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Orfanato Prinkipo: O segundo maior edifício de madeira do mundo

O Orfanato Grego Prinkipo, também reconhecido como Palácio Prinkipo ou Orfanato Grego Büyükada, é um notável e histórico edifício de madeira de seis andares, abrangendo uma área de 20.000 metros quadrados, situado em Manastir Tepesi, Büyükada, uma das nove Ilhas dos Príncipes que adornam a costa de Istambul, na Turquia, sobre as águas do Mar de Mármara.

Essa área de 5 quilômetros quadrados, notavelmente livre de veículos motorizados, abriga diversos tesouros históricos, entre os quais se destacam monumentos de época, igrejas bizantinas majestosas, monastérios centenários e uma mesquita. Além disso, encontramos um intrigante parque de diversões abandonado e a residência que abrigou Leon Trotski no período de 1929 a 1933. As Ilhas Príncipes devem sua denominação à sua antiga função como destinos de exílio para príncipes e nobres caídos em desgraça durante os tempos do Império Bizantino.

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O Orfanato Grego Prinkipo ostenta o título de maior edifício de madeira da Europa, sendo o segundo maior em escala global. Sua história é marcada por seu papel fundamental como abrigo para órfãos entre os anos de 1903 e 1964, conferindo-lhe uma importância singular em sua trajetória.

Em 1898, o renomado arquiteto franco-otomano Alexander Vallaury materializou sua visão ao conceber e construir um suntuoso complexo arquitetônico. Inicialmente destinado a ser um hotel e cassino de luxo, ostentando o nome de Prinkipo Palace, o empreendimento foi encomendado pela prestigiada Compagnie Internationale des Wagons-Lits, a renomada companhia ferroviária europeia responsável pelas operações do lendário Orient Express. A ideia era transformá-lo em um resort cinco estrelas que atendesse aos viajantes europeus que afluíam em grande número a Istambul no auge da Belle Epoque , a “idade de ouro” da civilização européia.

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Contudo, a trajetória do edifício tomou um rumo diferente em 1903, quando o sultão Abdul Hamid II optou por não conceder a licença necessária para seu funcionamento. Nesse ponto, o palacete foi adquirido pela proeminente Eleni Zarifi, esposa de um destacado banqueiro grego. Com uma atitude nobre, Eleni Zarifi doou a propriedade ao Patriarcado Ecumênico de Constantinopla, que então transformou o edifício em um notável orfanato.

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A história do Orfanato Grego Prinkipo testemunhou um marco crucial em 21 de abril de 1964, quando, em meio a intensas tensões relacionadas à questão de Chipre e à perseguição enfrentada pela comunidade grega local por parte das autoridades estatais, o orfanato foi abruptamente encerrado por ordens da Direção Geral de Fundações (Vakif Genel Mudurlugu).

Posteriormente, em 1997, ocorreu a confiscação da propriedade pelo Estado turco. Nesse ínterim, o orfanato desempenhou um papel fundamental na vida de aproximadamente 5.800 órfãos, fornecendo-lhes abrigo e apoio essencial ao longo dos anos.

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Erguendo-se imponente sobre a ilha de Büyükada, o Orfanato Grego Prinkipo é uma obra de rara magnitude, sendo aclamado como o maior edifício de madeira da Europa e o segundo maior do mundo, somente superado pelo grandioso Templo Budista Tōdai-ji. Sua monumentalidade é espelhada em seus 206 quartos meticulosamente dispostos, uma cozinha funcional, uma rica biblioteca, uma escola primária e oficinas habilmente concebidas para aprimoramento vocacional.

Aninhado no cume da majestosa Isa Tepesi, uma montanha que se eleva a 206 metros acima das águas circundantes, este edifício icônico é um tributo à engenhosidade arquitetônica. No entanto, com o passar dos anos, o destino não foi gentil. Após seu fechamento há cinco décadas, o edifício testemunhou um lento declínio até mergulhar em um estado de abandono profundo. O ano de 1980 marcou um ponto trágico em sua história, quando um incêndio devastador deixou cicatrizes indeléveis em sua estrutura.

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Essa notável peça da herança arquitetônica mundial não passou despercebida. Em 2012, o Orfanato Grego Prinkipo foi incorporado à prestigiosa lista do World Monuments Watch, um testemunho de sua importância e um chamado à ação. Hoje, a edificação figura como um “Resgate Necessário” nas considerações da Global Heritage Network, sinalizando a urgência de preservar esse tesouro do passado para as gerações vindouras.

