Coisas & Cultura

Os guardiões dos mares brasileiros

Os faróis no Brasil são elementos importantes para a navegação marítima, ajudando a orientar navios e embarcações ao longo da extensa costa brasileira e em seus rios navegáveis.

Para nortear os pescadores, antigas aldeias estabeleciam locais fixos para acender fogueiras. Quanto mais alto o lugar, mais longe eram vistos os clarões. Assim, dessa necessidade elementar de sinalização, surgiram os primeiros faróis. Documentos comprovam a existência de pelo menos 200 deles entre os séculos 3 a.C. e 3 d.C., a maioria dentro dos limites do Império Romano.

O primeiro grande farol da História surgiu nessa época, em 3 a.C., na Ilha de Pharos, na baía de Alexandria, nos limites do delta do Rio Nilo, Egito. Sua enorme torre de pedra, com 117 metros, ostentava uma fogueira que podia ser vista a 46 quilômetros de distância, um poder de sinalização raro mesmo hoje.

Considerado uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo, “Pharos de Alexandria”, ou o Farol de Alexandria (do nome da ilha deriva a palavra farol) foi destruído por um terremoto em 1343. Mas ficou para sempre, na memória, como um símbolo desses sinalizadores de caminhos dos mares do mundo. Tão belo e soberano como são, hoje, muitos faróis brasileiros.

Calcanhar
Calcanhar (Touros – RN) | Crédito da foto

Desde os tempos do Farol de Alexandria, os faróis evoluíram com um único objetivo: ser a cada dia mais facilmente identificáveis e constantes. Veio a lanterna, um lugar protegido do vento e da chuva em que a chamja era amplificada por um refletor de prata.

Até que em 1822, o francês Augustin Fresnel projetou o primeiro sistema de prismas, lentes de cristal capazes de concentrar os raios luminosos em fachos ultrapotentes – um conjunto de três bicos de gás acetileno produzia um facho equivalente a 80 mil velas. Foi uma verdadeira revolução. Já a partir de 1850, os faróis brasileiros passaram a contar com esse equipamento, que, naquele tempo, chegava a custar 12 mil dólares – uma fábula para a época.

Usados até hoje, esse sistema é o responsável pela primeira e surpreendente lição que se aprende ao aproximar-se de um farol: ele não pisca. Ao contrário do que parece, sua lâmpada permanece acesa o tempo todo. O efeito de piscar é produzido pelo movimento das lentes em torno da lâmpada. Ao chegar ao ponto de observação, a luz refletida nas lentes provoca a impressão de acender e apagar.

Farol da Barra
Farol de Santo Antônio- Salvador(BA) | Crédito da foto

A “impressão digital” de um farol é portanto o seu conjunto ótico, que pode chegar a medir dois metros de altura, pesar uma tonelada e ter mais de 1.000 prismas de alta qualidade dispostos lado a lado milimetricamente. Para cada sinalizador é feito um projeto único. Cadafarol, assim, tem seu sinal característico composto pela cor, número e intervalo de piscadas. Não existem dois faróis iguais! Dessa forma, é possível saber, do alto-mar, em uma noite escura, exatamente do ponto da costa que aquela luz representa.

Todo esse peso é apoiado em uma bacia de mercúrio. Ela serve para eliminar totalmente o atrito e, assim, girar uma tonelada com apenas um dedo. Para manter as lentes girando sempre com a mesma velocidade, foram construídos sistemas de pesos semelhantes a um relógio cuco. Esse sistema obrigava o faroleiro a dar corda no farol pelo menos duas ou três vezes a cada noite. Hoje, motores fazem esse trabalho.

Farol de Santa Marta
Farol de Santa Marta – Laguna (SC) | Crédito da foto

Aliás, muita coisa mudou. Apesar de as antigas engrenagens e o bico de chama de gás acetíleno serem mantidos, esses mecanismos só são ativados em caso de emergência, na hipótese remota de falhar a lâmpada elétrica ou mesmo o gerador disponível no local.

