Lugares Histórias

As Sete Maravilhas do Mundo Antigo

Os jardins espetaculares, monumentos deslumbrantes e estátuas colossalmente imponentes formavam a visão de sonho reunida pelo poeta grego Antípatro, originário da cidade de Sídon, na antiga Fenícia (atual Líbano). Ele elaborou uma lista, há mais de 2 mil anos, conhecida como as Sete Maravilhas do Mundo. Esses critérios foram estabelecidos levando em conta a beleza e a grandiosidade das obras de arte e arquitetura que gregos e romanos consideravam como as criações mais fabulosas da Antiguidade.

As Maravilhas são mencionadas o tempo todo, mas poucos conhecem realmente quais eram e onde estavam os sete itens da famosa lista. A mais antiga delas e a única que permanece de pé são as Pirâmides do Egito. Depois delas, havia o Colosso de Rodes, o Farol de Alexandria, a Estátua de Zeus em Olímpia, o Templo de Artemis em Éfeso, o Mausoléu de Halicarnasso e os Jardins Suspensos da Babilônia.

As Sete Maravilhas do Mundo Antigo

Não se sabe ao certo por que a lista parou no sétimo lugar. No entanto, o número 7 parece ter um apelo forte, quase cabalístico (pense nos sete pecados capitais, nos sete dias da semana, nas sete trombetas do apocalipse, nas sete pragas do Egito), e talvez não tenha aceitado mais adições. Alguns tentaram incluir itens que consideravam dignos de entrar na lista, mas sem sucesso. Na Idade Média, por exemplo, houve sugestões de adicionar o Coliseu de Roma e a Arca de Noé como a oitava e nona Maravilhas, porém o número 7 prevaleceu.

Durante o Renascimento, a maioria dessas obras já tinha desaparecido, vítimas de terremotos, incêndios ou guerras. Porém, a partir dos relatos de Antípatro, escritores, pintores e poetas começaram a sonhar (afinal, sonhar ainda é de graça e ainda não foi proibido) com estátuas, mausoléus e jardins magníficos. A fantasia acabou adicionando novos elementos aos contos existentes, transformando essas obras em quase mitos.

Nos anos 90, Martin Price, diretor do departamento de numismática do British Museum em Londres, teve uma ideia incrível. Ao observar as moedas guardadas no museu, percebeu o quão fielmente os gravadores gregos e romanos reproduziam, nas medalhas e moedas, os monumentos da época. Como era comum, uma face das moedas exibia o rosto de uma personalidade ou deus, enquanto a outra mostrava um monumento. Cada evento, cada vitória, era motivo para cunhar novas peças. Price chamou Peter Clayton, ex-diretor das publicações do museu e apaixonado pelas Pirâmides do Egito, e juntos passaram dois anos vasculhando arquivos, gravuras e mosaicos em busca das Maravilhas.

Os pesquisadores rastrearam os primeiros indícios da famosa lista de Maravilhas até Alexandria. Em 240 a.C., um certo Calímaco de Cirene, figura notável da grande biblioteca da cidade, supostamente dedicou um livro a ela. Esse livro, nunca encontrado, teria inspirado o poeta Antípatro a batizar os sete monumentos como “thaumata“, ou seja, coisas para serem admiradas, maravilhas.

O Templo de Artemis, descrito por Plínio com suas “florestas de colunas, escadas de mármore, procissões de peregrinos e cortejos de amazonas”, pôde ser recriado por Price e Clayton graças às moedas. Essa obra, construída pelo rei Creso, da Lídia, de fato impressionava. Quanto ao Colosso de Rodes, ao qual Shakespeare teria feito referência ao dizer que ele “ultrapassava o cume do universo”, descobriu-se que na verdade tinha o tamanho da Estátua da Liberdade, em Nova Iorque. Era alto, sem dúvida, mas ultrapassar o cume do universo era um exagero poético que o grande dramaturgo inglês permitiu-se.

