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Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

O Cimitirul Vesel, na Romênia, é um cemitério único e alegre, famoso por seus túmulos coloridos e decorados, refletindo a cultura local e celebrando a vida dos falecidos.
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Na remota e serena vila de Săpânța, situada no condado de Maramureș, próximo à fronteira entre a Romênia e a Ucrânia, destaca-se um cemitério singular que é verdadeiramente único no mundo. Batizado como Cemitério Feliz, ou Cimitirul Vesel em romeno, este local extraordinário abriga mais de 800 lápides adornadas com cruzes de madeira coloridas, apresentando traços quase infantis e pequenos resumos da vida dos falecidos, muitos escritos em versos bem-humorados.

Para os habitantes de Săpânța, esse cemitério vai além da estética, revelando uma perspectiva única sobre a morte e uma disposição até mesmo para brincar com ela.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

Mesmo antes da chegada do cristianismo à Romênia, quase dois mil anos atrás, os habitantes da região já nutriam a crença de que a morte marcava o início de uma nova vida. As lápides, meticulosamente decoradas, narram a vida do falecido, destacando aspectos menos virtuosos com uma sinceridade surpreendente.

Se o falecido era preguiçoso, isso será registrado; se apreciava uma boa bebida, também. Entre as lápides, não é difícil encontrar aquelas que exibem versos bem-humorados, como os dedicados a uma sogra: “Debaixo desta pesada cruz repousa minha querida sogra. Três dias a mais, e eu seria o sepultado aqui. Para quem passa, peço, não a desperte, para que ela não retorne para casa, pois arrancará minha cabeça.

O Cemitério Feliz de Săpânța não apenas celebra a vida daqueles que já partiram, mas também destaca a inconfundível abordagem dos moradores locais diante da finitude, transformando um lugar de repouso em um testemunho vibrante da singularidade e alegria que permeiam a existência, mesmo na face da morte.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

A tradição peculiar do Cemitério Feliz teve seu início em 1935, graças ao carpinteiro da vila, Stan Ioan Patras. Como responsável pela construção das cruzes e lápides de madeira, Patras deixou uma marca indelével na comunidade de Săpânța. Após o período de três dias de luto, os moradores se reuniam no bar local para compartilhar histórias e recordar o falecido. Foi nesse contexto que Stan Ioan Patras começou a transformar essas narrativas em pequenos versos, esculpindo-os habilmente nas lápides.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

Ao longo dos anos, Patras persistiu nesse costume singular até sua morte em 1977, aos 69 anos. Sua dedicação resultou na criação de mais de 800 lápides extraordinárias, cada uma contando uma história única e humorística sobre o falecido. Após o falecimento de Patras, seu aprendiz, Dumitru Pop, assumiu a responsabilidade de dar continuidade a essa tradição única. “É um trabalho que exige o domínio de três artes: a pintura, a escultura e a poesia”, explica o artesão Pop.

Em sintonia com o estilo característico de Patras, Dumitru Pop continua a esculpir de 20 a 30 cruzes por ano, adaptando-se à taxa de mortalidade da vila. Assim, a tradição iniciada por Stan Ioan Patras permanece viva e florescente, preservando não apenas a memória dos falecidos, mas também a herança artística e poética única que enriquece o Cemitério Feliz de Săpânța.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

As cruzes do Cemitério Feliz são habilmente esculpidas em madeira de carvalho, apresentando uma estatura de aproximadamente um metro e meio. Seu design característico incorpora dois feixes pequenos que convergem para cima, formando um telhado pontiagudo.

No centro dessas cruzes, destaca-se o retrato do falecido, cercado por elaborados desenhos geométricos em cores simbólicas. Nesse contexto, o amarelo simboliza a fertilidade, o vermelho expressa paixão, o verde representa a vida, enquanto o preto denota uma morte prematura.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

A escolha das cores está intrinsecamente ligada à vida do falecido. Por exemplo, se o indivíduo era pai de muitas crianças, a cor amarela prevalece na lápide. Muitas cruzes exibem a presença de pombas brancas, simbolizando a alma do falecido, enquanto a presença de um pássaro preto sugere um fim trágico ou indefinido. O fundo das lápides é consistentemente azul, uma cor associada à esperança e liberdade.

Os epitáfios, inscritos nas lápides em uma gíria local, revelam um tom irônico que reflete a aceitação destemida da morte pela comunidade. Cada epitáfio é uma narrativa única, capturando a essência da vida do falecido de maneira perspicaz e, por vezes, humorística. Essa abordagem distinta transforma não apenas o Cemitério Feliz em um local de repouso, mas também em uma galeria de arte ao ar livre, onde as cores, formas e palavras convergem para contar histórias vibrantes de vidas que deixaram uma marca indelével.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

Após a visita e a subsequente reportagem de um jornalista francês sobre o notável trabalho de Stan Ioan Patras, sua fama se expandiu, alcançando proporções ainda maiores. Em 1974, essa notoriedade levou o ditador Nicolae Ceausescu da Romênia e sua esposa a visitarem a pequena vila de Săpânța para testemunhar de perto o trabalho único de Patras.

Os retratos esculpidos pelo artista, incluindo aqueles que representam todo o Comitê do Partido Comunista, agora adornam a modesta oficina de Patras, que foi transformada em um museu.

Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia

Hoje, o Cemitério Feliz é mais do que um local de repouso; tornou-se um museu a céu aberto e uma atração turística de renome, representando também uma valiosa fonte de receita para a comunidade local. Classificado como o monumento funerário mais visitado na Europa e o segundo no mundo, perdendo apenas para o Vale dos Reis no Egito, o cemitério atrai visitantes de todo o globo.

Essa transformação, de um local de memória a um ponto turístico, destaca não apenas a singularidade das lápides, mas também a apreciação crescente pela habilidade artística e pelas histórias envolventes que compõem o Cemitério Feliz.

Encerrando este relato, compartilho um dos versos cativantes que enfeitam uma das lápides do Cemitério Feliz:

“Aqui eu descanso.
Stefan é o meu nome.
Enquanto eu vivia, eu gostava de beber.
Quando a minha mulher me deixou,
eu bebia porque estava triste.
Então bebia mais,
para me deixar feliz.
Eu não era tão mau,
para minha esposa me deixar,
mas porque eu bebia muito com meus amigos.
Eu bebia demais, e agora,
ainda estou com sede.
Então você que vêm
ao meu lugar de descanso,
antes de ir embora,
deixe um pouco de vinho aqui.”

A lápide de Stan Ioan Pătraş (1908–1977), o criador do Cemitério Feliz
A oficina na casa de Stan Ioan Pătraș onde foram criadas as lápides do Cemitério Feliz
Cimitirul Vesel: O cemitério feliz da Romênia
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Dumitru Pop, trabalhando em sua oficina
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Artigo publicado originalmente em março de 2016

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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