Alguns faroleiros chegaram ao requinte de instalar circuitos eletrônicos de alerta que avisam em sua casa quando a lâmpada queima ou o motor pára de girar. Tudo isso, no entanto, ofuscou um pouco aquela imagem romântica que cerca o faroleiro. Seu esforço heróico para manter a chama acesa noite adentro foi sufocado pela tecnologia.

Farol da Solidão - Mostardas/RS
Farol da Solidão – Mostardas/RS | Crédito da foto

Para completar o avanço, alguns faróis emitem, também, sinais de rádio. Esses sinais, utilizados também por aviões, possuem um maior alcance (300 milhas) e são imunes a nevoeiros, mas exigem do navegador um radioreceptor. Hoje, muita gente pergunta se é necessário manter aceso sinalizadores para navegação, já que é possível obter a posição exata no globo terrestre apertando apenas um botão em aparelhos de navegação via satélite, como o GPS.

Farol Contas, Bahia
Farol da Ilha de Contas – Bahia | Crédito da foto

Na prática, porém, um comandante de navio, mesmo bem equipado, só fica tranquilo quando vê, com seus próprios olhos, um farol piscando à sua frente, exatemente onde ele sempre esteve ao longo de tantos anos. Acima de qualquer tecnologia, os faróis resistem como símbolos de um certo romantismo náutico. Além de confirmar e calibrar os instrumentos de bordo, o farol ainda é a única luz de segurança para as pequenas embarcações que pontilham nosso oceano.

Segue alguns faróis destaques no Brasil

Moela (Guarujá – SP)

A Ilha de Moela fica em frente às praias do Guarujá, badalado balneário paulista. assinala a entrada do porto de Santos. E, talvez por essa badalação, o farol assumiu algo do ar burguês da cidade. Inaugurado em 1830, o Farol de Moela, por exemplo, é o único no Brasil que tem um barco exclusivo à disposição dos faroleiros e suas famílias, que moram em boas casas e se dão ao luxo de criar cabras, patos e galinhas sob a sombra de árvores frutíferas. O lugar lembra um sítio, montado numa ilha em frente a um dos metros quadrados mais caros do litoral brasileiro, a cerca de 2,5 quilômetros distante do litoral.

Farol de Moela
Farol de Moela | Crédito da foto

No topo da ilha, 100 metros acima do nível do mar, foi construído uma torre circular de alvenaria branca com 9,5 metros de altura. Sua lanterna abrigava um aparelho de luz catóptrico de luz fixa branca. Em 1862, foi instalada uma lanterna maior para acomodar um novo aparelho luminoso. O farol opera desde 1953 com energia elétrica fornecida por motores à diesel.

Farol de Moela
Farol de Moela vista de longe |Crédito da foto

Na Moela foi abolida também a necessidade de transportar barris de óleo morro acima. O combustível chega ao topo da ilha movido por uma bomba hidráulica. Antes da bomba, os faroleiros usavam uma mula para o serviço que se chamava Lampejo. Mas o animal passou a perceber a chegada do barco carregado de tambores e, nesses dias, desaparecia no mato. Daí seu nome: “Fugia do trabalho com uma rapidez incrível“.

Santa Marta (Laguna – SC)

Os fachos de luz lançados por um dos mais importantes faróis do Brasil guiam os navegantes que estão a até 85 quilômetros da costa de Santa Catarina. E dão um aviso: nunca vá ao encontro a Santa Marta se a luz do farol estiver vermelha. Para quem está em alto-mar vindo em direção à perigosa Pedra (ou Parcel) do Campo Bom, a luz emitida pelo farol é vermelha. E a chance, portanto, de encontrar uma laje e naufragar é muito grande.

Farol de Santa Marta
Farol de Santa Marta em Laguna/SC | Crédito da foto

O farol está localizado no cabo de mesmo nome, sua estrutura tem paredes com dois metros de espessura, com uma torre quadrada de 29 metros de altura. Foi projetado pelos franceses Bernard e Turenne e inaugurado em junho de 1891, sendo erguido com pedra, areia, barro e óleo de baleia.

