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Lago Chagan, o lago radioativo criado por explosões nucleares

O Lago Chagan, também conhecido como Balapan, é um reservatório formado após um teste nuclear realizado pela União Soviética em janeiro de 1965, na região do Cazaquistão. O lago é, na verdade, uma cratera resultante da explosão de um dispositivo nuclear de 100 quilotons, implantado no leito seco do rio Chagan.

Durante os dias áureos da Guerra Fria, a extinta União Soviética iniciou uma série de explosões nucleares no nordeste do Cazaquistão. O objetivo era investigar o potencial uso da energia nuclear para propósitos pacíficos na construção civil, tais como movimentação de terra, criação de canais e reservatórios, além de perfuração para extração de petróleo, entre outras aplicações. Estes testes foram conduzidos sob a égide da “Explosões Nucleares para a Economia Nacional“, a versão soviética do programa estadunidense “Operação Plowshare”, ambos buscando fins similares.

Lago Chagan, o lago radioativo criado por explosões nucleares
Crédito da foto

Ao adotar a preocupante ideia dos Estados Unidos, o programa soviético não apenas entrou em vigor, mas acabou ultrapassando significativamente o programa Plowshare dos EUA. Isso se refletiu tanto no número de aplicações exploradas por meio de experimentos de campo quanto na extensão em que essas aplicações foram integradas na indústria.

Enquanto os Estados Unidos conduziram 27 testes antes de reconhecerem as falhas da ideia e encerrarem o programa em 1977, os soviéticos continuaram sua execução até 1989. Durante esse período, realizaram 156 testes nucleares, evidenciando uma extensão e persistência muito além do programa norte-americano.

Lago Chagan, o lago radioativo criado por explosões nucleares
Imagem de satélite do Lago Chagan (a cratera circular) e o reservatório (abaixo).

Um dos testes mais proeminentes foi o realizado em janeiro de 1965 em Chagan, próximo ao local de testes de Semipalatinsk, no Cazaquistão. Este teste tinha como propósito avaliar a viabilidade das explosões nucleares na criação de reservatórios. Ele marcou o primeiro e maior de todos os detonados no âmbito do programa “Explosões Nucleares para a Economia Nacional”.

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Um dispositivo de 100 quilotons (equivalente a 140 quilotons de TNT) foi inserido em um buraco de 178 metros de profundidade no leito seco do rio Chagan, com o objetivo de utilizar a borda da cratera como uma estrutura para represar o rio em períodos de alto fluxo. A explosão resultou na formação de uma cratera de 400 metros de largura, 100 metros de profundidade e uma borda com altura variando entre 20 a 38 metros. Posteriormente, um canal foi criado na cratera para permitir o preenchimento desta, juntamente com o reservatório formado, com água.

O reservatório, informalmente conhecido como Lago Chagan ou Balapan, e localmente como Lago Atômico, ainda existe em sua forma substancial até os dias atuais. Contudo, a água mantém níveis de radioatividade elevados – cerca de 100 vezes além dos limites permitidos de radionuclídeos na água potável.

Apesar disso, os níveis de radiação a uma profundidade de 100-150 metros estavam no nível de fundo. Na época de sua criação, o governo soviético se orgulhava do Lago Chagan, chegando ao ponto de produzir um filme com o Ministro responsável pelo programa de armas nucleares soviético, nadando no lago da cratera. Além disso, a água do lago era usada para alimentar o gado na região.

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Foi estimado que cerca de 20% dos produtos radioativos do teste de Chagan escaparam da zona de explosão e foram detectados no Japão. Isso enfureceu os EUA por violarem as disposições do Tratado de Proibição Limitada de Testes de Outubro de 1963, que bania os testes atmosféricos. Os soviéticos responderam que se tratava de um teste subterrâneo e que a quantidade de detritos radioativos que escaparam para a atmosfera era insignificante. Após várias interações subsequentes, o assunto foi finalmente abandonado.

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Vídeo do teste nuclear que criou o Lago Chagan

Fontes: 1 2

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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