A verdade por trás da lenda do rei dos ratos

Em uma manhã fria de janeiro de 2005, no vilarejo de Saru, no sul da Estônia, o fazendeiro Rein Kıiv e seu filho fizeram uma descoberta curiosa. No chão arenoso de seu galpão, eles encontraram um grupo de 16 ratos com suas caudas inexplicavelmente emaranhadas em um nó. Os ratos guinchavam e lutavam para escapar, mas quanto mais puxavam, mais apertado ficava o nó. 

Os animais aparentemente estavam tentando sair de uma toca estreita, mas na luta alguns deles foram enterrados sob a areia. Sete dos ratos no emaranhado já estavam mortos. O filho de Rein decidiu acabar com a cena diabólica e, pegando um pedaço de pau, matou o resto dos animais miseráveis. Rein Kıiv não sabia então, mas o que ele descobriu foi um fenômeno extremamente raro chamado rei dos ratos. Eles foram avistados desde os últimos cinco séculos, com aproximadamente 60 desses avistamentos registrados em livros de história.

Um punhado de espécimes preservados também são mantidos em vários museus. O maior rei dos ratos conhecido, encontrado em 1828 na lareira de um moleiro em Buchheim, consiste em 32 ratos e está preservado no museu Mauritianum em Altenburg, Alemanha. O rei dos ratos de Saru está agora localizado no Museu de História Natural (Zoológico) da Universidade de Tartu, preservado em álcool e exibido aos visitantes. Devido à longa exposição ao ar livre, as caudas dos ratos secaram e o nó se soltou. No entanto, as partes fortemente comprimidas das caudas atestam que o nó já foi muito apertado.

Os reis dos ratos são aparentemente uma aberração da natureza, mas o que exatamente os causa é discutível. De acordo com uma hipótese, um rei dos rato é criado quando os ratos ficam assustados e se agarram nervosamente com suas caudas. Ou quando está frio e os ratos se amontoam como costumam fazer quando dormem, e suas caudas ficam coladas por seiva de árvore, sangue, comida, fezes etc., e o material de ligação congela enquanto os animais dormem. Uma vez que os animais acordam, eles tentam se libertar movendo-se em direções diferentes, fazendo com que suas caudas fiquem emaranhadas em um nó mais apertado.

A explicação tem um toque de verdade, considerando que a maioria dos reis dos ratos foi descoberta em países mais frios durante o inverno. Todos os reis dos ratos estudados até agora também envolvem o rato preto (Rattus rattus), exceto por uma rara descoberta em Java, que nem sequer tem um clima gelado. O professor Andrei Miljutin, da Universidade de Tartu, acredita que os reis dos ratos ocorrem em regiões onde dois fatores coincidem – invernos frios e a presença do rato preto.

“De fato, o rato-preto é mais comum no sul da Europa, mas há invernos amenos lá”, escreveu Andrei Miljutin em um artigo. “Os invernos são rigorosos no norte da Europa e no Canadá, mas não há ratos pretos ou são muito raros. Há um grande número de ratos marrons, Rattus norvegicus, no norte da Europa e na América do Norte, mas eles não criam reis dos ratos. Isso obviamente se deve a suas caudas relativamente mais curtas, mais grossas e menos flexíveis do que em Rattus rattus. “

Andrei Miljutin também acredita que a ocorrência de rei dos ratos é mais frequente do que se supõe. Durante sua pesquisa, Miljutin conseguiu encontrar três exemplos na Estônia, apenas um dos quais foi amplamente divulgado na mídia e apenas porque o localizador tinha um jornalista entre seus parentes. Muitas descobertas nunca saem da comunidade local e permanecem negligenciadas pelos cientistas em geral. Além disso, quem sabe quantos ratos dos ratos permanecem enterrados em túneis e tocas subterrâneas sem serem descobertos?

Os ratos não são os únicos animais que podem se enredar por suas caudas dessa maneira. Em 2013, seis esquilos vivos foram encontrados presos com seiva de pinheiro em um “rei dos esquilos” em Regina, no Canadá. Eles tiveram que ser separados por veterinários.

Maus presságios

Medo e superstições geralmente acompanham os reis dos ratos. Em particular, os reis dos ratos estão associados à praga. Esta é uma conexão um tanto racional, já que os reis dos ratos se formam quando há muitos ratos vivendo juntos em uma área apertada. Com o aumento da população de ratos, haveria também um aumento no risco de surgimento de doenças. Por exemplo, a Peste Negra, embora não causada pelos próprios ratos, foi transmitida aos humanos pelas pulgas que eles carregavam.

Considerando que os reis dos ratos são considerados maus presságios, eles eram frequentemente mortos imediatamente por medo de doenças. Esta parece ser a razão para a falta de espécimes vivos. Ainda assim, existem entre 35 e 50 exemplos preservados de reis dos ratos em vários museus naturais.

Embustes ou Realidade?

Há aqueles que permanecem céticos sobre a ocorrência natural do rei dos ratos, argumentando que se os ratos se enredassem, eles provavelmente roeriam suas caudas ou tentariam se separar para sobreviver. Isso levou à crença de que os reis dos ratos são na verdade fraudes criadas por humanos, semelhante a como alguns comerciantes na Idade Média colavam asas de morcego em lagartos para fazê-los passar por dragões ou como as infames ‘Sereias de Fiji‘ eram feitas costurando o metade superior de um macaco juvenil na cauda de um peixe. Embora o propósito de criar tais fraudes permaneça obscuro, é possível que pelo menos alguns exemplos de ratos reis também caiam nessa categoria.

A lenda do rei dos ratos é fascinante e aterrorizante, enraizada tanto no folclore quanto nas evidências científicas. Enquanto alguns duvidam da possibilidade de ratos se enredarem dessa maneira, espécimes preservados em museus de história natural em todo o mundo provam que isso ocorre. A associação com doenças e maus presságios aumenta o medo e a superstição em torno dessas criaturas, levando à sua morte imediata no passado. Quer sejam um produto da natureza ou invenção humana, o rei dos ratos continua sendo um fenômeno intrigante e misterioso.

Fontes: 1 2

Postagens por esse mundo afora

Leia também:

Ratos salvando vidas

Uma bola de tênis como lar para ratos

Karni Mata, o templo dos ratos na Índia