Farol de Santa Marta
Farol de Santa Marta | Crédito da foto

Antigo reduto de surfistas e hippies, a vila de Santa Marta cresceu ao redor do farol, parte do município de Laguna. Há uma cumplicidade entre os faroleiros de Santa Marta e o do Arvoredo, outro famoso farol catarinense, numa ilha mais ao norte do Estado.

Como as frentes frias vêm do sul, há um período de no mínimo três horas até que o mau tempo detectado em Santa Marta atinja o Arvoredo e assim dificulte o embarque e desembarque na ilha. Sempre que isso está para acontecer, um aviso amigo vem pelo rádio. E a debandada de emergência evita que alguém – salvo o faroleiro que mora ali – fique preso na ilha.

Farol de Santa Marta
Vista aérea do Farol de Santa Marta | Crédito da foto

Salinópolis (Salinópolis – PA)

Salinópolis é a cidade de veraneio dos moradores de Belém, com mais de vinte quilômetros de praias perto da foz do Rio Pará. Bem no meio da cidade fica um farol que sinaliza a chegada de barcos pelo mar até a entrada do rio, para depois seguirem viagem até Belém. O que mais chama atenção no farol é sua cor, vermelho-vivo.

E também sua história: inaugurado em 1852 e reconstruído em 1916.  Em 1937, o farol recebeu uma nova torre, que veio desmontada do Farol de Gurupy, distante 150 quilômetros dali. Para montá-la novamente, foi preciso chamar um especialista francês, que teve de apertar 12 mil parafusos de porcas.

Farol de Salinópolis
Farol de Salinópolis – PA | Crédito da foto

O projeto inicial do novo farol trazia a casa do faroleiro suspensa na estrutura da torre de doze metros, que muitos descrevem ter sido projeto por Alexandre Gustave Eiffel, a mesma pessoa que projetou a Torre Eiffel em Paris.

Por motivo de segurança devido a danos tanto no farol (a fumaça da cozinha prejudicava a luminosidade), quanto às famílias de faroleiros (condições precárias de vida, a casa era afetada por infiltrações e quente demais), em 1937, as casas no topo da torre foram desmontadas, e casas de alvenarias foram construídas em terra firme.

Farol de Salinópolis
Farol de Salinópolis – PA | Crédito da foto

A partir daí a cidade começou a crescer em torno do farol. Hoje, Salinópolis é um dos faróis mais cobiçados pelos faroleiros. É possível morar bem e no centro de uma cidade pacata, a poucos passos do trabalho. Os oficiais da Marinha também pensam assim: eles mantêm duas casas mobiliadas no terreno do farol para passar ali férias com suas famílias.

Preguiças (Barreirinhas – MA)

Farol de Preguiça
Farol de Preguiça – Barreirinhas (MA) | Crédito da foto

O mar do Maranhão é famoso por suas águas revoltas. Uma das garantias de uma viagem segura na costa oeste do Estado é o farol Preguiças, às margens do Rio Preguiças, no começo dos Lençóis Maranhenses. Inaugurado em 1909, ele fica no povoado de Atins, perto de Barreirinhas, cidade que vive da pesca e do artesanato de peças de palmeira buriti. Do alto da torre de 40 metros, podem-se avistar dunas, rios e manguezais da região.

Farol de Preguiça
Farol de Preguiça – Barreirinhas (MA) | Crédito da foto

Uma polêmica marcou a história do farol na década de 1990. Suas instalações, que têm energia elétrica, eram abertas aos habitantes do lugar, que usavam o freezer para gelar seus peixes e até a televisão para assistir à novela noturna. Até que o faroleiro na época, resolveu cercar o farol e preservar seu local de trabalho. Quase houve uma guerra – e a solução politicamente correta foi puxar dois fios para servir, pelo menos, à padaria e ao posto telefônico.