Price e Clayton não conseguiram encontrar evidências tangíveis dos Jardins Suspensos da Babilônia, uma das Maravilhas mais celebradas. Pesquisadores como o alemão Robert Koldwey, no final do século 19, e mais recentemente o inglês Daniel Wiseman, exploraram sítios arqueológicos na Babilônia, no Iraque, encontrando a muralha, vestígios das nove portas, o palácio e um templo, mas dos jardins, nada.

Contudo, se essas Maravilhas fossem apenas criações da fantasia, qual seria o problema? Sobre gostos não se discute. Chegar a um consenso sobre o que é ou não maravilhoso neste mundo não é uma tarefa simples. Desde a lista de Antípatro, várias outras surgiram, enumerando obras, lugares e objetos modernos. Algumas citaram maravilhas da natureza, da engenharia e até mesmo coisas lembradas por personalidades inglesas a pedido da revista Esquire, incluindo a pílula anticoncepcional e Arnold Schwarzenegger.

A escolha do ator austríaco causou surpresa, mas quando se trata de preferências, sempre há uma justificativa. “Ele é como o Colosso de Rodes: grande e feio, mas as mulheres o adoram”, tentou explicar o professor da Universidade de Oxford, Jonathan Barnes. Então, sinta-se à vontade para continuar os sonhos do escriba Calímaco e do poeta Antípatro. Afinal, qual seria a sua lista das Sete Maravilhas?

1º Pirâmides do Egito

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O homem teme o tempo, mas o tempo teme as pirâmides“, apregoa um antigo provérbio árabe, que continua vigente. Situadas na Planície de Gizé, a 15 quilômetros do Cairo, capital do Egito, as pirâmides, construídas entre 2.650 e 1.780 a.C., têm de fato assistido impávidas à passagem dos séculos sem que nada, ao menos até agora, consiga derrubá-las.

Originalmente erguidas como tumbas para os faraós, considerados divindades vivas no antigo Egito, as pirâmides de Quéops (com 146 metros de altura), Quéfren (com 143 metros) e Miquerinos (com 66 metros), juntamente com a Esfinge de Quéfren, que as protege, formavam um vasto cemitério ao longo do Rio Nilo. Havia também cerca de setenta pirâmides menores, atualmente desaparecidas. O propósito dessas grandiosas estruturas era preservar o corpo e a alma dos faraós, expressando seu anseio pela eternidade.

O processo para permitir que os faraós descansassem em paz foi árduo, com milhares de homens trabalhando incansavelmente. A Pirâmide de Quéops, a maior delas, com 521 mil metros cúbicos, envolveu cerca de 100 mil escravos ao longo de vinte anos para sua conclusão, de acordo com relatos do historiador grego Heródoto. Mais de 2 milhões de blocos de granito, pesando cerca de 16 toneladas cada, foram transportados utilizando alavancas, planos inclinados e rolos sob os blocos, que eram puxados por cordas pelos escravos.

O resultado é impressionante: a pirâmide equivale em altura a um prédio de aproximadamente 48 andares, mesmo após perder parte de seu revestimento, o que a reduziu em 9 metros. Seu interior contém várias câmaras, presumivelmente usadas para guardar grandes tesouros, infelizmente saqueados ao longo do tempo. Hoje, esses monumentos continuam recebendo milhares de turistas diariamente e mesmo que seja proibido subir na pirâmide, os arqueólogos estão preocupados com o desgaste e a poluição ambiental.

Os cientistas alertam que essas estruturas podem não resistir aos próximos 200 anos, a menos que medidas de preservação sejam adotadas. A menos, é claro, que o tempo continue a temê-las e elas resistam a sua passagem.

