No verão de 1950, o fotógrafo Jack Byrnes embarcou em uma jornada pelos Alpes, em busca de narrativas intrigantes para a revista Life. Por sorte, sua trajetória o levou à pequena cidade de Venzone, na província de Udine, Itália, onde uma descoberta singular aguardava. Ao se aproximar da aldeia, deparou-se com uma cena inusitada: um respeitável senhor italiano compartilhava a mesa com uma múmia, desfrutando calmamente de uma xícara de chá.
Para Byrnes, possuidor de uma mente forte e aberta, essa visão não causou espanto, mas sim uma curiosidade aguçada. Iniciou, então, uma conversa polida com o homem, revelando-se logo que tal espetáculo era comum em Venzone. Eram um total de 42 múmias, pesando entre 10 a 20 quilos.
A história esquecida: Origens das múmias de Venzone
A origem dessa peculiaridade remonta ao século XIV, quando a Peste Negra assolou Venzone, ceifando quase toda a sua população. Diante da magnitude da tragédia e da escassez de recursos, os corpos dos falecidos, numerosos, foram acondicionados em simples caixões e depositados no porão da igreja, onde foram prontamente esquecidos. Somente trezentos anos depois essas relíquias mortais foram trazidas à memória.
Em 1647, quando se decidiu reconstruir a antiga capela da igreja de Santa Maria Assunta, os corpos foram descobertos em seu interior. Para os moradores locais, esse achado foi interpretado como um milagre divino, e as múmias passaram a ser veneradas como relíquias sagradas. Atribuíram-se a esses restos mortais poderes sobrenaturais, e os habitantes da cidade começaram a crer que eram seus antepassados retornados do além para assistir-lhes em momentos difíceis.
Tradições curiosas: A interação com os mortos
Tratavam-nas com reverência, levando-as em passeios periódicos, envolvendo-as em conversas e até mesmo convidando-as para participar das festividades da cidade como ilustres convidados. Embora a Igreja Católica observasse essa prática com desconfiança, Venzone permanecia isolada, raramente visitada por forasteiros, a menos que fosse para a chegada de um novo padre designado.
Enigma científico: Os segredos da mumificação
A origem das múmias de Venzone permanece envolta em mistério. Normalmente, a mumificação ocorre em condições de extremo frio, calor intenso e aridez, ou através do uso de soluções especiais, como sais e álcalis. No entanto, as múmias de Venzone não se enquadram em nenhuma dessas categorias. Os cientistas sugerem que sua preservação peculiar resulta da atividade de microrganismos, com o fungo chamado Hypha tombicina. Em termos simples, esses corpos passaram por um processo de fermentação.
Em 1976, um poderoso terremoto danificou gravemente a capela, causando danos à maioria das múmias. Atualmente, apenas 15 delas permanecem, agora cuidadosamente preservadas em uma sala especial na cripta da Capela de São Miguel. Os dias de passeios, celebrações e festas de chá chegaram ao fim.
As imagens foram colorizadas através da Inteligência Artificial
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