Farol de Preguiça
Crédito da foto

Calcanhar (Touros – RN)

É o segundo farol mais alto do Brasil, só perdendo para o Farol do Mucuripe em Fortaleza. Sua torre têm a altura de um prédio de 21 andares (63 metros) e parece fora do contexto natural ao redor: uma planície com dunas, numa praia deserta. É impossível, portanto, passar despercebido ao Farol Calcanhar, mesmo ao mais distraído navegante.

Farol de Calcanhar
Farol de Calcanhar – Touros (RN) | Crédito da foto

Para chegar ali, os faroleiros precisam de buggies para vencer as areias, numa viagem de meia hora desde a cidade de Touros, onde moram, a cerca de 86 quilômetros de Natal, capital do estado do Rio Grande do Norte. Mais cansativa para eles, que encaram para acender o farol, numa escadaria de 298 degraus. Lá em cima, o vento é constante e forte – até abrir a porta da varanda é difícil. Outro diferencial do Calcanhar é seu teto de vidro, o único do Brasil.

Farol de Calcanhar
Farol de Calcanhar – Touros (RN) | Crédito da foto

Com isso, do mar também pode ser visto pelos aviões, já que esse trecho da costa potiguar costuma ser o primeiro ponto avistado por quem cruza o Oceano Atlântico, chamada de “esquina do continente”. O Farol de Calcanhar, uma torre cilíndrica de concreto armado é o quarto maior farol da América Latina, e o oitavo maior do mundo feito em concreto, estando ele incluído na lista dos 26 maiores do mundo.

Barra (Salvador – BA)

O Farol da Barra ou Farol de Santo Antônio está para Salvador assim como o Corcovado está para o Rio de Janeiro. Cartão-postal da cidade, é o segundo farol mais antigo de todo continente americano – construído por ordem de D. Pedro II dentro do Forte de Santo Antônio, foi aceso pela primeira vez em 1698.

Farol da Barra
Farol da Barra, Salvador (BA) | Crédito da foto

Um ano depois, o diário de bordo do corsário inglês William Dampier, célebre por ter saqueado vários lugares do Caribe, já atestava a importância do farol: “A entrada da Baía de Todos os Santos é defendida pelo imponente Forte Santo Antônio, cujos lampiões acesos vimos à noite”.

No século 17, o porto de Salvador era um dos mais movimentados e importantes do continente, e era preciso auxiliar as embarcações que chegavam à Baía de Todos-os-Santos traficando escravos negros ou em busca de pau-brasil e outras madeiras-de-lei, açúcar, algodão, tabaco e outros itens para abastecer o mercado consumidor europeu.

Farol da Barra
Farol da Barra ou Farol de Santo Antônio | Crédito da foto

Ao lado da praia da Barra, no meio da badalação da capital baiana, é um farol urbano – algo que fica claro até mesmo na rotina do faroleiro. Ele chega de ônibus, todo fim de tarde, e acende o farol. E, ao contrário do isolamento comum em outros faróis, ele passa a noite cercado de turistas, barracas e até um trio elétrico no Carnaval.

Ao amanhecer, desliga o farol, pega o primeiro ônibus e vai embora. Os fachos de luz brancos e vermelhos que indicam a entrada do Porto de Salvador são avistados a 60 quilômetros de distância. O sistema de lentes multifacetadas é um dos mais bonitos do Brasil e, também, o que gira mais lentamente. Como, afinal, deveria mesmo ser: bem ao ritmo baiano.

Farol da Barra
Vista do Farol da Barra dentro do forte | Crédito da foto

Abrolhos (Abrolhos – BA)

Quando te aproximares da terra abre os olhos!“, já advertia Américo Vespúcio em 1502 ao se deparar com o arquipélago localizado ao sul da Bahia, que desde então passou a ser conhecido como Abrolhos. Composto de cinco ilhas e vários parcéis, constitui-se num perigo em potencial à navegação.