2º Colosso de Rodes

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O Colosso era uma estátua de bronze com 30 metros de altura, representando o deus grego do Sol, Apolo (conhecido como Helios para os romanos). Esculpida em 280 a.C. por Chares de Lindos, em uma das cidades da ilha de Rodes. Ela foi criada para guardar a entrada do porto e celebrar a retirada das tropas do rei macedônio Demétrio Poliorcetes, que havia sitiado a ilha por um longo período.

Alguns relatos mencionam que o metal para a estátua foi obtido fundindo os armamentos deixados para trás pelos macedônios. Semelhante à Estátua da Liberdade, em Nova York, em altura e forma, o Colosso tinha uma tocha em uma das mãos e uma coroa de chamas. Há divergências sobre a posição dos pés de Apolo: alguns afirmam que ambos estavam na mesma base, enquanto outras fontes sugerem que estavam em pilares separados de cada lado do porto, de forma que os navios precisariam passar por baixo.

Apesar de ter entrado para a lista das Maravilhas, o escultor Chares, o principal interessado em tornar a estátua famosa, não ficou satisfeito com as críticas à sua obra. Desanimado com a falta de aprovação do monumento na época, ele acabou se suicidando tempos depois. O Colosso também não teve melhor sorte: um terremoto o derrubou, e durante muito tempo ele permaneceu esquecido até ser resgatado, derretido e trocado por 900 camelos em uma transação entre árabes e comerciantes de sucata judeus.

3º Mausoléu de Halicarnasso

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Mausolo, governador da antiga Cária, cuja capital era Halicarnasso (hoje Bodrum, na Turquia), não se destacou por grandes feitos como líder, mas ganhou fama pelo monumental túmulo que encomendou para si próprio. Com frisos ricamente decorados, retratando cenas de caça e batalhas entre deuses e reis, esculpidos por Escopas, um dos principais artistas gregos do século 4 a.C., o túmulo tinha um formato piramidal e, no topo, uma carruagem puxada por cavalos. A construção começou por volta de 357-353 a.C. e só foi finalizada três anos após a morte de Mausolo. Sua esposa, Artemísia, iniciou a administração do projeto, mas faleceu dois anos depois, sendo então concluído pela filha do casal.

Com cerca de 1.200 metros quadrados de área e 50 metros de altura, o túmulo de Mausolo atraía visitantes de longe, tornando-se tão famoso que o termo “mausoléu” foi adotado para descrever monumentos funerários até os dias de hoje. Registros da época indicam que aproximadamente 30 mil homens trabalharam durante uma década para construí-lo. Infelizmente, um terremoto entre os séculos 11 e 15 causou sua queda, e muitos dos blocos de pedra que compunham a estrutura foram reutilizados em construções posteriores na cidade.

4º Estátua de Zeus

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A estátua colossal de Zeus, criada pelo renomado escultor grego Fídias, tinha entre 12 a 15 metros de altura, equivalente a um prédio de cinco andares. Ela foi concebida para ser a figura central no templo de Zeus, em Olímpia, na Grécia. Fídias deu início à sua obra em 440 a.C., usando uma estrutura de madeira como base, coberta com folhas de metal. As diferentes partes foram elaboradas separadamente e posteriormente montadas, resultando em uma estátua que mal cabia no templo quando concluída.

Na representação, Zeus estava sentado em um trono ornamentado com leões e esfinges. Segurava uma estátua de ouro na mão direita e apoiava a esquerda sobre uma esfera sustentada por uma águia. Sua estatura imponente dava a impressão de que, caso se levantasse, elevaria o teto da construção. O tamanho colossal da estátua fazia com que os observadores apreciassem mais os detalhes do trono, ao alcance dos olhos, do que o próprio deus, imponente e colossal. Detalhes sobre a estátua, como suas medidas e características, foram preservados graças ao historiador grego Pausânias, do século 2 d.C., que a descreveu minuciosamente. Sua fama também foi registrada em moedas de Elis, uma cidade vizinha, perpetuando sua grandiosidade na imaginação e registros históricos.

