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Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi

Acredita-se que Mullá Nasrudin, também conhecido como Nasreddin Hoca ou Nasreddin Hodja, tenha sido um sábio sufi pertencente aos seljúcidas, um povo nômade turco. Nasceu na aldeia de Hortu em 1208, situada no povoado de Sivrishisr, e faleceu em 1284 na localidade de Akshehir. Sua presença é honrada com um túmulo próximo a Konya, a capital do Sultanato de Rum Seljuk, localizada na Turquia atual.

O termo “Hoca” é um título que expressa o significado de “mestre” na língua turca. Na língua árabe, o equivalente a “mestre” é “mawla”, que é frequentemente transcrito como “mulla” em muitos dos livros ocidentais que apresentam as histórias de Nasrudin. Algumas perspectivas sugerem que Nasreddin Hoca possa ser uma criação imaginária dos habitantes de Anatólia no século 13, um personagem que evoluiu ao longo dos anos para se tornar um ícone do folclore, havendo questionamentos sobre sua existência histórica.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Em Bukhara, Uzberquistão | Crédito da foto

Nasrudin é amplamente reconhecido como um filósofo e sábio populista, deixando um legado marcante por meio de suas histórias hilárias e anedotas. Ele figura em inúmeras narrativas, alternando entre momentos espirituosos e demonstrações de sabedoria, por vezes até encarnando um papel tolo ou tornando-se o objeto da piada. Cada história envolvendo Nasreddin frequentemente carrega consigo um humor subtil e um propósito pedagógico.

É interessante observar que a personalidade multifacetada de Nasreddin é frequentemente refletida em suas histórias, e ele se manifesta como um mestre na arte da sabedoria, tanto quanto um figura folclórica que protagoniza momentos cômicos. A celebração internacional de Nasreddin Hodja ocorre anualmente entre os dias 5 e 10 de julho, na cidade onde ele nasceu, reverenciando sua influência duradoura e oferecendo um tributo à sua rica herança.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Estátua em Eskisehir, Turquia | Crédito da foto

As histórias de Nasreddin têm alcançado uma notoriedade que ultrapassa as fronteiras do Oriente Médio, deixando uma marca profunda nas culturas ao redor do globo. A princípio, muitas das histórias de Nasreddin podem ser apreciadas como piadas ou anedotas humorísticas. Elas continuam a ser transmitidas incessantemente em locais como casas de chá e caravançarás pela Ásia, e também ecoam através das paredes das residências e das ondas do rádio.

No entanto, a essência de uma história de Nasreddin carrega uma riqueza de significados que pode ser interpretada em diversos níveis. As narrativas não se limitam apenas à piada em si, seguida por uma lição moral; frequentemente, há um elemento adicional que desperta uma compreensão mais profunda do potencial místico, proporcionando uma visão ampliada da realização espiritual.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Estátua na Base Aérea dos Estados Unidos em Incirlik, na Turquia | Crédito da foto

Com o passar dos anos, a coleção de histórias de Nasrudin experimentou um notável aumento, à medida que seus relatos transcendiam as fronteiras da Turquia. Essas histórias encontraram terreno fértil em outros territórios, onde foram acolhidas, adaptadas, repetidas e reinventadas, enraizando-se profundamente no folclore regional. Atualmente, o acervo de suas narrativas engloba várias centenas, embora nem todas possuam autenticidade comprovada.

Os Dervixes, em particular, utilizam as histórias de Nasrudin como uma ferramenta de aprendizado e meditação, seguindo uma abordagem similar àquela adotada pelos praticantes do Zen Budismo com os koans. Essas histórias, muitas vezes sutis e cheias de nuances, servem como fonte de reflexão profunda e ganham vida como lições espirituais que transcendem sua aparente simplicidade. Essa prática proporciona um meio envolvente de explorar aspectos da sabedoria e da autorreflexão, permitindo que as histórias de Nasrudin alcancem níveis de significado mais profundos e interiores.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Estátua de Nasrudin em Bruxelas | Crédito da foto

Inúmeros monumentos dedicados a Nasrudin podem ser encontrados tanto na Turquia quanto em diversos locais pela Europa. Grande parte dessas representações o retrata montado de forma incomum sobre um jumento. A história subjacente a essa imagem é a de que, em certo dia, Nasrudin foi visto montando o jumento de maneira peculiar. Quando indagado sobre o motivo, ele respondia com sua característica perspicácia: “Não é que eu esteja sentado ao contrário no burro, é o burro que está seguindo o caminho errado“.