Farol de Abrolhos
Farol de Abrolhos – Bahia | Crédito da foto

Como fica em um parque nacional marinho, o Farol de Abrolhos é o farol com o maior rigor ao desembarque de vistantes. O turismo é muito controlado: os turistas, dos barcos, lançam olhares de ciúmes para os únicos que podem descer nas ilhas: os faroleiros e suas famílias e técnicos do Ibama. É permitido nadar e mergulhar e até mesmo ficar com a água pelo tornozelo. Mas no arquipélago do sul da Bahia não se pode, absolutamente, pisar na areia.

Farol de Abrolhos
Abrolhos | Crédito da foto

O Farol de Abrolhos, finalizado em 1861, é o único com dois andares de varandas em seus 13,8 metros de torre, um pretexto a mais para gastar algumas horas observando o movimento de aves e, com sorte, avistar as baleias jubarte, que no inverno fogem dos rigores da Antártida para procriar naquelas águas. Está localizado no cimo da Ilha de Santa Bárbara, a maior ilha do arquipélago de Abrolhos, incluído no Parque Nacional Marinho dos Abrolhos.

Farol de Abrolhos
Crédito da foto

Apesar do deslumbramento dos visitantes, a vida ali continua a ser monótona, Cercados pela natureza bruta, os marinheiros, para passar o tempo, se distraem jogando aliado, um curioso jogo de tabuleiro e dados. Eles gritam e batem com força na mesa quando lançam os dados – para eles, uma forma de afastar o tédio ou o medo. É um jogo que respeita uma certa hierarquia: só é praticado pelos faroleiros, nunca pelos oficiais da Marinha.

Ilha Rasa (Rio de Janeiro – RJ)

Em 1808, D.João VI ordenou o acendimento de uma fogueira todas as noites na ilha Rasa, localizada bem na entrada da baía de Guanabara para sinalizar o acesso ao cada vez mais movimentado porto do Rio de Janeiro. No segundo semestre de 1819 foi iniciada a construção do farol, com projeto e supervisão do engenheiro João de Souza Pacheco Leitão. Com 26 metros de altura o farol só foi inaugurado em julho de 1829 porque o aparelho luminoso fabricado na França foi roubado por piratas argentinos durante o transporte.

Farol da Ilha Rasa
Farol da Ilha Rasa | Crédito da foto

A Ilha Rara está a cerca de dez quilômetros da barra da Baía de Guanabara, e o Farol da Ilha Rasa é considerado um modelo no país, cobiçada por faroleiros. Pudera: além de muito bem aparelhado, ele oferece um belo ângulo de toda a orla do Rio de Janeiro. A visão da Cidade Maravilhosa atrai, mas a Ilha Rasa, por si só, tem muitas atrações, com grutas, lajes e costões de grande beleza.

Farol da Ilha Rasa
Crédito da foto

Lá vivem seis famílias, que utilizam o imenso pátio do farol para a captação de água para uma cisterna de 220 mil litros – nunca faltou água ali. Os únicos animais são os cabritos, obrigatórios em todo farol da ilha. É um costume antigo, da época em que as comunicações e o transporte eram precários. Os cabritos servem como uma reserva de suprimentos, no caso de os faroleiros ficarem isolados, sem mantimentos. Fato muito improvável em Ilha Rasa.

Farol da Ilha Rasa
Crédito da foto

Rocas (Atol das Rocas – RN)

Área de migração de aves marinhas, Rocas é um paraíso perdido, formado por duas ilhotas cercadas por piscinas naturais repletas de peixes coloridos. O atol, baixo, de difícil visibilidade, sempre foi um desafio para os navegadores – até o próprio Gonçalo Coelho, o primeiro a chegar ali, em 1503, naufragou. Construído em 1883, o Farol de Rocas hoje é automático. Mas nem sempre foi assim. Há histórias terríveis envolvendo faroleiros locais.

Atol das Rocas
Ruínas do farol no Atol das Rocas | Crédito da foto

Conta-se que a família inteira de um deles morreu de sede depois de sua filha, brincando, deixou aberta a torneira do reservatório de água – não há nenhuma fonte no atol. O último faroleiro que viveu lá, até 1924, várias vezes foi abandonado pelos barcos de mantimentos que vinham do continente. Não morreu por pouco. As ruínas de sua casa dão uma ideia do aspecto maldito do lugar.

