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Pedras da fome, as advertências do passado

A Europa enfrentou uma severa estiagem que trouxe à luz as intrigantes "pedras da fome", representando um sombrio alerta do passado, prenunciando épocas de escassez extrema. Ubíquas na região central europeia, essas pedras emergem nos leitos dos rios somente quando os níveis de água atingem mínimos históricos.

No verão europeu de 2018, a Europa passou por uma seca histórica que baixou o nível de muitos rios, deixando expostas pedras com inscrições deixadas por pessoas do passado que em algum momento da história, passaram pela mesma situação. Seca, fome, doenças e mortes.

Houve um tempo em que a chuva era a dádiva da vida. Sem chuvas, as plantações não cresciam e os animais não podiam ser alimentados e morriam. A situação era tão complicada que algumas pessoas queriam registrar esses períodos negros com inscrições em grandes rochas localizadas em rios.

Pedras da fome, as advertências do passado
Pedra da fome no rio Elba em Pirna | Crédito da foto

Tais pedras ficaram conhecidas por pedra da fome (em alemão: hungerstein) que serviram como memoriais e alertar sobre as consequências da fome que a população do passado sofreu, especialmente na Alemanha e em assentamentos étnicos alemães em toda a Europa, entre os séculos 15 e 19. A maioria dessas pedras foram encontradas no rio Elba, que começa na República Tcheca e cruza a Alemanha na direção do Mar do Norte. Algumas também apareceram no rio Reno, rio Mosel, rio Mündesee e no rio Weser.

Pedras da fome, as advertências do passado
Pedra da fome no rio Elba em Decín | Crédito da foto

O mais antigo e famoso destes marcos fica no distrito de Decín, no norte da República Tcheca, que contém uma inscrição que data de 1616 onde se lê: Wenn du mich siehst, dann weine” (em tradução livre, “Se você me ver, chore”). Em Techlovice, uma pequena cidade de apenas 500 habitantes, também localizada no distrito de Decín, há um texto que diz: “Nós choramos, choramos e choramos“. Os barqueiros da cidade foram os que descobriram a pedra em 1892.

Pedras da fome, as advertências do passado
Rio Elba em Decín | Crédito da foto

Enquanto o registro legível mais antigo nesta “pedra da fome” seja de 1616, a rocha registra numerosas secas que datam de 1417. Uma pedra na Alemanha, em Spreewald Trebatsch, perto de Berlim, também aponta para essa data, onde diz: “Se você voltar a ver esta pedra, então você vai chorar, tão rasa quanto a água foi no ano de 1417“.

Algumas pedras foram esculpidas após a crise da fome entre 1816 (o ano sem verão) e 1817 causada pelas erupções do vulcão Tambora (Indonésia). Em 1918, uma pedra de fome no leito do rio Elba foi exposta perto de Decín durante um período de escassez de água, coincidindo com as fomes da Primeira Guerra Mundial.

Pedras da fome, as advertências do passado
Pedra da fome, expostas devido ao baixo nível do rio Elba em Decín | Crédito da foto

Na segunda metade do século 19, as pedras da fome voltaram à luz pública quando foram documentadas por vários jornais e revistas. O jornal Teplice escreveu, em 30 de agosto de 1876, que a “consequência da seca prolongada é um triste espetáculo, o que não acontecia desde 1842: pedras da fome se destacam na ponte do rio Elba, em Dresden“.

Pedras da fome, as advertências do passado
Em Techlovice | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Em Niedergrund | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Em Königstein | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Em Wehlen, Ortsteil Pötzscha | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Pedras da fome em Dresden | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Inscrições em Pillnitz (Dresden) | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Pedra da fome exposta no museu Schönebeck | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Setembro de 2003 em Rhein bei Worms-Rheindurkheim | Crédito da foto
Pedras da fome, as advertências do passado
Crédito da foto: Alex Hindemith

Fontes: 1 2 3

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