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Cragside, a primeira casa do mundo a ter luz elétrica

William George Armstrong

Quase uma década antes de Thomas Alva Edson (1847-1931) começar a trabalhar em lâmpadas incandescentes e numa maneira mais acessível de levar o mundo brilhante da eletricidade para as casas vitorianas, uma bela casa de campo perto da cidade de Rothbury em Northumberland, na Inglaterra, havia sido totalmente abastecida por eletricidade e iluminada, fornecida por energia hidrelétrica.

Naquela época, não havia nenhuma rede elétrica disponível. Se as pessoas quisessem eletricidade, teria que gerá-la por conta própria. A maioria das pessoas não tinham o conhecimento tecnológico ou a inclinação para iluminar suas casas com lâmpadas elétricas. Mesmo se algumas delas quisessem, provavelmente não teriam dinheiro para concretizar seus desejos.

Cragside, a primeira casa do mundo a ter luz elétrica
Crédito da foto

Mas William George Armstrong, cientista, filantropo e inventor do guindaste hidráulico e também fundador da empresa de armamentos Armstrong Whitworth, era um magnata industrial, tinha a inclinação e dinheiro. Juntamente com o arquiteto Richard Normann Shaw, William construiu Cragside, uma mansão em estilo neo-tudor, se tornando a primeira casa do mundo a ser acesa usando energia hidrelétrica.

O edifício original era uma pequena pousada que William construiu entre 1862 e 1864, nas encostas de uma colina nos arredores de Rothbury. Após a reforma e ampliação, ele equipou a casa com todos os tipos de invenções maravilhosas, como uma lavanderia movida a água, uma versão inicial de uma máquina de lavar louça, um elevador hidráulico, uma churrasqueira hidroelétrica, um garçom mudo (um pequeno elevador que se movia entre andares), entre outras coisas.

Cragside, a primeira casa do mundo a ter luz elétrica
Crédito da foto

Para alimentar todas essas máquinas, William represou uma série de pequenos riachos na área, para criar um total de cinco reservatórios. Em um deles, ele instalou um motor hidráulico que acionou as muitas máquinas hidráulicas de sua casa. Um ano depois, em 1870, William instalou um dínamo criando a primeira usina hidrelétrica doméstica do mundo. A eletricidade desta usina foi usada para abastecer Cragside e também uma serraria e muitos outros edifícios agrícolas da propriedade.

A primeira sala da casa a ser eletricamente iluminada era a sua galeria de artes. Apenas uma única lâmpada de arco pendia do teto. Mais tarde, toda a casa foi ligada e abastecida de eletricidade. Em determinado momento, havia apenas doze lâmpadas suspensas na galeria e oito lâmpadas adicionais que podiam ser ligadas quando as lâmpadas da sala de jantar não eram mais necessárias.

Cragside, a primeira casa do mundo a ter luz elétrica
Turbina em parafuso instalada em 2014, necessária atualmente para fornecer energia elétrica em toda a mansão | Crédito da foto

William continuou a ampliar e melhorar sua usina de energia aumentando sua capacidade em muitas vezes. Mas depois de sua morte em 1900 com 90 anos de idade, a casa foi abandonada e depois de quase um século de negligência dos herdeiros, a fonte de alimentação original da casa foi restaurada apenas em 2006. Atualizada em 2014, elevou a capacidade dos geradores de 12 kW, o suficiente para iluminar todas as 350 lâmpadas da casa.

Cragside, a primeira casa do mundo a ter luz elétrica
Os cilindros originais de energia hidrelétrica na propriedade em Northumberland da época vitoriana | Crédito da foto: North News&Pictures Ltd

O caso de amor de toda a vida de William Armstrong com a água começou quando era muito jovem. Ao pescar um dia no rio Dee, em Dentdale, nos Pennines, ele viu uma roda d’água em ação, fornecendo energia a uma pedreira de mármore. Ocorreu-lhe que apenas uma pequena parte da energia da água estava sendo usada para acionar a roda, o que o fez pensar em quão grande seria a força da água se sua energia pudesse ser concentrada em uma única coluna.

Quando voltou para Newcastle, ele projetou um motor rotativo movido a água, e este foi construído em High Bridge de seu amigo Henry Watson. William desenvolveu posteriormente um motor a pistão em vez de um rotativo, ele ele instalou no que se tornou o primeiro guindaste hidráulico do mundo.

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Os cilindros originais para fornecer energia elétrica que alimenta a casa de William Armstrong | Crédito da foto: North News&Pictures Ltd

William tornou-se um empresário de sucesso na fabricação de guindastes hidráulicos. Recebeu encomendas da Edinburgh and Northern Railways e da Liverpool Docks, bem como de máquinas hidráulicas para portões de docas em Grimsby. Em média, a empresa de William Armstrong produzia cem guindastes por ano. Durante a Guerra da Crimeia, William projetou uma arma de campo leve e móvel com maior alcance e precisão do que qualquer outra de seus concorrentes.

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Ele entregou as patentes de suas invenções em armas ao governo britânico, pelo qual foi condecorado e nomeado engenheiro do Departamento de Guerra. Na década de 1880, sua empresa expandiu-se para a construção naval. Seu estaleiro de construção naval se estendia por 400 metros ao longo de Tyneside, nas margens do rio Tyne e era a única fábrica no mundo capaz de construir um navio de guerra e armar completamente o navio.

Com  o crescimento de suas empresas, ele começou a dedicar-se cada vez mais tempo às suas ocupações favoritas, que além de experimentos elétricos em Craigside, gostava de plantas árvores. William plantou mais de sete milhões de árvores e arbustos em torno de sua propriedade, mudando consideravelmente o clima naquela região de Northumberland.

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Galeria de artes, o primeiro ambiente na mansão a receber iluminação gerando por energia elétrica | Crédito da foto

Com a morte de William Armstrong, seu sobrinho William Watson-Armstrong herdou sua fortuna e também Cragside, porém não tinha a mesma perspicácia comercial de seu tio falecido e uma série de investimentos financeiros levaram à venda grande parte da coleção de arte em 1910 e deixando a casa em total abandono.

Em 1940, Cragside foi tomada pelo exército e alojado como parte do esforço de guerra. Quando finalmente o exército a desocupou a mansão, a propriedade foi repassada a National Trust, entidade filantrópica para preservar e proteger  lugares e espaços históricos da Inglaterra. A casa foi aberta ao pública pela primeira vez em 1979.

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Fontes: 1 2

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