Atol das Rocas
Crédito da foto

Farol do Mucuripe (Fortaleza – CE)

Alguns historiadores sustentam que o espanhol Vicente Pinzón já teria estado em fevereiro de 1500 na praia do Mucuripe, se antecipando ao descobrimento “oficial” do Brasil. E foi nessa praia que se construiu o primeiro farol do Ceará, para sinalizar a entrada do porto de Fortaleza, no Ceará.

Farol do Mucuripe
O mais antigo farol de Macuripe | Crédito da foto

O projeto de uma torre octogonal de alvenaria de nove metros de altura foi elaborado por Conrad Jacob de Niemeyer em 1828. O farol, construído por escravos só foi inaugurado em 1846, equipado com um aparelho catóptrico de luz fixa com alcance de 10 milhas. Ele representa uma das mais antigas edificações de Fortaleza. Foi durante muito tempo, referência para as embarcações que navegavam na região, porém, o velho “olho do mar“, como era conhecido, sendo desativado em 1957.

Farol do Mucuripe
O segundo e o terceiro Farol de Macuripe – Fortaleza (CE) | Crédito da foto

Em dezembro de 1958 uma torre de concreto de 22 metros com acabamento com pastilhas em faixas brancas e pretas entrou em operação. Este foi construído a cerca de três quilômetros do antigo, que atualmente é tombado pelo IPHAN e faz parte de Patrimônio Histórico, tendo sido um dos mais belos pontos turísticos da cidade de Fortaleza.

Em 1981, este farol recebeu sua mais significativa reforma a fim de abrigar o Museu do Jangadeiro, atual Museu do Farol, cujo acervo faz referência a Fortaleza Colônia, e o Ceará província do Brasil Império. O museu abrigava peças e acervo sobre os principais momentos e acontecimentos que marcaram a capital cearense: reproduções, desenhos, fotografias, documentos, ilustrações, trechos de romances e relatos de visitantes.

Farol de Macuripe
Crédito da foto

O segundo farol construído em 1958 devido a ter apenas 22 metros de altura, limitava o crescimento vertical nas cercanias e em 2017, foi construído um novo ao lado do antigo e é considerado o maior farol das Américas com seus 71,1 metros de altura e o sexto do mundo. O novo farol tem uma ótima estrutura de concreto armado e elevador para carga, e permitiu um aumento na altura das construções na área.

Farol de Itapuã – Bahia

Na madrugada de 26 de março de 1873, o paquete francês Gambie, com destino a Bordeaux, encalhou no lugar chamado de Pau do Pinho, quatro léguas ao norte de Itapuã, conforme noticiado pelo Correio da Bahia. O navio a vapor foi perdido, mas todos a bordo foram salvos. Esse acidente demonstra como era perigosa a navegação na região e, no ano anterior, as autoridades já haviam decidido pela construção do Farol de Itapuã.

Farol de Itapuã
Crédito da foto

O Farol de Itapuã foi inspirado no projeto do engenheiro americano Alexander Gordon, feito originalmente para o farol de Morant Point na Jamaica, erguido em 1842 com 30,5 metros de altura. Já o Farol de Itapuã inaugurado em setembro de 1873 com 21 metros de altura foi erguido na Pedra Piraboca, na Ponta de Itapuã, com uma torre troncônica metálica sobre uma base de alvenaria.

O alcance do farol é atualmente de 24 quilômetros. Mais tarde foi construído uma ponte que ligasse o quartel ao farol, que permitisse a passagem dos faroleiros, sem perigo, durante as marés cheias. O Farol de Itapuã foi o quinto farol construído na Bahia.

Farol de Itapuã
Farol de Itapuã – Bahia | Crédito da foto

Texto adaptado da Revista Terra, edição 69 de 1998, escrito por Ricardo Siqueira

Outras fontes: 1 2 3

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