Histórias

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir

No final da Segunda Guerra Mundial, o exército britânico tinha um enorme excedente de munições e explosivos, que eles precisavam se livrar de qualquer jeito. Sugeriu-se que o excesso de munição poderia ser utilizado para experiências sísmicas através da criação de explosões controladas para gerar ondas sísmicas com intensidade comparável aos produzidos por pequenos sismos.

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
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Só que era impraticável realizar essas experiências dentro da Inglaterra e lugares do tamanho das explosões planejadas eram escassos e os poucos lugares disponíveis causaria dano às propriedades próximas. Então, a procura foi concentrada no território da Alemanha.

A maior guerra da história humana com a Alemanha tinha terminado e o território alemão sendo disputado entre os aliados e os soviéticos e algumas situações dentro do território alemão poderiam ser feitas sem que ninguém desse importância uma vez que o governo alemão tinha se dissolvido. Em julho de 1946, um depósito de munição perto da cidade de Soltau, no norte da Alemanha, foi explodido produzindo ondas sísmicas que foram observados a distâncias de até 50 quilômetros.

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Mas os britânicos precisavam de algo maior. Então, eles começaram a se preparar para a mais poderosa explosão não-nuclear do mundo, o que eventualmente veio a ser conhecido como “Big Bang ou British Bang”, algo com “Estrondo Britânico“. O alvo: um pequeno arquipélago ao largo da costa alemã chamado Heligolândia (em inglês Heligoland).

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
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Heligolândia é um pequeno arquipélago localizado a cerca de 46 quilômetros ao largo da costa alemã no Mar do Norte. É composto por duas ilhas – a primeira de nome Hauptinsel, com uma área de aproximadamente um quilômetro quadrado, tendo um pequeno povoado com uma praça central, e a segunda, uma ilha desabitada menor ao lado chamada Düne com uma pequena pista de pouso no centro.

A ilha principal é comumente dividida em Unterland (terras baixa), que fica ao nível do mar, Oberland (terras alta), que consiste no planalto e Mitterland (terra do meio), que surgiu em 1947, como resultado de explosões detonadas pela Marinha Real Britânica.

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Local da ilha principal chamado Anna Longa | Crédito da foto

A baía alemã e a área ao redor da ilha são conhecidas por terem sido habitadas desde os tempos pré-históricos. Ferramentas de sílex foram recuperadas do fundo do mar ao redor de Heligolândia. Na parte conhecida por Oberland, túmulos pré-históricos eram visíveis até o final do século 19, e as escavações mostraram esqueletos e artefatos. Além disso, placas de cobre pré-históricas foram encontradas submersas perto da ilha, e provavelmente foram feitas na parte alta da ilha.

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
A localização da ilha em relação ao mapa da Alemanha

Devido à sua localização estratégica, Heligolândia tem uma longa história militar. Originalmente ocupada por pastores de ovelhas e pescadores, a ilha estava sob o controle dos duques de Schleswig-Holstein em 1402 e tornou-se uma possessão dinamarquesa em 1714. Em 1807, durante as guerras napoleônicas, Heligolândia foi ocupada pela frota britânica e formalmente cedida à Grã-Bretanha em 1814. Em 1890, a ilha foi transferido para a Alemanha em troca de Zanzibar e outros territórios africanos.

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
A explosão (Big Bang) em 18 de abril de 1947

Numa determinada época da história, os civis foram evacuados da ilha, e a mesma se transformou numa importante base naval alemã, com cais, docas e um porto, bem como muitas fortificações subterrâneas e baterias antiaéreas. A região foi o cenário da “Batalha de Heligoland Bight” em 1939, resultado de tentativas de bombardeio britânico em navios da marinha alemães naquela área e a ilha foi freqüentemente bombardeada por aviões britânicos.

Quando a Primeira Guerra Mundial terminou, os ilhéus voltaram para a ilha que se tornou uma popular estância turística para a classe alta europeia. A ilha atraiu artistas e escritores, especialmente da Alemanha e da Áustria.

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Na Segunda Guerra Mundial, houve novamente a evacuação da população, os alemães transformaram a área em uma das maiores bases navais e militares para o abastecimento de sua frota. As construções militares foram concluídas para transformar a ilha em um polígono militar gigante (com uma grande rede de túneis subterrâneos incluídos), e base de operações dos famosos submarinos U-boats.