Esse episódio se transformou em um símbolo icônico das histórias de Nasrudin, capturando sua sagacidade e oferecendo um vislumbre do entendimento distinto que ele tinha da vida e das situações cotidianas. Os monumentos perpetuam essa anedota, perpetuando sua lembrança e sua mensagem atemporal que desafia a perspectiva convencional, convidando à reflexão sobre a verdade subjacente às aparências.

Algumas das famosas histórias de Nasrudin:

Um mestre diferente

Nasrudin estava sendo esperado em uma cidade. Praticamente toda a população estava reunida na praça para ver o Mullá falar. Nasrudin olhou para aquelas pessoas e perguntou: – Você sabem sobre o que vou falar hoje? Todos responderam ao mesmo tempo: – Não! – Se vocês não sabem o que vim falar eu me retiro – e foi embora. Tempos depois a população conseguiu que Nasrudin voltasse à cidade para falar.

Mas combinaram que se ele perguntasse novamente já sabiam o que ele ia falar eles dirão que sim. Quando Nasrudin perguntou eles disseram: – Sim! Nasrudin disse então: – Se vocês já sabem eu não preciso falar nada! – e se retirou. Conseguiram que ele voltasse lá mais uma vez para falar. Dessa vez combinaram que metade diria que sim e metade que não. Nasrudin então disse: – Muito bem. Então a metade que sabe conta para a metade que não sabe – e se retirou.

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Estátua em Ankara, Turquia | Crédito da foto

O Tolo que era sábio

Todos os dias o Mullá Nasrudin ia até o mercado público. As pessoas adoravam vê-lo fazendo o papel de tolo, com o seguinte truque: mostravam duas moedas, uma valendo dez vezes mais que a outra. Nasrudin coçava a cabeça e depois de um tempo, sempre escolhia a de menor valor. A história correu pelas cercanias. Todos os dias, algumas pessoas mostravam as duas moedas e todos da pequena multidão em volta riam e faziam pilhérias. Nasrudin sempre ficava com a de menor valor.

Um dia, uma pessoa de aspecto muito sério, cansado de ver Nasrudin sendo ridicularizado daquela maneira, chamou-o a um canto, e disse: – Sempre que lhe oferecerem duas moedas, escolha a de maior maior valor, que sempre é a maior. Assim você bancará o esperto, terá mais dinheiro e os outros não o considerarão um idiota. Nasrudin lhe respondeu: – Você tem razão, mas se eu escolher a moeda maior, as pessoas vão deixar de me oferecer dinheiro, para provar que sou mais idiota que elas. Você não faz ideia de quanto dinheiro já ganhei, aproveitando-me deste truque – e acrescentou: – Não há nada de errado em se passar por tolo, se na verdade o que você está fazendo é inteligente.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Em Bukhara, Uzberquistão | Crédito da foto

Fraqueza dos reis

Certa vez, Nasrudin foi à Corte usando um magnífico turbante. A intenção do Mullá era despertar o desejo do rei e vender-lhe o turbante. E, de acordo com sua expectativa, o rei perguntou: – Nasrudin, quando você pagou por esta maravilha? – Mil moedas de ouro, majestade. O vizir percebeu a esperteza e cochichou ao rei: – Ninguém, além de um idiota, pagaria tanto por um turbante.

O rei, influenciado pelo comentário, disse a Nasrudin: – Por que você pagou tanto? Nunca ouvi falar que alguém tivesse dado essa quantia por um turbante. – Paguei essa fortuna porque sabia que em todo o mundo só um rei compraria esse tipo de coisa. Sensibilizado pelo elogio, o rei decidiu comprar o turbante pelas mil moedas de ouro. Pouco depois, ao se encontrar só com o vizir, Nasrudin lhe disse: – Você pode conhecer o valor de um turbante, mas sou eu quem conhece as fraquezas dos reis.

Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Em Aksehir, Turquia | Crédito da foto
Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Em Bukhara, Uzberquistão | Crédito da foto
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Em Yenisehir, Turquia | Crédito da foto
Mullá Nasrudin, a sabedoria engraçada de um mestre Sufi
Estátua na Base Aérea dos Estados Unidos em Incirlik, na Turquia | Crédito da foto: Aviação Sênior Nicole Sikorski / Força Aérea dos EUA
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