Em 2012, as autoridades turcas, em um gesto apreciado, restituíram o orfanato à comunidade grega. No entanto, essa devolução não ocorreu de modo que preservasse a integridade original da estrutura no momento da sua apreensão. A comunidade grega expressou uma justa preocupação, destacando que a edificação requereria uma quantia substancial de recursos, na casa dos milhões de euros, para ser restaurada à sua antiga glória.

Isso se tornou um desafio considerável, uma vez que a pequena população local de cerca de 2.000 habitantes não dispunha dos meios para atingir essa cifra. Relatórios atestaram que a quantia necessária para a reabilitação total do orfanato se aproximava dos 65 milhões de euros.

Ilha Buyukada
Buyukada, uma das nove ilhas dos Príncipes, onde está instalado o Orfanato Prinkipo, na costa de Istambul

Em 2018, a relevância do Orfanato Grego Prinkipo foi notavelmente reconhecida pela Europa Nostra e pelo Banco Europeu de Investimento. O edifício foi selecionado como um dos 12 patrimônios culturais a figurar na lista dos Sete Patrimônios Culturais Mais Ameaçados.

No mesmo ano, o Patriarca Ecumênico de Constantinopla, Bartolomeu I, fez um apelo ao governo turco em busca de auxílio para a proteção e conservação dessa estrutura emblemática. No entanto, tal pedido surgiu num contexto delicado, caracterizado por crescentes tensões entre Grécia e Turquia, abarcando uma série de questões, incluindo a preservação do patrimônio histórico e cultural de origem bizantina e grega em Istambul.

À medida que o tempo avança, há sinais de esperança no horizonte. Maio de 2023 traz consigo a promessa de um concurso para a restauração da escola, um passo decisivo em direção à salvaguarda dessa joia arquitetônica que carrega consigo uma rica narrativa histórica.

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Uma controvérsia sobre a propriedade do Orfanato Grego Prinkipo emergiu entre a comunidade grega da Turquia e o governo turco, baseada em interpretações contrastantes de documentos históricos. A comunidade grega sustenta que o orfanato é de propriedade do Patriarcado Ecumênico, amparando-se em éditos otomanos que conferiram esse título ao Patriarcado, uma designação que posteriormente foi mantida sob a república turca. Por sua vez, as autoridades turcas mantêm a visão de que a propriedade não pertence ao Patriarcado Ecumênico.

Em uma tentativa de validar sua alegação, o Patriarcado Ecumênico submeteu todos os documentos relevantes para comprovar sua posse ao Supremo Tribunal Administrativo da Turquia em 2003. No entanto, as reclamações do Patriarcado foram refutadas pelo tribunal, que sustentou que a função original do orfanato havia se desvanecido, transformando-se em uma propriedade confiscada. Essa interpretação está alinhada com a legislação turca, que estipula que, se uma fundação permanecer inativa por mais de 10 anos, a Diretoria do Conselho de Fundações tem o direito de expropriar a propriedade.

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Essa divergência alcançou um ponto em que a União Europeia se envolveu, destacando a questão no relatório de progresso da Turquia em relação à sua possível adesão à UE em 2004. O impasse sobre a propriedade do orfanato reflete não apenas a disputa sobre uma propriedade específica, mas também reflete tensões mais amplas relacionadas à herança cultural e religiosa, bem como às leis e regulamentos que regem a propriedade e o uso de edifícios históricos na Turquia.

Em 2005, o Patriarcado Grego iniciou uma luta legal visando recuperar a posse do edifício, levando o caso ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos. Três anos mais tarde, em 2008, o tribunal emitiu uma decisão unânime condenando a apreensão do Orfanato Grego Prinkipo. Em um marco adicional, em 2010, uma outra sentença judicial determinou que a Turquia restituísse o edifício ao Patriarcado Ecumênico em um prazo de três meses, e também ordenou o pagamento de uma indenização no valor de 26.000 euros.

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Em um desdobramento significativo, em 2012, as autoridades turcas efetivamente devolveram o edifício à comunidade grega, marcando um ponto crucial na batalha pela posse. Atualmente, o título legal do Orfanato encontra-se sob a guarda do Patriarcado Ecumênico. O plano delineado pelo atual Patriarca Ortodoxo Grego, Bartolomeu I, sinaliza uma nova direção para o edifício: a transformação em um centro ambiental global.

Esse desfecho não apenas consagra a restauração do direito de posse, mas também promete um futuro rejuvenescido e inspirador para o Orfanato Grego Prinkipo, em consonância com as aspirações do Patriarcado Ecumênico de criar um espaço que seja não somente um elo com o passado, mas também um farol de conscientização e ação em prol do meio ambiente em escala global.

Fontes: 1 2

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Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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