Na região de Gmünd, no estado austríaco de Caríntia, encontra-se a Igreja Dividida (Geteilte Kirche am Kreuzbichl), uma peculiar construção dividida por uma estrada que a atravessa. De um lado, está a capela-mor, enquanto do outro, uma galeria de dois andares permite aos visitantes sentarem-se para ouvir os sermões vindos da capela oposta. Esse arranjo singular é verdadeiramente único no mundo.
O local onde hoje ergue-se essa igreja abrigava inicialmente um santuário à beira da estrada conhecido como “Kreuz am Bichl” (cruz das colinas). Esses santuários, chamados de Marterl, são comuns na Baviera, oferecendo um espaço para viajantes pararem e fazerem suas preces. Especificamente, este Marterl ficava na rota de Veneza a Salzburgo, uma via comercial crucial na época, onde Gmünd se destacava como uma parada popular ao longo do trajeto. Além disso, a cidade marcava o início da perigosa jornada pelas passagens montanhosas.
Anton Fritz, membro do conselho da associação da cidade de Gmünd, sugere: “O santuário à beira do caminho possivelmente servia para invocar bênçãos durante a jornada ou expressar gratidão por uma viagem bem-sucedida no retorno.“
Na história do santuário, há mais do que apenas sua função inicial. O local marcava o limite do Gmündner Burgfrieden. Mais tarde, quando a rota passou a ser usada para levar pessoas condenadas à forca, elas faziam uma breve parada no santuário para suas últimas preces.
Em 1748, o santuário foi convertido em uma capela com uma abside e uma escada dupla na fachada. O púlpito fica elevado cerca de dois metros acima do nível da rua, aberto para a rua por um amplo arco redondo e protegido por uma grade de ferro forjado. Inicialmente, os adoradores se reuniam do lado de fora, na rua em frente à igreja.
Mais tarde, um pastor, sensibilizado pela situação dos peregrinos que muitas vezes enfrentavam chuva enquanto participavam dos serviços, mandou construir uma estrutura de dois andares do outro lado da estrada. Essa edificação possui duas salas equipadas com cadeiras e bancos, também abertas para a estrada, mas protegidas por portões de ferro forjado.
Os serviços religiosos agora ocorrem em dois edifícios distintos: o padre em um, os fiéis no outro. Se um veículo passa pela igreja durante o culto, o padre interrompe brevemente seu sermão. Atualmente, a estrada é de uso privado, então o tráfego é escasso durante os serviços.
Além da peculiar divisão da igreja, há um destaque especial: o afresco original do santuário foi baseado num desenho de Michelangelo. O pintor italiano presenteou um de seus viajantes, Orciel dela Volterra, com o esboço, e este o trouxe para Gmünd, transformando-o em um afresco na galeria de imagens. No entanto, em 1861, o pintor austríaco Josef Messner tentou restaurá-lo, pintando-o novamente a óleo. Desde então, o afresco passou por várias intervenções ao longo do tempo.
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