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Durante a era nazista, vários ataques já haviam sido feitos pela aviação aliada tentando reconquistar as ilhas, e para recuperá-la definitivamente dos alemães, entre 18 e 19 de abril de 1945, mil aeronaves aliadas lançaram cerca de 7.000 bombas nas ilhas. A população se abrigou em abrigos antiaéreos. Os militares alemães sofreram pesadas baixas durante o ataque. Os bombardeios tornaram a ilha insegura e foi totalmente evacuada.

Com a derrota da Alemanha, a ilha tornou-se um alvo simples e excelente para os testes de disparo dos protótipos aeronáuticos da Força Aérea Real (RAF), até os ingleses decidirem quebrar o recorde de tamanho de explosões para a ciência.

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
Ilustração de Heligolândia feita entre 1890 e 1900

Em 18 de abril de 1947, a Marinha Real detonou 6.700 toneladas de explosivos criando uma nuvem de cogumelo negro que subiu 2.000 metros de altura. Pessoas no continente a 60 quilômetros foram avisados ​​para abrirem as janelas para evitar a implosão e a explosão foi registrado na Sicília, há mais de 1000 quilômetros de distância. O “Guinness Book of World Records” lista a explosão de Heligolândia como a maior explosão não-nuclear do mundo e a única na história.

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Ilustração de Heligolândia feita entre 1890 e 1900

A detonação que liberou energia equivalente a um terço do que foi liberada pela bomba atômica de Hiroshima, sacudiu a ilha principal vários quilômetros até sua base e criou uma enorme cratera (Mitterland), mas os britânicos acreditavam que a ilha seria totalmente destruída. A ilha sobreviveu, mas a sua forma física foi alterada para sempre. Sua ponta sul cedeu na enorme cratera que se formou, e atualmente é um importante ponto turístico e econômico das ilhas.

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Vista da base naval antes da explosão | Crédito da foto

A Real Força Aérea continuou a usar a ilha como alvo de bombardeio. Em dezembro de 1950, dois estudantes e um professor da Universidade de Heidelberg, da Alemanha, ocuparam a ilha proibida e ergueram várias bandeiras alemãs e europeias. Eles foram presos pelos britânicos e deportados de volta. O evento deu início a um movimento para devolver as ilhas à Alemanha, que ganhou o apoio do parlamento alemão.

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Mesmo ângulo aéreo da ilha tirado em 2012 | Crédito da foto

Em 1º de março de 1952, Heligolândia foi devolvida ao controle alemão e os antigos habitantes foram autorizados a retomar. As autoridades alemãs retiraram uma quantidade significativa de munição não detonada e reconstruíram as casas antes de permitir que seus cidadãos se instalassem novamente.

Heligolândia voltou a ser uma estância de férias e goza de um estatuto de isenção de impostos e atualmente mais de 500.000 turistas visitam a ilha por ano. Faz parte do distrito de Pinneberg, estado de Eslésvico-Holsácia.

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Farol em Oberland, na ilha principal, tirada em 2007 | Crédito da foto

Como não poderia deixar de ser, há lendas locais que tentam justificar a explosão na ilha pelos ingleses. Um ex-pastor luterano chamado Jürgen Spanuth estava convencido de que Heligolândia, estava localizada sobre a capital dos atlantes (a famosa Atlântida submersa pelo efeito do degelo) e que a grande explosão nada mais era do que uma manobra encoberta do governo inglês para descobrir e pilhar tesouros da civilização perdida.

Heligolândia, a ilha que os ingleses tentaram destruir
Penhascos da ilha principal por volta de 1929-1930

Fonte: 1 2 3

Artigo publicado originalmente em junho de 2015

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Movido por uma curiosidade insaciável, ansiava por um espaço onde pudesse preservar as curiosidades singulares que encontrava em livros e na internet. Dessa busca, surgiu o Magnus Mundi em 2015. Julio Cesar, nascido em Blumenau e residindo em Porto Belo, litoral de Santa Catarina, viu seu desejo de compartilhar maravilhas peculiares tomar forma nesse site.

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