi criada por muitos dos mais renomados pintores da renascença, entre eles Botticelli, Ghirlandaio, Perugino, Pinturicchio, Luca Signorellie Cosimo Rosselli.

Em 1505, o papa Júlio II, sobrinho de Sisto IV e apelidado de “papa guerreiro” chamou-o a Roma para que projetasse e esculpisse seu túmulo. Ainda no início do projeto, o papa interrompeu o trabalho de Michelangelo e lhe fez outra encomenda: pintar o teto da Capela Sistina. O artista não queria o serviço, convencido que era mais um escultor que um pintor e também não se simpatizava com o papa desde o início.

Michelangelo e a Capela Sistina

Fazia oito meses que o artista estava na cidade de Carrara, famosa por seus mármores, selecionando pedras para o túmulo do papa. Nesse tempo, outro escultor, Donato Bramante (1444-1514) caiu nas graças da igreja e assumiu o projeto. Julgando que o afastamento dele fosse um conluio de seus rivais, Michelangelo topou então pintar o teto da Capela Sistina para provar a todos do que era capaz.

Demorou dois anos para Michelangelo aceitar o trabalho e o fez a contragosto, realizando a pintura em quatro anos, de 1508 a 1512. Michelangelo dedicou-se à tarefa e o fez com tanta maestria que ofuscou o brilho das obras-primas que seus antecessores já haviam pintado na Capela. Realmente, os afrescos no teto da Capela Sistina são um dos maiores tesouros artísticos da humanidade.

Michelangelo e a Capela Sistina

Um dos toques de genialidade de Michelangelo foi decidir cobrir os 680 metros quadrados do teto central da capela de 40,9 metros de comprimento por 14 metros de largura com nove cenas do Gênesis do Antigo Testamento da Bíblia, com mais de trezentas figuras. A “Criação de Adão” é a mais famosa, tendo uma representatividade icônica igualada somente pela Mona Lisa, de Leonardo da Vinci. Um símbolo da influência desse painel do afresco é o detalhe do encontro das mãos de Deus e Adão, reproduzido incontáveis vezes na arte e na cultura popular.

Michelangelo recusou ajuda na pintura. Aceitou pouquíssimos aprendizes, que faziam toda a parte “burocrática”: montavam andaimes, preparavam pigmentos, limpavam pincéis e ampliavam os originais que o gênio desenhava em menor escala. A extensão do teto era tão impressionante que Ascanio Condivi, aprendiz e biógrafo de Michelangelo, chegou a escrever que o convite para a tarefa havia sido feito por rivais de seu mestre – que torciam, claro, para que ele não conseguisse cumprir a missão. A pintura feita a uma altura de 13,4 metros, foi tão desgastante ao pintor, que ele chegou a compor um poema descrevendo as difíceis condições de trabalho durante a pintura do teto.

Michelangelo e a Capela Sistina

Trabalhando sobre andaimes, ora deitado ora de pé olhando para cima, Michelangelo levou quatro anos para terminar a pintura na capela sistina. O trabalho lhe rendeu muitas dores e dificuldades em baixar a cabeça para ler. Com 37 anos, depois de terminada a pintura, durante vários meses, só podia ler as cartas levantando-as acima dos olhos, pelo hábito nos andaimes. Seus amigos se impressionaram com o homem velho que ele se tornará.

Michelangelo e a Capela Sistina

Vinte anos depois, em 1534, Michelangelo com sessenta anos de idade iniciou o grandioso afresco de O Juízo Final, na parede atrás do altar da Capela Sistina, medindo 13,7 por 12,2 metros. Trabalho esse encomendado pelo Papa Clemente VII, mas a obra só teria começado após a morte deste Papa e já sob o pontificado de Paulo III. Este convocou o Concílio de Trento, dando início à chamada Contra-Reforma, e reativou o Tribunal do Santo Ofício da Inquisição para perseguir hereges, vigiar os fiéis e censurar a produção cultural.

O clima pessimista transparece na visão sombria de O Juízo Final (1534-41) onde Michelangelo expressou o conceito de Justiça Divina, implacável em relação aos condenados. Cristo na parte central da composição, é uma figura vigorosa e severa que contrasta com a figura delicada da Virgem Maria ao seu lado. Levou três anos a mais para ser feita, principalmente, devido ao grande tamanho do afresco, que dificultou enormemente ver o conjunto do que era pintado e dificultou se movimentar para pintar ou retocar diferentes partes do afresco.

Michelangelo e a Capela Sistina

O Juízo Final”, possivelmente a pintura mais famosa da Capela Sistina, quase foi destruída nos anos depois de primeiro ser mostrada ao público. Segundo a historiadora Elizabeth Lev, ela foi considerada pornográfica. A polêmica em torno de “O Juízo Final” “aconteceu ao longo de 20 anos de editoriais e denúncias, dizendo à Igreja: ‘Você não pode nos dizer como devemos viver nossas vidas. Por acaso notou a pornografia que tem exposta na capela do Papa?’” No total estão representados trezentos e noventa e um corpos, originalmente retratados a nu (incluindo a Virgem). Alguns insistiram que a obra devia ser destruída.

Michelangelo e a Capela Sistina

Anos mais tarde, a Igreja contratou Daniele da Volterra para cobrir algumas das genitálias pintadas – não para desfigurar a obra de Michelangelo, mas para salvá-la de ser destruída por aqueles que a consideravam obscena. No ano em que Michelangelo morreu, a Igreja aceitou uma medida de meio-termo para salvar a pintura. “O acordo previu que 30 figuras teriam sua genitália tapada, e essa foi a origem das folhas de figueira tapando genitálias”.

Entre 1980 e 1994, os afrescos do teto e altar realizados por Michelangelo foram restaurados. O trabalho é considerado um dos mais significativos em recuperação de obras de arte do século 20. Atualmente, a maior preocupação tem sido o crescente fluxo de turistas que já supera 20.000 visitantes diários totalizando, em 2015, cinco milhões de pessoas. Isso tem alertado autoridades e especialistas a buscarem novo sistema de climatização para ventilação, controle de umidade e temperatura e retirada de pó.

Michelangelo e a Capela Sistina

Um projeto fotografou a Capela Sistina por cinco anos, feito somente a noite, quando a capela não recebia visitantes e foram capturadas 270 mil imagens que exibem cada canto da obra. Além de servir de base para a restauração, o resultado deu origem a três volumes de livro que mostram detalhes incríveis da obra renascentista. Há uma edição limitada de 1.999 impressões. E elas são vendidas pelo equivalente a R$ 40 mil.

Michelangelo e a Capela Sistina
Michelangelo e a Capela Sistina
Michelangelo e a Capela Sistina
Michelangelo e a Capela Sistina
Michelangelo e a Capela Sistina
Concilio sendo realizado na capela
Michelangelo e a Capela Sistina
Capela Sistina vista de fora
Michelangelo e a Capela Sistina
Ilustração de como era a Capela Sistina antes da pintura de Michelangelo

Percorra a Capela Sistina em 360º

Fontes: 1 2 3 4

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