5º Templo de Artemis em Éfeso

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Quando a sagrada casa de Artemis que se eleva até as nuvens, as outras maravilhas foram postas na sombra, já que nem mesmo o sol viu jamais algo igual em todo o Olimpo“, declarou o poeta Antípatro, autor da lista das Maravilhas, ao ver o Templo de Artemis. Com uma elaborada ornamentação e um tamanho descomunal, o templo da deusa tinha 127 colunas, 36 delas decoradas, e 90 metros de altura, algo duas vezes maior que o Cristo Redentor, no Rio de Janeiro. Ele foi construído em 356 a.C., por ordem do rei Cresa, na cidade de Éfeso, na Ásia Menor.

Artemis, divindade dos bosques e dos animais (conhecida como Diana para os romanos), era representada por uma estátua feita em ébano, ouro, prata e pedras, com múltiplos seios. Infelizmente, o templo enfrentou uma série de infortúnios ao longo de sua história. Foi incendiado no século 3 a.C. por um indivíduo chamado Heróstrato, que buscava notoriedade, levando à sua reconstrução. No entanto, não escapou de mais destruições subsequentes. Novas reconstruções se seguiram, até que os godos o arrasaram em 262 d.C., durante a invasão das províncias romanas na Ásia. Segundo o escritor romano Plínio, a construção do templo original demandou 200 anos de trabalho.

6º Farol de Alexandria

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Criada por Alexandre, o Grande, conquistador macedônio da Índia, Alexandria, no Egito, foi o centro cultural e tecnológico mais importante da sua época. Portanto, não é de se estranhar que uma impressionante obra de engenharia como o farol tenha sido construída ali. Ele foi erguido na ilha que fica bem em frente à cidade, que ficou sendo conhecida como Faros (farol, em grego). Com 134 metros de altura (algo cerca de três vezes maior que o Cristo Redentor), no Rio), o farol foi projetado pelo arquiteto grego Sástrato de Cnidos, por encomenda do rei Ptolomeu II, em 280 a.c.

Avançado, tinha uma chama no alto cuja luz alcançava 65 quilômetros de distância, ampliada provavelmente por algum sistema de refletores. Para levar o combustível da chama até o topo do farol, foi projetado um elevador hidráulico. Até 1217 o farol estava em pé e foi elogiado pelo historiador árabe Ibn Jubayr, que disse que no interior as escadas e corredores eram tão grandes que era fácil perder-se entre suas galerias. Depois dessa data outros relatos dão conta de que a obra teria se deteriorado até ser finalmente destruída por um terremoto no século 14 d.C. Em outubro de 1995, alguns de seus restos foram resgatados do fundo do mar, junto com outros fragmentos e estátuas antigas, por uma equipe de mergulhadores franceses e egípcios.

7º Jardins Suspensos da Babilônia

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Os caminhos estão tomados por aromas, as fontes brilham faiscando ao sol, como estrelas do paraíso nesse jardim de prazer“. Foi assim que Trabo e Philo, de Bizâncio, descreveram os míticos Jardins Suspensos da Babilônia. Fonte de inspiração durante os séculos, eles são o item mais polêmico da lista de Maravilhas, já que nenhuma evidência de que tenham realmente existido foi encontrada até agora. Talvez o poeta Antípatro tenha sido influenciado por uma história escrita no século 3 a.C. que dizia que o rei Nabucodonosor II mandara fazer terraços cultivados em forma de colinas no seu palácio, localizado na margem leste do Rio Eufrates na antiga Mesopotâmia (hoje Iraque).

A obra tinha por objetivo agradar sua mulher, Amitis, uma princesa persa, que estaria inconsolável por estar longe das montanhas de sua terra natal. A lenda, de tão linda, perpetuou-se na voz de vários historiadores e os fantásticos jardins, que até hoje inspiram poemas, músicas e obras, podem não ter solucionado a nostalgia da princesa, mas, se existiram, devem ter servido como prova de amor.

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Magnus Mundi

Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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